Alê Oliveira

Tenho certeza de que deve estar sendo difícil para você, assim como para mim e para a grande maioria dos brasileiros, acordar todos os dias com uma notícia ruim sobre a situação econômica do país. A recente pesquisa Panorama Global dos Negócios, realizada entre 1 mil diretores financeiros de todo o mundo, dentre eles 194 da América Latina e 55 do Brasil, apontou que os executivos brasileiros são os mais pessimistas do mundo atualmente.

Menos de 37% dos executivos brasileiros se declaram com algum grau de otimismo, contra 60% dos EUA e quase 58% da Europa. Ou seja, nós, brasileiros, que até pouco tempo atrás aparecíamos no topo das pesquisas sobre otimismo, hoje estamos na lanterna. Não é à toa. Afinal, como se manter otimista com um dólar superando a casa dos 4 reais e com a perda da condição de Investment Grade da Standards &Poor’s – e com a Fitch rondando por aqui para uma avaliação?

Como estar otimista sendo liderado pelo exército de Brancaleone que se transformou nosso governo? De fato, é difícil, muito difícil. Mas a gente continua por aqui, tocando nossos negócios nesse tabuleiro de um jogo adverso. E, como dizia um comentarista esportivo: “O jogo é jogado, o lambari é pescado”. E é nesse rio de correnteza perigosa que temos de pescar nosso lambari de cada dia.

Então é preciso que tenhamos serenidade para tocar a vida, apesar de tudo. É bom ver artigos como o do Nizan, publicado na semana passada na Folha de S.Paulo sob título “Eu sou investment grade”, quando ele faz um contraponto ao estado geral da nossa economia, com o recente rebaixamento provocado pela Standard &Poor’s, relacionando diversas instituições – incluindo ele próprio – como “investment grade”.

Ele começa atribuindo à propaganda brasileira o grau de investment grade e aí segue citando uma série de coisas e pessoas brasileiras que podem ser consideradas “investment grade”. A síntese do artigo é: tem muitas coisas boas no Brasil, que continuarão firmes, apesar dos desmandos e da incompetência dos governantes. Não se trata, como o próprio autor do artigo diz, de se adotar uma atitude de Poliana, procurando ver sempre o lado bom das coisas, mas, sim, da constatação de que este nosso país tem valores e peças de resistência que seguram a onda e nos mantêm de pé, apesar de tudo. Vale sempre lembrar as crises que já superamos. Os mais rodados, como eu, já sobreviveram a uma inflação, não de 8% ao mês como a atual, mas de 80% ao mês. Sobrevivemos à maxidesvalorizações da moeda e a um sem-número de trapalhadas governamentais. É claro que alguns ficaram pelo caminho.

As crises cumprem um papel darwiniano de selecionar aqueles com melhor poder de adaptação para superá-las. Que tal voltar o pensamento para o agronegócio brasileiro, que, apesar da queda de preço das commodities, conseguiu aumentar sua rentabilidade – aqui o dólar alto ajuda? Que tal começar a olhar outros mercados visando exportação, aproveitando a desvalorização da nossa moeda?

Que tal pensar no crescimento do turismo doméstico, que passará a atrair brasileiros que planejavam viagens internacionais, que agora ficaram proibitivas? Ou mesmo o turismo inbound, atraindo gringos com moeda forte para cá. Hoje, assim como você, eu acordei, tomei meu café da manhã, dirigi até o trabalho, almocei, vou consumir ao longo do dia, fazer ligações, acessar a internet e jantar. Enfim, a vida continua.

E continuamos a consumir, ainda que de forma mais racional e comedida. Nossas atitudes, muitas vezes, são ditadas muito mais pelo receio do que pela falta de recursos. E o pior é que, se todos receiam, a crise se estabelece, pois os investimentos são adiados e a reação em cadeia é negativa, inevitavelmente. Como diz Nizan em seu brilhante artigo, levantar todos os dias e enfrentar a situação é um ato de coragem. E essa coragem nós já provamos que temos.

Muitos de nós cresceram na porrada, na adversidade. Pois é, amigo, o show tem de continuar. A gente não pode deixar a peteca cair, mesmo que já estejamos equilibrando um monte de bolas no ar. Mesmo que nos sintamos com um nariz de palhaço, fantoches de uma administração governamental trapalhona. Precisamos resistir e reagir rápida e energicamente às investidas que podem colocar em risco a nossa caminhada. O pior é se retrair, esmorecer. O show precisa continuar.

*Superintendente da Fenapro e VP da Ampro