Com novos planos para 2024, a dupla do Passa a Bola conta sobre suas experiências e ressaltam os desafios enfrentados pelo futebol feminino
Alê Xavier e Luana Maluf estão entre os principais nomes quando o assunto é influência esportiva. Atualmente, as apresentadoras e comentaristas estão à frente do canal Passa a Bola desde 2021, que soma mais de 100 mil inscritos no Youtube e no Instagram.
Após um vínculo de três anos com a NWB, este será o primeiro em que elas irão "andar com as próprias pernas" e, nesse momento, decidiram retomar as atividades do canal após seis meses de pausa com o lançamento do podcast "Fala, bebê", que tem como objetivo promover conversas sobre o mundo do futebol fora das quatro linhas. O primeiro episódio foi lançado nesta terça-feira (28).
Além disso, elas também são integrantes do projeto "Paris é Brasa", criado pelo Youtube em parceria com a Play9 e o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) para os Jogos Olímpicos de Paris, que serão iniciados no dia 26 de julho e que conta com nomes como Fátima Bernardes, Igão e Mítico (Podpah), Matheus Costa, Valen Bandeira e vários outros.
"Nós tínhamos dois grandes objetivos para esse ano: estar em dois grandes eventos esportivos. O 'Paris é Brasa' foi uma coisa muito legal porque é um projeto que veio até a gente e, quando ele foi apresentado pelo Rafael Romano (diretor de marketing do Podpah), nós já estávamos na apresentação", afirmou Alê Xavier.
Luana também ressaltou que a dupla tinha vontade de estar presente no evento por conta do futebol feminino, já que neste ano as atletas da CBF serão as únicas representantes brasileiras da modalidade e os jogos podem ser os últimos em que o público verá a Marta e Cristiane Rozeria com a amarelinha.
Com todos os holofotes voltados para a seleção brasileira feminina, os Jogos Olímpicos se mostram como uma oportunidade para o impulsionamento da modalidade, assim como aconteceu em Tóquio com a ascensão do skate graças a performance de Rayssa Leal, a fadinha, que impulsionou em 79,9% a venda de itens relacionados ao esporte na Netshoes, em 2021, quando conquistou a medalha olímpica de Tóquio.
"Queremos dar uma visão muito específica das torcedoras, mulheres no estádio e de como vai funcionar, até porque a seleção masculina não classificou e nós temos a esperança de que todos os olhares estarão voltados para a seleção feminina", completou.
Falando em futebol feminino, Alê e Luana ocupam o espaço de porta-vozes das mulheres que não tiveram oportunidade e espaço para praticar a atividade quando mais novas. Inicialmente, o Passa a Bola era um coletivo de mulheres que se reunia para jogar mas, em 2021, se tornou um veículo de comunicação, entretenimento e discussão da temática.
Tratar de um tema considerado delicado e que, infelizmente, ainda enfrenta diversos preconceitos por parte do público têm sido um desafio constante, mas para elas, o trabalho se mostra reconfortante ao verem o quanto a modalidade já caminhou — por mais que a passos lentos.
"Estamos surfando a melhor onda que nós poderíamos depois de trabalhar muito e, quando eu falo nós, não falo especificamente de mim e da Luana, mas de todo o futebol feminino. Muita gente trabalhou muito para que essa onda se formasse e tem tudo para se dar bem daqui para frente", ressaltou Alê.
Relacionamento com as marcas
Mesmo com a "bola pingando", a dupla revelou que ainda possuem dificuldades em encontrar marcas parceiras. Segundo elas, o trabalho de buscar por marcas que tenham não só a ver com a modalidade mas que também tenham um propósito e que olhem para as mulheres com outros olhos é constante.
"É mais difícil encontrar marcas que queiram fazer esse trabalho a longo prazo, que é o que nós oferecemos. Nós queremos marcas que constroem projetos para colher os resultados no futuro, entende? E a Adidas é uma dessas marcas, por exemplo, porque eles olharam para gente e para o feminino e entendem que isso é história", pontuou Luana.
Como membros do squad da Adidas já há algum tempo, elas também contaram que tiveram o contrato renovado recentemente e que as conversas para que a parceria se estenda para a Copa do Mundo Feminina de 2027 já começaram a surgir.
Além desta, a dupla também estará presente na final da UEFA Champions League masculina, que acontece neste sábado (1) no jogo entre Real Madrid e Borussia Dortmund, à convite da Playstation.
Segundo a Alê, a marca sempre foi um desejo já que ela sempre admirou as ativações que eram feitas na final da competição. Neste ano, elas foram convidadas para o projeto por duas mulheres: a chefe global e da agência da marca.
"Eles só tinham uma vaga e elas se uniram para conseguir a segunda vaga para nós. Será que se não fossem duas mulheres ali isso teria acontecido? Talvez os nossos nomes não fossem nem cogitados", questionou Luana.
Sobre os desafios, elas afirmaram que sentem que precisam sempre estarem se provando, enquanto o contrário não é realidade. Para a dupla, um homem que tenha a postura do tradicional "boleiro", fale de futebol e tenha um público masculino já é facilmente encaixado nos requisitos buscados pela maioria das empresas.
"Quando a gente tem que ficar em uma negociação ali provando que vale a pena, que a marca vai ser vista e ouvida, isso diz muito mais sobre como o mercado se porta do que sobre o que a gente tem para entregar. É cansativo e tem hora que a gente se questiona do motivo de ser tão difícil para nós, mas estamos na luta", desabafou Alê.
Olhos em 2027
A Copa do Mundo Feminina de 2027 será disputada no Brasil e, mais uma vez, um evento esportivo se mostrará como uma oportunidade para a seleção feminina — que poderá conquistar o seu primeiro título mundial em casa — e para a modalidade em geral.
A competição também será um prato cheio para as marcas entrarem na conversa e demonstrarem apoio às atletas, mas para a dupla do Passa a Bola, quem quiser fazer parte do momento, precisa começar a pensar e criar ações agora.
"Essa Copa é um grito de esperança para uma virada de chave e as marcas que quiserem participar vão ter que começar a criar um projeto desde já, porque precisa construir uma relação que pode ser feita através de patrocínio de clubes, jogadoras, projetos sociais que façam o país se tornar um ambiente voltado para o futebol feminino", apontou Luana.
Para que a competição alcance ainda mais pessoas, Alê espera que as empresas se mobilizem — assim como fazem nas Copas masculinas — e pausem as atividades para que a equipe acompanhe os jogos.
"Tem um trabalho social muito grande para completar esse legado que nós queremos deixar, então eu acho que tem que ter muita criança, muitas meninas no estádios, muitos projetos para que a gente mude a realidade do país. Isso não vai ser rápido, mas espero que daqui 10 anos o futebol feminino seja uma coisa natural para as pessoas", completou.