O  meio rádio continua mantendo sua força como veículo de comunicação, mesmo com o avanço da tecnologia e o desenvolvimento de outras mídias. Foi o que mostrou a pesquisa “Book de Rádio”, realizada pelo Ibope Media em 13 regiões metropolitanas do Brasil que aponta o perfil da audiência, e revelou, entre outras coisas, que o brasileiro passa, em média, três horas e 50 minutos ouvindo rádio.

Ainda de acordo com o estudo, 53% dos ouvintes são mulheres e 47%, homens. “A distribuição da audiência do rádio é muito parecida com a distribuição de homens e mulheres no Brasil. Ou seja: isso é reflexo da quantidade de homens e mulheres”, afirma Melissa Vogel, diretora-executiva multimídia do Ibope Media.

Já em relação às classes sociais, a pesquisa revelou que a maioria dos ouvintes está na classe B, com 46%, enquanto 37% da audiência vem da classe A/B. “E 17% da audiência é proveniente da classe D e E”, afirma Melissa.

Outro ponto levantado no estudo foi em relação ao device: 65% ouvem rádio por meio de aparelhos convencionais, 24% acompanham a programação dentro dos carros e 16% das pessoas ouvem rádio pelo celular. “O rádio é um dos meios de comunicação que sempre foram favoráveis à tecnologia, como os aparelhos de celular”, diz a especialista. “A tendência é que esse número cresça nos próximos anos”, complementa Melissa Vogel.

A análise feita a partir da pesquisa regular de rádio mostra também que o pico de audiência do rádio ocorre entre 10h e 11h e alcança 64% das pessoas nas praças, o que equivale a 37 milhões de pessoas. “Esse pico vem em uma crescente ao longo da manhã e coloca o rádio com um alcance de até 30 milhões de ouvintes no período da tarde”, ressalta Melissa. “Nós temos percebido que o rádio se mantém como um dos principais veículos de comunicação na vida dos brasileiros”, completa.

A prova da afirmação da especialista vem ao encontro da pesquisa do próprio Ibope Media, lançada recentemente, que mostrou que o alcance do rádio (quantidade de pessoas que foram expostas ao meio) nas 13 principais regiões metropolitanas do Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Salvador, Fortaleza, Florianópolis, Goiânia, Campinas e Vitória) atingiu quase 52 milhões de brasileiros – total maior do que a população de países como Espanha, Coreia do Sul, Argentina ou Canadá.

Por meio do “Target Group Index”, outro estudo do Ibope Media, foi possível apontar o que as pessoas escutam no rádio. 70% dos ouvintes consomem qualquer estilo de programação não musical. Os noticiários locais (50%), nacionais (40%) e de trânsito (35%), bem como os programas religiosos (17%) e esportivos ao vivo (14%), estão entre os gêneros mais ouvidos por esse público.

Mudanças

Philippe Degen, diretor de criação da Talent e um dos jurados na categoria Radio no Festival de Cannes deste ano, acredita que o destino do rádio é incorporar outras mídias. “Ele (o rádio) está passando por mudanças, principalmente pela janela do streaming que se abriu”, afirma. “O Spotify, o Pandora e o SoundCloud estão aí para mostrar”, complementa.

A prova disso foi o GP do Radio Lions, que revelou uma nova forma de explorar o meio como um canal viral. “Muro de Berlim”, criado pela Grey de Düsseldorf, mostra que na era digital isso é possível. O projeto tem mais de sete minutos de duração, tempo que o áudio leva para percorrer toda a distância do muro que dividiu a Alemanha em dois países após a 2ª Guerra Mundial.

Cada uma das linhas da onda do SoundCloud foi programada para exibir histórias de pessoas que morreram durante a construção mixadas com entrevistas e discursos de políticos que apregoavam que a muralha seria benéfica para a sociedade alemã. Cada morte tinha áudio de tiros seguidos de sons de pessoas correndo e do sofrimento. Os gráficos de frequência exibidos na tela podem ser clicados permitindo a visualização de imagens.

Anunciantes

Mas se o rádio arranca suspiros pelo poder quase constante de se reinventar, por que ainda existe uma resistência por parte dos anunciantes?

Philippe Degen explica: “O rádio, por ser um veículo mais regional, não tem o glamour que as outras mídias possuem”, diz. “Mas ele nunca saiu do nosso radar, você consegue focar bem o público que você quer”, conclui.

Sobre o futuro do veículo no Brasil, Degen vê que o destino do rádio e do Spotify, por exemplo, poderão se cruzar. “Você vai ter que inserir conteúdo e produto de uma forma que possa seduzir o ouvinte. Talvez não exista mais o spot, e sim a inserção de conteúdo”, complementa.