Marcelo Bernardes, sócio e CEO da Purple Cow (Crédito: Divulgação)

O mundo saiu da zona de conforto para se adaptar ao isolamento social causado pela Covid-19. Há mais de 30 dias, profissionais de agências estão em casa buscando ferramentas e ideias para continuar atendendo aos clientes e, assim, entregar ações e campanhas diferenciadas.

Muitos especialistas acreditam que as pessoas e as empresas saíram diferentes depois que a pandemia for superada. Mas será que isso realmente vai acontecer? Para Marcelo Bernardes, sócio e CEO da Purple Cow, a indústria de comunicação sempre foi muito boa em recomendar mudanças e inovação, mas no fundo a grande maioria operava de uma forma tradicional, com pouca inovação no processo. Confira abaixo trechos da entrevista.

Novos tempos

Fomos tirados da zona de conforto e isso é um campo muito fértil para a criatividade. De repente nos vimos em casa, fora do ambiente que estamos acostumados a trabalhar, com novos desafios nas nossas rotinas, e isso fez com que tivéssemos que nos adaptar. Criamos e ajustamos processos para evoluirmos como empresas. A essência da nossa indústria virou um serviço fundamental. Fomos procurados em busca de olhares criativos e inovadores para tentarmos achar saídas para os problemas que os nossos clientes têm vivido. Não apenas de propaganda, mas também de negócio. A capacidade das agências em pensar caminhos diferentes e fazer o impossível em tempo recorde, elevou a relevância enquanto consultores estratégicos para o momento de crise. As pessoas se adaptaram ao momento, os processos evoluíram e a nossa essência de resolver problemas se tornou mais relevante do que nunca. Isso me faz acreditar que sairemos dessa crise muito mais fortes do que entramos.

Estratégia criativa

Nós optamos pelo home office antes de ser decretado oficialmente pelo Governo do Estado de São Paulo. Esse planejamento fez com que não tivéssemos dificuldades estruturais. Além disso, o ponto mais importante é que a agência tem um processo próprio de cocriação e uma equipe com um olhar voltado para a área de cultura. Sempre buscamos pessoas com valores como colaboração, criatividade (independente de área), coragem, diálogo, responsabilidade, pluralidade e transparência, fatores que acreditamos importantes para formar quem somos. Esse nosso jeito de trabalhar fez com que  continuássemos a todo vapor. As salas de brainstorm viraram salas no hangouts e pronto. Transformamos as reuniões de board, que deixaram de ser semanais e se tornaram diárias. Dessa forma conseguimos tocar tudo a distância.

Clientes

É um momento de muita pressão dentro das empresas. Todos estão sendo forçados a tomar decisões que muitas vezes não gostariam e isso faz com que as cabeças fiquem à mil. A vantagem de operar com agência é que temos um pouco mais de isenção sobre as travas que essas condições impõem. É esse olhar “de fora” que os clientes estão buscando, que resulta em planejamento forte e criatividade em busca de soluções.

Posicionamento

Cada marca tem personalidade própria para viver esse momento. Então, o tom pode variar, mas algumas características precisam estar presentes na comunicação, independente do segmento de atuação. A principal é a empatia. Trocar de chapéu com o consumidor e entender de fato as dores do momento nos ajuda a não forçar a barra, até mesmo porque não adianta, se forçarmos não vai vender do mesmo jeito. Tudo tem que ser dosado e encontrar o tom certo é fundamental. O otimismo, por exemplo, precisa estar presente porque todos projetamos dias melhores e é em cima desse sonho que construímos a conexão, mas se passarmos da conta acabamos ferindo a empatia. Tivemos algumas fases até agora: começamos escutando e entendendo o impacto (assim geramos o conhecimento para ter a empatia), rapidamente seguimos para transparência informando da forma mais clara como essa situação impactava nas nossas histórias. O fato de todos estarmos no mesmo barco, marcas e pessoas, faz com que a compreensão seja mais fácil. Em algum momento partiremos para a retomada gradual e viveremos a sensação de poder sem poder. Posso sair de casa, mas o show que eu comprei não vai acontecer. Nessa hora teremos que nos reinventar novamente. O mais interessante disso tudo é que as marcas passaram a considerar um monte de tecnologia nova e diferente (para a maioria delas) buscando possibilitar experiências.

Futuro

A nossa indústria sempre foi muito boa em recomendar mudanças e inovação, mas no fundo a grande maioria operava de uma forma tradicional, com pouca inovação no processo. O coronavírus forçou mudanças e eu acredito que isso quebrou barreiras. Pós-pandemia veremos a transformação digital, de fato, acontecendo. Teremos uma adesão mais consistente e relevante nos processos de trabalho, nos produtos e serviços prestados, e também na comunicação.