“Estamos em um ponto cego entre a tecnologia linear e local e a tecnologia exponencial e global”, disse John Sprague, CIO da divisão de tecnologia e inovação da Nasa. Talvez esta seja a melhor explicação para tantas reflexões sobre a convivência humana e os avanços tecnológicos até 2050 no festival South x Southwest deste ano. O homem voltou a ser o centro do universo. As grandes questões do nosso tempo foram pontuadas pelos keynotes no SXSW 2018.

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O amor e o relacionamento interpessoal abriram a semana, com Esther Parrel, uma das psicoterapeutas mais renomadas da atualidade. O racismo e a busca da verdadeira identidade foram demonstrados na indignação de Tá-Nehisi Coates, jornalista correspondente do The Atlantic e autor de Black Panther, da Marvel.  Sem meias palavras, ele disse não querer ser chamado de “afro-americano”, mas simplesmente de “negro”. O Chef Jose Andres, eleito pela Revista Times uma das 100 pessoas mais influentes do mundo e Andrew Zimmern, do reality show Cozinha Ogra, trataram da fome e defenderam o alimento como agente transformador.

A “vovozinha”da realidade virtual, Nonny de La Peña, chamou a responsabilidade para a justiça junto as minorias e respeito com as mulheres. Elon Musk deixou a plateia extasiada com o seu sonho de dar uma alternativa de paz a humanidade pondo fim nos limites interplanetários.

Foram muitos os discursos em torno de vulnerabilidades humanas que podem e devem ser amenizadas, sanadas e evitadas pelas novas tecnologias. Pelo festival, muita curiosidade esteve em torno de blockchain, tecnologia que descentraliza o controle de informação, elimina os terceiros e estabelece um protocolo mundial de confiança entre seus participantes. Foram mais de 30 palestras sobre o tema. Joseph Lubin, fundador da Consensz e co-fundador da Ethereum, a mais poderosa rede de dados acessível de qualquer lugar do planeta, chamou a atenção como Jeff Bezos, CEO da Amazon e Marck Zuckerbergh, fundador do Facebook em edições anteriores da SXSW.

Segundo os especialistas, blockchain será uma solução para a descentralização e o progresso da sociedade, muito além da simples aplicação na indústria financeira, onde até o momento vem sendo mais utilizada. Saúde, direitos civis, governança, criptomoedas, segurança alimentar, negócios e até esportes, dentre tantos temas, serão revolucionados por esta atuação global, em rede e autogerida. Os robôs e assistentes virtuais como parte do cotidiano também marcaram presença, com destaque para o Google Assistant, com demonstrações de funcionalidades em casas inteligentes, telefonia e impressão. Ye-Jeong Kim, designer de usabilidade do Google, vem trabalhando para que a informação chegue objetiva, em uma linguagem natural e personalizada a partir de comandos de voz. Neste sentido, o celular vira tão simplesmente um hub de funções, o controle remoto de todos os nossos “robôs”.

Carley Knobloch, influenciadora e celebridade americana especialista em tecnologia para facilitar o dia a dia, declarou que já tem mais de 50 utensílios em sua casa conectados em uma única plataforma inteligente via celular, de onde ela resolve tudo, estando em casa ou na rua. Assim como o carro autodirigível, o maior problema em relação aos robôs serão seus “donos”.

Robôs

Hoje já existem muitas constatações de que os robôs em atividade vem sendo maltratados ou podem estar a serviço até de atos hediondos como o estupro. Rohit Thawani, diretor de estratégias e mídias sociais da TBWA/Chiat Day em Los Angeles, alertou para o fato de que já se faz necessário um “código de conduta e ética” entre humanos e robôs, agora que eles ocuparão cargos nas empresas e mais espaço em nosso dia a dia.

O corriqueiro cafezinho já foi preparado por robôs aqui no trade show da SXSW, no estande da Briggo. O pedido do café pôde ser feito por celular, com programação da hora de entrega. O nome do cliente aparece na tela então é só apertar o botão e o café é entregue quentinho, num esquema de “passa-pratos”. A motivação? Produtividade. Durante o SXSW a média de cafés entregues por hora pelo robô barista foi de de 50 a 200 doses, o que seria impossível para uma equipe humana.

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Longevidade, capacidades biônicas e o biohackeamento metabólico também estiveram na pauta como resultado das novas tecnologias e fator de sobrevivência frente as superbactérias do século 21. Neurociência, saúde e bem-estar se consagraram como temas convergentes e pela primeira vez ganharam espaço próprio na SXSW 2018. Algumas sessões trataram de promover a regulamentação nacional nos Estados Unidos da Cannabis Sativa, do canabidiol e derivados.

Nas próximas edições do festival, wellness & tecnologia se firmará como um novo pilar importante de inovação. Resultado, os filmes de Si-Fi viram realidade. Os homens nunca morrem e os robôs têm sentimentos humanos, convivem lado a lado e, às vezes, sofrem catástrofes e se dizimam mutuamente. No cinema virtual, muitas das produções exibidas só como demo da linguagem trataram desta nova relação tão delicada. O receio de que os robôs sejam mais inteligentes que o homem já foi superado.

Alguns gurus do SXSW se mostraram encantados com as reações inesperadas de seus brinquedos, como atestou Adam Cheyer, ex-Apple, atual Viv Labs, ao constatar que “eles vão se desenvolvendo e alimentando associações próprias”, como um de seus protótipos, que fez uma “dancinha da felicidade” não programada. Inteligência Artificial também foi a categoria vencedora da competição Acellerator. A startup das startups deste ano foi “Swarm Intelligence”, da Unanimous AI, de São Francisco – Califórnia. Basicamente, a ciência por trás dessa tecnologia imita os pássaros e abelhas que, em bandos, ampliam exponencialmente a inteligência, muito mais do que a soma dos indivíduos.

Assim, a tecnologia Swarm, pretende ampliar a Inteligência humana artificialmente, formando enxames de insights em tempo real, o que agilizará astronomicamente a solução de problemas até então sem respostas. Ainda falando do céu, espaço e planetas, os astros orbitaram como nunca na SXSW deste ano. Elon Musk e seus seguidores, pesquisadores da NASA e cientistas de dados mostraram um pouco da janela que está se abrindo para o universo. Hoje já é possível você mesmo mandar um satélite particular para o espaço por apenas oito mil dólares. Os dados espaciais serão compartilhados entre muito mais pessoas e a inteligência de localização dará superpoderes a nós, pobres mortais.

O planeta da vez é Marte mas definitivamente todos os prodígios que falaram aqui não estão com a cabeça na lua. A vida na terra vai passar por um salto como uma bola impulsionada por um trampolim. Por isso a atenção se volta para o humano e como a tecnologia pode minimizar o que nos torna seres “piores” do que somos e empoderar o que temos de melhor. O SXSW 2018 resgatou a importância de resetar nosso mindset antes que venha esta nova disrupção tech. Meio como aconteceu com a bolha da internet, meio como há três séculos atrás, no iluminismo. Só que agora o foco vai além do homem. As luzes estão bem acesas sobre um cosmos infinito.