Por meio de um fato relevante, a varejista também indicou a participação do ex-presidente-executivo Miguel Gutierrez, no rombo

A Americanas assumiu que os seus balanços foram fraudados pela diretoria anterior. A confissão sobre o caso que aconteceu há cinco meses, quando a empresa comunicou que houve uma "inconsistência contábil" de R$ 20 bilhões, foi revelada por meio de um fato relevante divulgado pela varejista nesta terça-feira (13).

O documento divulgado foi montado com base nos papéis entregues pelo comitê de investigação instituído pela empresa. De acordo com o relatório, foram identificados contratos artificiais de incentivos comerciais, criados para melhorar o resultado da companhia.

O fato relevante também indicou a participação do ex-presidente-executivo Miguel Gutierrez, que se desligou da empresa em dezembro de 2022, bem como de outros ex-diretores e ex-executivos na fraude, e afirma que houve esforços da diretoria anterior para ocultar a real situação do resultado e patrimonial.

Segundo a empresa aponta, a fraude ocorria na suposta contratação de bônus junto à indústria, intitulada como "contratos de verba de propaganda cooperada e instrumentos similares" (VPC). A prática é comum no meio do varejo e consiste em descontos aplicados pelos fabricantes a grandes encomendas, mas, nesse caso, os descontos não ocorreram.

Dessa forma, a Americanas melhorava o seu balanço, enquanto a diretoria da época contratava empréstimos sem o conhecimento do conselho para cumprir o pagamento dos fornecedores. As informações apontaram que a soma total desses contratos foi de R$ 21,7 bilhões até 30 de setembro de 2022.

"As contrapartidas contábeis em balanço patrimonial desses contratos de VPC criados ao longo do tempo, os quais não tiveram lastro financeiro associado, se deram majoritariamente na forma de lançamentos redutores da conta de fornecedores, totalizando, em números preliminares e não auditados, o saldo de R$ 17,7 bilhões em 30 de setembro de 2022. A diferença de R$ 4 bilhões teve como contrapartida lançamentos contábeis em outras contas do ativo da companhia", aponta o relatório.

Além das operações de VPC, a varejista também apontou que a diretoria anterior contratou financiamentos nos quais a companhia é devedora perante bancos, sem as devidas aprovações societárias, todas inadequadamente contabilizadas no balanço patrimonial da 30 de setembro de 2022 na conta fornecedores. Essas operações somam R$ 18,4 bilhões e as operações de financiamento de capital de giro alcançam R$ 2,2 bilhões, em números preliminares e não auditados nos dois casos.

A Americanas também afirmou que o efeito dos ajustes decorrentes das fraudes nos resultados da companhia ao longo do tempo ainda está sendo apurado, mas é a "expectativa da administração é de que o impacto nos resultados mais recentes seja significativo".

Procurada pelo propmark, a Americanas não se manifestou até a publicação desta matéria.