Nas últimas décadas, muitas das grandes corporações já tentaram. E quase todas quebraram a cara. Desde uma campeã em distribuição como a Philip Morris, que foi dona durante anos da Kibon e depois vendeu para a Unilever, até uma Nestlé que vai, volta, gira e permanece no mesmo lugar.

“Brasileiro não gosta de sorvete”... Adora!”, Ou, “o clima no Brasil é adverso aos sorvetes”... Muito pelo contrário... E qual o desafio, qual o maior desafio...?

Que todos os 5.565 municípios do país têm 1,2,3 ou 19 fabricantes artesanais, mais as industriais e locais, muitos no território da informalidade, e aí chega a grande indústria e vê seu negócio de sorvetes, se não derretendo, deixando de corresponder a uma longa distância à expectativa de resultados.

Dentre todas as marcas de sucesso nesse território em nosso país, a grande vencedora foi a Kibon.

Marca que chegou ao Brasil em decorrência da ameaça de guerra entre China e Japão, e fez com que a U.S.Harkson desembarcasse de Xangai no Rio de Janeiro, 1941, e, num dos primeiros fins de semana depois de sua chegada, alcançou a espetacular cifra de três milhões de picolés vendidos.

Já em 1942 circulavam no Rio os primeiros carrinhos amarelos, que gradativamente foram invadindo as principais cidades do Brasil.

Em 1960, é vendida para a General Foods; em 1985, para a Philip Morris; e em 1997, a Unilever compra a empresa por quase US$ 1 bi – US$ 930 milhões.

E de lá para cá, teve bons e maus momentos, de verdade jamais conseguiu realizar os ambiciosos planos que tinha, e agora, finalmente, anuncia estar separando seus negócios de sorvetes, decide juntar, reestruturar, reposicionar e tentar dar um sentido a seu business de sorvetes...

E que no meio do caminho incluiu a aquisição global de uma marca com personalidade exclusiva e específica, quase de nicho, a Ben & Jerry, e a confusão generalizou-se, incluindo embates na Justiça.

A declaração oficial da Unilever revela que a empresa pretende economizar € 800 milhões nos próximos três anos, dentre outras medidas, com a demissão de 7,5 mil empregados em toda a operação, separando a operação de sorvetes de todos os demais negócios da empresa, e, não disseram, mas, mais que evidente, preparando-se para um eventual e provável venda...

Nas justificativas, que não justificam porque a empresa mais que sabia das especificidades do negócio de sorvetes, é que, “O sorvete tem particularidades, como uma logística mais complexa e ação no ponto de venda, dada à necessidade de refrigeração...”

Socorro! É patético, décadas depois, uma empresa da dimensão e competência da Unilever apresentar essa justificativa...

Ou seja, amigos, mais uma grande corporação fracassa no desafiador negócio de sorvetes.

A pergunta que fica, é: quando a Nestlé seguirá o mesmo caminho na totalidade da operação?

A propósito e lembrando, em 2019 a Nestlé vendeu sua divisão de sorvetes nos Estados Unidos...

E no Brasil, hoje integra uma joint venture com a R&R, realizada desde 2016, criando uma nova empresa, a Froneri, presente em 20 países e especializada em sorvetes.

Além das marcas de sorvetes da Nestlé, também cuida das marcas da Mondelez e da Fini.

Ou seja, independentemente dos desafios exclusivos do Brasil, o maior de todos as milhares de fábricas locais, as movimentações de Unilever e Nestlé são mais que conclusivas e definitivas.

O negócio de sorvete precisa ser tocado à parte. Caso contrário... Como o sorvete... Derrete...

Francisco Alberto  Madia de Souza é consultor de marketing
fmadia@madiamm.com.br