Na onda de arenas construídas para substituir antigos estádios de futebol Brasil afora, impulsionada pela realização da Copa do Mundo de 2014, o Allianz Parque foi o último a ser inaugurado – o que ocorreu somente em novembro daquele ano, meses após o término do campeonato mundial. Contudo, passados quase três anos, a finalidade multiuso para a qual as arenas também foram concebidas só foi plenamente alcançada pelo Allianz. A começar pelo nome: o Allianz Parque é o único com um acordo de naming rights, que lhe rende R$ 15 milhões por ano.  Possui uma média de público de futebol entre as mais altas do país e os espaços dedicados às outras atividades – de megashows musicais a singelas festas infantis, passando pelos mais diversos eventos corporativos – já receberam mais de três milhões de pessoas nesse curto período de existência.

O sucesso se deve em grande parte à criação da Capital Live, única empresa de gestão de espaços de entretenimento realmente profissional no Brasil. É o que garante Rogério Dezembro, CEO da Capital Live, empresa criada pela WTorre, construtora responsável por erguer o Allianz Parque na mesma área antes ocupada pelo estádio Palestra Itália, da Sociedade Esportiva Palmeiras, um dos clubes mais tradicionais e populares de Brasil e dono da arena – a WTorre tem concessão de uso por 30 anos, menos no futebol. Na entrevista a seguir, Rogério, também torcedor fanático do Palmeiras, conta um pouco da trajetória bem-sucedida do Allianz.

 

O Allianz Parque é, sem dúvida, um raro caso de arena multiuso bem-sucedida no Brasil. Qual é o segredo?

Oferecemos todo tipo de atividade em diferentes configurações. Temos salas para eventos como as de hotéis 5 estrelas, dois auditórios e o anfiteatro. Essa estrutura permite fazer convenções, lançamento de produtos, workshops, seminários, almoços, jantares, coquetéis, praticamente todo tipo de ação corporativa, além de eventos de entretenimento e esportivos. No anfiteatro, onde são realizados os grandes shows, já realizamos megaeventos corporativos para mais de mil pessoas. Também fazemos para 50 pessoas. São mais de 50 diferentes possibilidades e configurações que podemos realizar aqui.

 

O que é mais lucrativo, futebol ou os outros eventos?

Pelo acordo que temos com o clube, 100% da bilheteria do futebol é do Palmeiras.

 

Como surgiu a Capital Live?

A WTorre criou a Capital Live para gerenciar os serviços do Allianz Parque. É algo parecido com o que fazem os grandes grupos hoteleiros, como Mélia, Hyatt e Accor. No início, contratamos a empresa norte-americana AEG, que gerencia diversas arenas nos EUA, para esse serviço, mas eles não entenderam a cultura brasileira e não deu certo. Como todo o bussiness plan foi desenvolvido dentro de casa, nós sabíamos o que deveríamos buscar.  Como fomos descobrir na prática. Então assumimos de vez a operação. A WTorre já tinha feito algo semelhante com o shopping JK Iguatemi (um dos mais luxuosos shoppings de São Paulo). A proposta não era operar o shopping, somente o construir. Então, foi feito o acordo com o grupo Iguatemi, que hoje o administra. A ideia era a mesma com a AEG, só que eles não conheciam o mercado brasileiro e não deram certo, não só aqui, mas no Maracanã, na Arena da Baixada, em Curitiba e na Arena Pernambuco. O projeto deles não deu certo. Foi uma frustração.

 

Aí, vocês tiveram de ir buscar profissionais no mercado para montar a própria empresa?

Sou publicitário de formação, trabalhei 14 anos na Talent, onde cheguei a diretor-geral de atendimento. A WTorre era cliente da Talent e a gente acabou se envolvendo com o projeto da arena. Aí, quando estava montando o time de operação, eu me lembrei das histórias de veteranos da propaganda, como Julio Ribeiro e Alex Periscinoto, de que a publicidade nos anos 1960, quando começou a se profissionalizar, trouxe muita gente de outras áreas, como fotógrafos, designers e arquitetos, que foram contratados para trabalhar em criação publicitária. Aqui, ocorreu um fenômeno semelhante. Como não tínhamos empresas de gestão de espaços de entretenimento, tivemos de partir do zero. Um detalhe, no Brasil, hoje, só tem a Capital Live operando em bases profissionais. As outras arenas estão nas mãos dos clubes, autarquias locais ou até fechadas, como a arena de Brasília. E o Maracanã está naquele imbróglio que ninguém sabe como resolver. Em bases profissionais, só nós. Eu tive de buscar executivos de hotéis, publicitários, na própria WTorre peguei profissionais. Trouxemos gente de empresas promotoras de shows, um rapaz que trabalhava em below the line, uma promotora de teatro, que é a Mariana Monticelli, trouxe o Heraldo Evan, do Grupo Abril. É um time heterogêneo no background profissional, mas que deu certo. Só veio quem acreditou na nossa proposta. É rico trabalhar com eles. Somos como eram os times das agências nos anos 1960 e 1970, quando a indústria da propaganda não era tão consolidada como hoje. Aquele modelo deu certo, o nosso também.

 

Quantos profissionais têm a Capital Live?

São cerca de 32 aqui na arena e cinco no outro escritório.

 

Quantos eventos já foram realizados aqui?

Entre tours pelo estádio (visitas guiadas) e considerando todos os outros são mais de 500 eventos por ano. Desde megashows, ações corporativas até fotos de casamento. Aliás, essa é uma história curiosa. Porque não havíamos planejado isso, mas os torcedores do Palmeiras começar a nos procurar e acabamos disponibilizando esse serviço, assim como as festas infantis. Às vezes, fazemos eventos simultâneos. Certa ocasião, uma turma de alunos norte-americanos de MBA participou de um evento, seguido de almoço aqui mesmo, e depois eles ficaram para assistir a um jogo do Palmeiras.

 

São feitas parcerias, como no show do Justin Bieber com as revistas Caras e Contigo?

Como temos dois profissionais oriundos do Grupo Abril, o contato com essas publicações é direto. E aqui vêm muitos famosos, essa parceria ocorreu também nos shows do Elton John e do James Taylor. A iniciativa vai continuar. Os grandes jogos também atraem muitas celebridades nos camarotes. No show do Andrea Bocelli tinha metade do PIB do Brasil aqui.

 

Como esta relação da WTorre com o Palmeiras?

Hoje, tem outra qualidade de interlocução. O antigo presidente (Paulo Nobre) era uma pessoa difícil, muito personalista, vivíamos na defensiva com ele. Hoje, com o Maurício (Galiote, atual presidente do Palmeiras) a situação é tranquila e temos muito mais possibilidades de fazer coisas.

 

Qual sua formação?

Sou formado em marketing pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing). Antes de trabalhar na Talent, fui cliente, atuando no marketing da Semp Toshiba e da Sansung. 

 

Você é palmeirense?

Desde que me conheço por gente.