Alê Oliveira

Definitivamente, ninguém nasceu para ser infeliz. Temos conversado muito sobre um tempo em que todos tínhamos um prazer imenso de trabalhar nesta nossa fantástica profissão de publicitário. Nossa paixão pela propaganda era tão grande, que, por exemplo, em nossa mais tenra idade, Juvenal Azevedo, Antonio Pires, Osmar Machado, os irmãos Jordão, Ronaldo Barzaghi, eu e outros jovens publicitários, todos já trabalhando em agências como Standard, Doria, Norton, Thompson, McCann, Grant Advertising, Publitec, InterAmericana e outras, nos reuníamos sempre na casa de um ou de outro, ou mesmo no Herny’s Bar, um lugar bem nosso, que tinha na Vila Mariana, para tomar umas e outras, para falar de política, de poesia, de amor, para cantar e até falar de futebol, não havia ódio entre torcidas, mas o ponto alto dessas nossas reuniões era discutir o futuro da propaganda, a profissão que tínhamos escolhido para as nossas vidas.

A propaganda já tinha, para tristeza geral, alguns meliantes cujos nomes prefiro omitir, que já colocavam em risco um futuro, que para nós tinha de ser pautado na ética, na seriedade, na alegria e no comprometimento com profissionalismo em tempo integral.

Modéstia à parte, naquele grupo de jovens, entendíamos que era fundamental, a partir dali, cultivar valores ensinados por grandes mestres como Caio, Castelo, Sherb, Emil Farah, Armando D’Almeida, Sarmento, Euclides, Martensen, Ramos, Wilda e outros. Só assim aprenderíamos a ser os profissionais de uma atividade que tinha como objetivo maior gerar resultados de vendas, criar grandes marcas, incrementar o progresso do país e fomentar alegria e felicidade para todos os que nela já trabalhavam, como nós.

Hoje, após mais de 60 anos, falamos muito sobre perda de relevância, falta de ética, falta de seriedade e sobre a ação deletéria de um canibalismo autofágico que impregnou o comportamento de muitos de nossos empresários, que estão quase dizimando com os nossos valores e com a nossa atividade, como um todo.

E o que é mais duro em tudo isso é que ficamos todos com a impressão de que somos tristes e infelizes por trabalhar em propaganda. Felizmente é só impressão.

Um grande poeta santista, Vicente de Carvalho, falando sobre a perda de felicidade, disse o seguinte: “a felicidade que sonhamos, existe sim, ela está sempre onde a pomos, mas nunca a pomos onde nós estamos…”

Teve outro nosso contemporâneo, Vinicius de Morais, que disse: “é melhor ser alegre que ser triste, a alegria é a melhor coisa que existe…”

Penso que precisamos colocar felicidade onde estivermos, em tudo o que fazemos e também confiar no que dizia Vinicius:” é melhor ser alegre que ser triste…”

Afinal, nós estamos numa das melhores profissões do mundo. É preciso ser muito míope para não entender essa verdade.

Vamos ser felizes?

Humberto Mendes é VP executivo da Fenapro (Federação Nacional das Agências de Propaganda)