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Ontem no SXSW, duas palestras muito distintas falaram sobre o poder e a importância do diálogo. A primeira foi sobre diversidade e a luta de uma mulher à frente de uma organização que busca uma maior inclusão de pessoas LGBTQ no mercado de trabalho do conservador estado do Texas. A segunda, uma demonstração ao vivo de dois robôs japoneses, em um animado bate papo. E mesmo com temas aparentemente tão distantes, o diálogo apareceu como protagonista em ambas.

A primeira palestrante, Jessica Shortall, explicou que, em seu trabalho, ela constantemente lida com pessoas de princípios bem diferentes dos seus e que, para ser capaz de  estabelecer um diálogo produtivo que a ajude a fazer o seu ponto, ela precisa buscar uma base comum que certamente existe com a outra pessoa. Trata-se de um exercício que aproxima os interlocutores e elimina pontos de tensão, que em nada contribuem para a evolução do diálogo. Este, curiosamente, é o método que os robôs japoneses também utilizam em suas discussões.

Eles foram programados a seguir um processo de interpretação do que diz seu interlocutor, humano ou robô, e buscar criar uma rede de nós de consenso através de perguntas sequenciais. Interessante notar que uma das técnicas aplicadas, faz com que o robô repita a colocação do seu interlocutor e o use como uma maneira de acessar a base de conhecimento que ele tem armazenada, buscar pontos comuns e emitir uma resposta. Parece bastante similar a métodos que usamos muitas vezes em diálogos como forma de refletirmos sobre o que foi dito e buscarmos em nossa memória as informações que precisamos para emitir uma opinião e desenvolver nossos argumentos.

 Na exibição dos robôs, depois de passar por discussões sobre qual a melhor comida japonesa, sushi ou ramen, usando argumentos como o que é mais saudável, onde há mais chefes especializados e qual tem mais variações de sabor e sobre qual o melhor lugar dos EUA pra se morar, se a costa leste ou oeste e aí usar argumentos de qualidade de vida, segurança e clima, a mediadora da palestra propõe uma discussão um pouco mais profunda, sobre quais as diferenças entre robôs e humanos.

Começando o debate, ela diz que entende que robôs são feitos de metal e plástico, enquanto humanos de órgãos e tecidos e se surpreende com a sequência de perguntas, seguidas de conclusões por parte dos robôs que, através de um racionamento lógico, demonstram que, mesmo se uma pessoa substitui parte dos seus membros por próteses ou, em um futuro não tão distante, seus órgãos por outros artificiais impressos em 3D, ela continuará sendo considerada humana, por ela mesmo e por outros. 

Conclui que, a composição da matéria não pode, portanto, ser considerada elemento suficientemente diferenciador entre humanos e robôs. De fato, em um mundo onde robôs alimentados por inteligência artificial aprendem rapidamente sobre sentimentos e emoções humanas e onde criam processos de argumentação em uma discussão baseados nas mesmas premissas que as pessoas usam em deus diálogos, as distâncias entre ambos diminuem consideravelmente. E é aí que a contribuição de robôs para a vida das pessoas pode ser mais efetiva, deixando de ser apenas manual e passando a ser cada vez mais intelectual e, porque não dizer, emocional.

André Zimmermann  é empreendedor digital nas empresas NetCos, smartclip, AdGlow, Blasting News e Kiddo