Alê Oliveira

Acompanho, atônito, o Governo do Estado de São Paulo encarar protestos contundentes de professores e alunos, insatisfeitos com uma decisão que me parece bastante acertada. O caso é o seguinte: a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo anunciou, no último dia 23 de setembro, uma nova organização da rede estadual de ensino paulista.

A medida vai reorganizar a distribuição dos alunos em unidades que passarão a atender exclusivamente um dos três ciclos de ensino: o primeiro abrange os alunos do 1º ao 5º ano do ensino fundamental; o segundo, dos alunos do 6º ao 9º ano do fundamental; e o terceiro reúne os três anos do ensino médio.

Segundo a Secretaria da Educação, o plano tem como objetivo oferecer uma educação focada na faixa etária do aluno, respeitando a meta de cada ciclo: até 30 alunos, do 1º ao 5º ano do ensino fundamental; até 35 alunos, do 6º ao 9º ano do fundamental; e até 40 alunos, no ensino médio.

O plano estabelece que a redistribuição dos alunos respeite o limite de 1,5 km. A ideia é a de que cada unidade escolar passe a oferecer aulas de apenas um dos ciclos da educação a partir do ano que vem. Até aí, tudo bem, parece algo lógico. Até porque tal medida deverá otimizar recursos do estado e garantir um ambiente mais seguro e adequado aos alunos, todos na mesma faixa etária. O problema, visto sob a ótica de pais e alunos, é que algumas unidades serão fechadas para reorganização da rede.

É claro que os pais e os alunos que terão as escolas que atualmente frequentam fechadas estão chiando. Agora, quando os protestos já estão rolando, com alunos ocupando escolas, professores fazendo passeatas e pais enfurecidos carregando cartazes, o Governo do Estado coloca no ar uma campanha bem-feita, que explica a reorganização de forma clara e didática. Mas esperou a coisa ficar grave, para essa atitude? Será que não houve negligência com a boa comunicação na hora da implementação do plano? Parece que sim.

Apoio-me neste fato para enfatizar a importância da boa comunicação em toda e qualquer atividade humana. Há um monte de estudos demonstando que mais de dois terços dos problemas têm origem numa má comunicação ou na ausência dela. Fico imaginando quantas horas, dias e meses foram gastos nos estudos e no plano de reorganização de escolas que o Governo de São Paulo pretende efetivar. Mas, provavelmente, muito menos tempo e atenção foram dados ao processo de comunicação atrelado a ele. Talvez tenham subestimado a reação popular, mas o fato é que temos aí mais um bom exemplo de uma comunicação deficiente por parte da administração pública.

Tenho participado do júri do Prêmio Colunistas e, no ano passado, tive a honra de ser convidado pelo amigo Fernando Vasconcelos para compor o júri do Colunistas Brasília. Por ser o Distrito Federal, havia, logicamente, muitas inscrições advindas de órgãos públicos.

Na ocasião, fiz questão de ressaltar a boa qualidade de campanhas e peças de comunicação. É perceptível o aumento da importância, e da consequente qualidade, da comunicação no âmbito de organizações públicas.

Porém, a crise, que afeta a todos, fez alguns governos e prefeituras reduzirem drasticamente seu investimento em comunicação. Pode parecer, para alguns, que tal medida é lógica, já que há outras obrigações do poder público que seriam mais importantes. O fato que descrevo acima mostra o quanto essa percepção pode estar equivocada. Quão importante é a boa comunicação para combater a dengue, por exemplo?

Quanto dinheiro pode ser economizado no setor de saúde se a população for convencida a aderir às campanhas de vacinação e àquelas que previnem doenças, em vez de simplesmente curá-las? Por ter a nobre missão de cuidar de pessoas, os governos deveriam encarar a comunicação como uma das atividades mais importantes da sua gestão. Uma boa comunicação proativa evita problemas sérios como este, que o Governo de São Paulo está enfrentando ou o de tantos outros que vivenciamos no dia a dia.

Não sei se tenho entre meus leitores profissionais da área pública, mas arrisco uma recomendação: coloque a comunicação no topo das atividades de maior importância do seu governo e colha os resultados. Porque, como dizia o Velho Guerreiro, “Quem não se comunica, se trumbica”.

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro e VP da Ampro