1Começo mal. Com uma tentativa de trocadilho precária. Misturando o Tipping Point, anunciado anos atrás por Malcolm Gladwell, e os recém-separados Angelina Jolie e Brad Pitt. Foi assim. Depois de juntos por oito anos, Angelina e Brad decidiram comprar uma “pequena” propriedade. Onde viriam a se casar, formalmente, em 2014.

Após sobrevoarem diversas casas no entorno da pequena vila de Brignol no Var, próxima de Aix-En-Provence, a escolha recaiu sobre o Castelo Miraval, uma propriedade na França, com 35 quartos, lago, piscina, campo com pôneis, uma pequena floresta, por 35 milhões de dólares. E com um vinhedo particular. O ano era 2012.

Decidiram incrementar a produção, recorreram a uma consultoria, e, meses depois, uma primeira safra.

No ano seguinte, 2013, a renomada, para muitos, e no mínimo questionável, para outros tantos, revista Wine Spectator disse ter o celebrado casal produzido “o melhor rosé do mundo”.

Assim que o burburinho começou a correr, um barril do vinho foi leiloado por 10 mil euros, e uma garrafa da safra anterior, antes da intervenção do casal, viu seu preço subir de 10 para 21 euros.

Imediatamente a produção do vinho rosé dos demais produtores da região dobrou de preço, e o parceiro do casal, o consultor Marc Perrin, declarou: “Essa distinção, que recompensa o trabalho no longo prazo de Brad e Angelina, prova que um vinho rosé da Provence, elegante e refinado, pode integrar a lista dos melhores do mundo…”.

Como é do conhecimento de todos, o casal acaba de se separar. A propriedade será colocada à venda, agora megavalorizada não só por ter sido o lar das celebridades, mas porque, em seus 600 hectares, segundo a Wine Spectator, supostamente, “se produz o melhor rosé do mundo”.

Era o que faltava para o rosé, finalmente, entrar na moda e ocupar um lugar no pódio. Um novo exemplo do tal de Tipping Point detalhado por Malcom Gladwell em seu livro The Tipping Point – how little things can make a big difference. Em português, editora sextante, O ponto da virada.

A presença e a assinatura do casal no vinho; a matéria, os comentários e a avaliação da Wine Spectator era tudo o que faltava para, finalmente, o rosé decolar. Nos dois últimos anos mais que dobrou seu consumo no Canadá, Reino Unido e Suécia. Dois anos depois, nos Estados Unidos, bateu na casa dos 73 milhões de litros; e 80 milhões em 2016, ano da separação do casal.

Mais ainda, os millennials migram de armas e bagagens para o rosé em detrimento dos tintos e brancos. O que garante longevidade e consistência ao crescimento. Teria a “renomada” revista, que acompanha tão bem o negócio do vinho, se interessado pelo Miraval Rosé Côtes de Provence não fosse a presença do casal de artistas?

Se você acredita que sim, até aceito ou porque você é apaixonado pela Angelina, ou fixado no Brad. Mas, seguramente, não! E ao somar os dois e a avaliação, mais que soprar o vento do sucesso, o furacão do êxito levou o vinho para o topo, assim como todos os demais rosés da região.

O tal do Tipping Point, a pequena coisa que fez toda a diferença. E agora. E após a separação, então, muitos vão querer degustar o vinho de momentos felizes e românticos de um casal que se supunha perfeito e cuja separação entristeceu a todos. “Mais uma garrafa, por favor”.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing