Pensar-se em dezenas, centenas, mil, num mundo que caminha para 10 bilhões de habitantes em 2050, encanta a todos nós tanto quanto ouvirem-se histórias de reis, rainhas, fadas, heróis e deuses. Mas, como nos ensinou o saudoso Joelmir Betting, “na prática a teoria é outra”.

E referenciar-se e tomar como base pequenas e românticas experiências realizadas por comunidades alternativas nos inspira e emociona; mas, para por aí. Há pouco mais de 100 anos revoltava-se com a tal de obsolescência planejada. Reuniões e mais reuniões em busca do produto perfeito, o que não quebra nunca.

O produto perfeito é possível e existe, e está lá numa central de bombeiros na Califórnia, na cidade de Livermore. Uma lâmpada! Foi acesa no ano de 1901, precisou trocar de endereço três vezes – hoje é visitada e admirada na Fire Station 6, 4550 East Ave.

E se você quiser conferir via webcam o endereço é www.centennialbulb.org. Permanece acesa até hoje e assim continuará porque foi construída para durar para sempre. 116 anos…

Mas a conclusão dessas reuniões é que se os produtos não terminassem e não precisassem ser trocados, o mundo literalmente quebraria. Empresas não teriam mais o que produzir uma vez que toda a demanda teria sido atendida. Emprego, então…

Pior ainda, estaria se inibindo ou desconsiderando talvez a mais notável característica do ser humano: a capacidade de inovar. E então, a obsolescência planejada deixou de ser um truque e converteu-se numa necessidade vital, numa benção.

Agora leio em Época Negócios a encantadora história da abadia de Stanbrook, na região norte da Inglaterra. A primeira abadia com telhado verde, água de reuso e energia solar… Na descrição de Soraia Yoshida, um sonho convertendo-se em realidade – quase uma fábula:

“Stanbrook é o primeiro convento totalmente sustentável. Desde 2009, as freiras seguem sua rotina de oração, trabalho e leitura com energia gerada por painéis solares. Os dejetos vão para a fossa séptica e passam por tratamento com plantas e areia para reduzir a carga orgânica no solo. A grama que cobre o telhado ajuda no isolamento térmico e ainda atrai pássaros e insetos…”. Perfeito; encantador!

Os dados da abadia: a antiga instalação, datada de 1838, foi vendida porque não parava em pé devidos aos elevados custos de manutenção; a nova Abadia está numa área construída 35 vezes menor do que a original; tem custo, entre projeto e construção, de US$ 6,1 milhões; e abriga 24 freiras e noviças em 26 celas individuais… Ou seja, tudo lindo e maravilhoso, mas, falando sério, e diante de um mundo de 10 bilhões de habitantes em 2050, contra os atuais 7 bilhões…

24 noviças cabem e sobra descomunal espaço em pouco mais de 26,1 mil metros quadrados de área construída da abadia. Mas, o que fazer-se diante de um mundo que precisa atravessar a longa ponte entre o velho e o novo, entre o fim dos empregos e a construção de uma sociedade compartilhada, e com 3 bilhões de pessoas a mais, que povoarão esse Admirável Mundo Novo abrindo a boca e pedindo comida e todas as demais necessidades básicas e essenciais?

Mas que a história da abadia de Stanbrook é apaixonante disso ninguém tem dúvida e não deixa de se emocionar. Está mais que na hora de o mundo acordar pelo que vem pela frente…

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)