Divulgação/PokerStars e Neil Stoddart

André Akkari é o nome brasileiro mais representativo do poker mundial. Nascido em São Paulo, o jogador trabalhou anteriormente em uma empresa de software especializada na criação de animações em flash para diversos sites corporativos. Foi enquanto trabalhava em um novo projeto que ele descobriu o jogo que logo o levaria a explorar o mundo. Durante o PokerStars European Poker Tour Barcelona de 2019, o profissional bateu um papo com o PROPMARK e falou sobre marketing, marcas, Brasil, eSports, entre outros temas. Confira:

Você vê similaridades entre o poker e o marketing?
Eu estudei marketing, sou formado pela PUC. Mas nunca fui de um departamento de marketing de verdade, nunca trabalhei engajado numa empresa onde o marketing fosse um setor ou um departamento. Sempre usei muito do marketing, do que eu aprendi, para promover os negócios que eu estive envolvido, o poker em geral, mas sempre meio que numa perspectiva minha ou de estudos meus. Coisas que eu peguei. Eu digo isso porque eu não gosto de faltar com respeito com quem é de marketing de verdade. Conheço diretores que são muito bons, muito melhores do que eu.

Quando estudo marketing e vejo grandes caras falando do tema, a espinha dorsal é igual a do poker. O poker é um jogo que você tem que jogar diante da perspectiva de uma outra pessoa. Você tem que pensar o que essa pessoa pensa, o que ela faz, como ela age, qual o padrão dela de comportamento. O marketing é a mesma coisa. Você tem que tentar pensar diante do prisma de outras pessoas. Tentar pensar como as pessoas se comportam, você tem que fazer pesquisa, você tem que buscar informação, tem que ter estatística de pessoas, de ver quais os padrões de comportamento dela e de como você pode manipular essas situações ou pelo menos usar esses dados para ter um melhor resultado, o poker é a mesma coisa.

Como iniciou sua parceria com a PokersStars?

Eu assinei o primeiro contrato com a PokerStars em 2007. Foi há 12 anos. Eles estavam procurando mercados no mundo inteiro para entrar e um deles era o Brasil. Sempre que eles entravam, tinham essa perspectiva de marketing de entrar e pegar um grande embaixador. Uma grande cara, uma pessoa que pudesse falar em prol do poker. Porque em 2007, ele não era uma atividade muito bem vista no Brasil. Quando você falava a palavra poker, as pessoas não tinham o feeling de inteligência, de sagacidade. O Brasil é uma país muito conservador. É maravilhoso em algumas coisas e tosco em outras. O PokerStars foi muito estratégico lá atrás de falar assim: cara, ao invés da gente pôr publicidade sobre o poker e deixar as pessoas terem essa percepção que a gente já sabe que elas vão ter, vamos fazer o combate a essa percepção através de pessoas. Você pode ser contra o poker, mas você tem que ser contra o Akkari agora.

Quase uma ação com influenciadores antes deles existirem como conhecemos?
Exatamente. Eles foram muito inteligentes de criar essa estratégia. Deram bastante treinamentos e dicas, mas fiz muita coisa sozinho, estudei, me informei, fiz relacionamento com muitos caras bons.

Você é um dos donos da equipe de eSports Furia. Como você entrou nesse mercado? Pode falar do sucesso deles no Counter-Strike?
Eu entrei no mercado há três anos. Não tinha nenhuma conexão com eSports, nunca nem joguei videogame, nunca foi minha praia. Sempre gostei de jogar futebol, coisas físicas, mas nunca fui muito bom. Joguei futebol quase profissionalmente, mas sabia que tinha uma barreira que não poderia fisicamente passar. Mas tem um puta lado bom de ser ruim, qualquer vitória é do caralho. Então, nunca estive envolvido com games em geral. Mas daí recebi uma proposta para entrar de sócio na CNB, que é um time de League of Legends. Entrei junto com o Ronaldo, o Fenômeno. E foi legal pra caramba, porque o relacionamento é legal, o Ronaldo é legal, os meninos são legais, então, quando você entra num mercado por essa via, você fica excitado. E daí você começa a procurar mais oportunidades, abrir o coração para ouvir mais pessoas e aí foi onde nasceu a eBrainz, que é a agência que a gente montou de marketing esportivo só voltada para eSports e logo em seguida veio o projeto da Furia.

Então, você é dono de agência?
Sou, mas não trabalho. Sou só investidor. Todos os projetos são bem-sucedidos, mas a Furia foi fora da casa, foi uma parada bizarra, por uma combinação randômica entre capacidades e sorte. Se você tem sorte, mas não tem o talento para executar as coisas certas, não adianta nada, a sorte vai passar e você não vai nem perceber que ela passou. A Furia é uma organização de eSports. Temos o time de Dota, temos o de PUBG, entre outros, temos um complexo de pessoas que estão trabalhando em suas áreas e que estão sujeitas a essa randomicidade. No caso dos meninos do CS-Go, que foi onde a Furia explodiu, os moleques eram fora do comum de bons.

O Jaime Pádua, que é o CEO da Furia, tem uma percepção de escolher pessoas muito boas para games. Mas ele não tinha essa ideia de que ia dar tão certo. E deu. Os moleques começaram a bater em todo mundo, começaram ganhar pra caramba, a trazer coisas para o jogo que as outras equipes não tinham, ser mais agressivo em vários momentos, ser mais estratégico em alguns outros e, cara, acho que no Brasil… Eu amo muito o Brasil, mas o escritório da Furia está em Miami, Boca Raton, agora, minha família está morando lá. Quando você tem as reuniões em Boca Raton com as organizações de eSports ou com as organizações de eventos ou pessoas conectadas ao mundo do eSports americanos, é outra perspectiva. Outra percepção. Eles são de uma inteligência organizacional, uma estratégia de negócio completamente mais focada em médio e longo prazo. Coisas inteligentes que vão gerar resultado no futuro. Quando você tem as mesmas reuniões com os mesmos tipos de pessoas, mas lá no Brasil, são coisas muito mais ansiosas, são muito mais curto prazo… Mas acho que isso é na maioria dos mercados.

Por que acontece isso? É culpa da economia?
É uma mistura de situação com cultura. A cultura do brasileiro é passional. Explosão. Talvez por tudo que a gente já sofreu como povo. Talvez por todas as pilantragens políticas, a corrupção, a economia indo mal… Eu tenho uma paixão pelo Brasil e uma raiva de que por que que as coisas são desse jeito? Por que não poderia ser diferente? Isso causa na gente uma sensação que reflete quando você está fazendo negócio, reflete quando você está torcendo… Quando a gente vai torcer no futebol, por exemplo, parece que é o último jogo da vida de todo mundo e se não ganhar o mundo acabou, não somos países, nem grandes o suficiente e não é assim, né, cara? É uma construção de longo prazo. A gente ataca os nossos ídolos como ninguém ataca, a gente machuca as pessoas como ninguém machuca, é bizarro. Isso reflete nos negócios. Claro que tem no Brasil pessoas fantásticas, monstros. E aí quando tem isso, explode, faz sucesso pra caramba, vira legado.

E o business do mundo poker? Como está hoje? O boom do poker ainda vai acontecer?
Cara, já tivemos ano a ano nos últimos 10 anos essa pergunta repetida e eu sempre falo: vai acontecer, mas todo ano está acontecendo. Eu não sou matemático nem estatístico suficiente para saber o que está acontecendo, eu só sei que não para de crescer, os negócios não param de bombar, as empresas que antes eram deficitárias hoje são lucrativas porque o mercado cresceu, marcas fora do poker estão envolvidas com o jogo hoje.

Acho que está acontecendo o reflexo do que acontece no mundo inteiro. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Flórida virou uma Meca do poker. Tem um monte de jogador profissional se mudando para a Flórida. E quando você olha lá, ano passado não estava assim. Há dois anos não estava assim. No final das contas, a resposta é que o poker é do caralho. E é social, democrático, traz um monte de gente que pode jogar.

Vamos supor que o Tênis fosse da mesma, ia ser um outro esporte. Se eu pudesse jogar com o Roger Federer, por exemplo, seria diferente. ‘Mas você não ganhar nunca do Federer?’. Quem disse que eu quero ganhar? Quero jogar com ele, interagir, posso tomar pau toda bola, mas não estou nem aí. E o poker é um jogo que é muito mais fair. Dá pro Federer ganhar de mim e eu ganhar do Federer. No longo prazo, o Federer não vai ter chance. Mas no curto prazo ele vai ter a sensação de me bater. Isso é incomparável. Se você ganhar dele um ponto no tênis, você vai contar para os seus netos. Mas o tênis não te dá essa chance. É um jogo muito mais coeso em termos de estratégias de curto prazo e de habilidades necessárias pra se fazer acontecer do que o poker. Isso tonar o poker acessível, excitante, você não consegue ficar sem jogar e como ele dá muita chance de curto prazo para todo mundo, todo mundo tem aquela sensação de que está chegando.

Algum recado final?
Eu devo tudo que eu tenho ao marketing. A minha habilidade de jogar, construir carreira… Desde o primeiro momento, sempre tive uma perspectiva marqueteira de fazer as coisas acontecerem. Se eu não tivesse tido essa perspectiva, não sei se só a minha qualidade de jogo teria me trazido onde me trouxe.