Ação do Greenpeace expõe o governador Geraldo Alckmin durante crise hídrica em São PauloOs níveis dos sistemas de água que abastecem São Paulo aumentaram nos últimos meses e o fato foi comemorado pelo governo. Segundo o boletim diário divulgado pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), o conjunto de represas que leva água para 5,4 milhões de consumidores na capital e região metropolitana está em queda e operando em apenas 19,6%, o que significa que nem mesmo a cota de todo o volume morto foi recuperada. A situação piora ainda mais ao considerar que a estação das chuvas terminou e que os paulistanos terão que administrar a escassez do recurso durante meses sem expectativa de melhora.

Diante deste cenário, nem o governo do estado, comandado por Geraldo Alckmin, e nem a Sabesp mostram disposição para ir à mídia e conscientizar a população sobre a necessidade de economizar água durante o período delicado que se aproxima. “A atuação é pouco transparente. Sabemos que nesse ano a crise está pior e mesmo assim mantém uma posição tímida. Um governo calado que não está respondendo diante da gravidade da situação”, acusa a coordenadora do Greenpeace, Fabiana Alves.

A Sabesp afirma que, desde o início de 2014, a empresa e o governo estadual realizaram campanhas publicitárias em TVs, rádios, internet, jornais, revistas e outras mídias como mobiliário urbano para alertar e orientar para a maior crise hídrica dos últimos 85 anos. “Foram mais de 3 mil inserções de TV, mais de 13 mil de rádio e milhares de publicações em veículos online e impressos, o que permite estimar que cada paulistano foi impactado mais de 40 vezes pelas mensagens de economia de água”, afirma a companhia em nota.

No entanto, mais do que qualquer mensagem sobre a falta do recurso, ficou notória a declaração do então candidato a reeleição Geraldo Alckmin durante as eleições do ano passado, quando o político disse que “não falta água em São Paulo. Não vai faltar água em São Paulo”. Além disso, via assessoria de imprensa, a Sabesp admite que a estratégia atual não contempla o uso de campanhas na TV para orientar a população sobre como enfrentar o período de diminuição de chuvas e provável redução dos índices das represas. A empresa informa que as principais ações em andamento são “Cada Gota Conta”, que consiste na distribuição de três milhões de materiais impressos com informações de economia de água, e a “Guardiões das Águas”, que conta com equipes percorrendo a cidade e entregando folhetos em locais de grande circulação.

Para o Greenpeace, tanto o governo como a Sabesp deveriam estar fazendo mais. “Não estamos vendo isso. O que estamos vendo é que a população está tendo que buscar informações por meio da mídia, tradicional e alternativa, e apenas declarações esporádicas do governo”, diz Fabiana. “Em momentos de crise é importante preparar a população para saber dos riscos. Com essa falta de informação a situação se agrava ainda mais”, acrescenta a ativista da ONG.

A coordenadora do Greenpeace ainda acusa a Sabesp de incoerência ao manter descontos que beneficiam grandes empresas consumidoras de água ao mesmo tempo em que aumenta as tarifas das contas da população, alegando que precisa aumentar a cobrança para equilibrar as contas e investir em infraestrutura. “A rescisão desses contratos, que permite a 537 empresas consumirem mais pagando menos, poderia render R$ 140 milhões para a companhia. Se estão reclamando de dificuldades financeiras, poderiam acabar com esse privilégio. O discurso é incoerente”, enfatiza Alves.

Gestão de imagem

O consultor de marketing político Marco ItenSe para o Greenpeace a atuação do governo é insuficiente no trabalho de informar os cidadãos, para o consultor de marketing político Marco Iten, a estratégia de se afastar da mídia faz sentido a partir do viés da comunicação. “Trata-se de uma gestão de crise. Em momentos como o atual, propagandas servem como fermento para aumentar o problema, pois a publicidade pauta a imprensa e suscita o debate”, explica o especialista. “A partir daí, o gestor é o primeiro alvo. As pessoas começam a perguntar porque não foi feito isso antes, porque ninguém pensou anteriormente”, adiciona.

De acordo com Iten, em uma análise fria de estratégias de comunicação, é normal que os responsáveis prefiram manter certo silêncio e utilizar táticas mais diretas com a população para evitar a mídia. “Propaganda de guerrilha também tem um poder muito forte. O custo de uma campanha na mídia é muito grande e nem sempre a mensagem alcança as pessoas. É uma discussão atual a questão do conhecimento sobre até onde uma campanha em mídias tradicionais atingem realmente os objetivos”, pondera.  “Em ocasiões como a crise hídrica de São Paulo, o departamento de comunicação do governo se torna refém, pois é um problema que se arrasta há anos e envolve outras questões complicadas também, como a densidade populacional da cidade, por exemplo. Fazer qualquer campanha pode gerar um impacto negativo maior do que não fazer”.

O consultor de marketing político evita aprovar ou reprovar a conduta do governo e da Sabesp e encerra lamentando que, para os responsáveis de comunicação, há poucas opções a seguir além das medidas que estão em andamento. “Talvez não seja o ideal para a sociedade, mas para o profissional que está ali é complicado. Provavelmente se fosse eu ou você, faríamos o mesmo. Talvez precisasse até pedir perdão a Deus por não ter utilizado todas as ferramentas possíveis para comunicar à população, mas não há uma saída prática. É um tema que gera apreensão”, diz Iten.

O especialista ainda finaliza explicando que, pela lógica do marketing político, quando a informação é positiva, como a entrega de uma obra importante ou outra medida bem aceita socialmente, a presença nas mídias de massa é um ponto fundamental nas campanhas públicas.