Incompetentes e sem noção constituem-se, de longe, na pior praga que qualquer empresa pode ter. Um simples descuido e décadas de trabalho e investimentos são arremessados ao lixo. Não se constroem marcas do dia para a noite. Tem toda uma história a ser construída e convertida em narrativa; uma trajetória a ser percorrida; desafios a serem vencidos e superados; pessoas em diferentes momentos, situações e níveis a serem sensibilizados e seduzidos, e muito, muito mais.

A sensibilidade no se posicionar e converter identidade e propósito num asset inestimável consome energia, tempo e dinheiro em quantidades substanciais. Além, claro, desde a partida, de talento e competência. Mas, mesmo assim, num momento de descuido ou vacilo, durante as férias de fim de ano, ou um plantão qualquer, incompetentes e sem noção no vácuo de um cochilo hasteiam bandeiras de mediocridade e estultice, sem ninguém que os impeça e fuzile, o crime ganha corpo e prospera.

Uma Nivea contrata uma Rihanna, por um monte de milhões de dólares, para comemorar seus 100 anos, e depois ela é despedida com racismo, preconceito e humilhação. Uma Unilever leva quatro décadas para construir a melhor marca feminina de produtos de beleza, literalmente arremessada pela janela e num fim de semana, por um estagiário de plantão que propôs usar Dove para produtos masculinos… E ninguém teve a dignidade de despedi-lo aos berros e com humilhação. Pior ainda, atenderam seu despautério.

Howard Schultz levou uma vida toda
para posicionar a Starbucks, mais que um café de excepcional qualidade, como o terceiro lugar. A casa, o escritório e Starbucks.
O oásis regenerador, o pit stop fundamental na vida asfixiante e devastadora das grandes cidades.

A casa é de muitos e infinitos. Idem o trabalho. Já o terceiro lugar tem um único dono. A Starbucks. E, ponto. E aí, próximo de completar 65 anos, o criador decidiu se aposentar.

Comprou uma das cinco coberturas do The Village, na região do West Village em NYC, onde é vizinho de Michael Kors, Tamara Mellon, Michael C. Hall e David Cone. US$ 40 milhões, no cash. E os incompetentes e sem noção começaram a colocar as manguinhas de fora.

A maior dentre todas as estultices veio do Japão. Onde uma de suas filiais começou a alugar suas máquinas exclusivas para empresas. O gênio que teve a ideia justificou dizendo surpreender os concorrentes, e proporcionar economia de dinheiro e tempo das empresas e de seus colaboradores. Assim, cada xícara de café sairia por menos da metade do preço, os funcionários não precisariam deixar seus lugares de trabalho, e os concorrentes não teriam acesso aos fiéis clientes da Starbucks.

E aí a imprensa cobrou do gênio a razão de tamanha estupidez e a explicação foi: “Starbucks está definitivamente comprometida e dedicada a oferecer a Unique Starbucks Experience em qualquer lugar onde seus consumidores estiverem…”. Não, jamais… Que Merda! Lembra o “Terceiro lugar”…

Acho que não preciso continuar. Grandes e monumentais marcas começaram a morrer em momentos de ignorância e boçalidade como esses… SOS Starbucks! O imbecil foi defenestrado a tempo. Nos tempos de dignidade cometeria haraquiri. Pai nosso, que estais no céu, livrai-nos de incompetentes e sem noção, para todo o sempre, amém.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)

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