Sem dúvida, o argumento ‘pague para não ser interrompido’ pode reforçar a ideia de que a publicidade tem baixo valor agregado

O usuário entra no seu aplicativo preferido. Começa a utilizá-lo e logo aparecem mensagens perguntando se a pessoa realmente quer continuar a ver anúncios. De redes sociais aos streamings, a mesma publicidade que ancora modelos de negócios vira motivo para evitar a interrupção da experiência, e vender pacotes de assinaturas. Quais os limites dessa relação de amor e ódio?

“Sem dúvida, o argumento ‘pague para não ser interrompido’ pode reforçar a ideia de que a publicidade tem baixo valor agregado”, analisa Patrícia Moura, fundadora e CEO da Pride Content, jurada de Entertainment no Cannes Lions 2024, realizado entre os dias 17 e 21 de junho, na França.

O professor de marketing da Trevisan Escola de Negócios, Fernando A. Fleury, concorda. “Certamente, a prática das plataformas digitais de utilizar publicidade como um fator dissuasor para impulsionar a adesão a pacotes pagos é uma estratégia astuta, que carrega implicações significativas sobre a percepção do consumidor em relação à publicidade”, avalia Fleury.

Patrícia Moura, da Pride Content: baixo valor agregado (Flávio Terperman/ Divulgação)

Ao oferecer uma experiência sem interrupções como um benefício premium, as plataformas “estão não apenas monetizando a ausência de anúncios, mas também posicionando a publicidade como um inconveniente, algo que prejudica a experiência”, emenda o especialista.

Segundo Fleury, a publicidade pode passar a ser percebida como um elemento de interrupção, eliminado mediante pagamento. Os anúncios não são vistos como parte da experiência digital, e sim um obstáculo que deve ser removido para que se possa usufruir plenamente do serviço. “A publicidade é implicitamente desvalorizada”, adverte.

A complexidade desse relacionamento exige reinvenção. Uma das alternativas está no desenvolvimento de conteúdo informativo e de entretenimento, capaz de garantir relevância e se integrar aos interesses dos usuários. “Para equilibrar essa balança, as plataformas devem explorar formas inovadoras de publicidade, tornando-a cada vez mais nativa, de forma que se integre de maneira fluida ao conteúdo já consumido”, orienta Patrícia.

Leia a íntegra da matéria na edição do dia 03 de junho