Cerimônia reconheceu a atuação do Instituto na defesa da liberdade de imprensa e reuniu debate sobre IA, além de celebrar 13 veículos com mais de cem anos

A Associação Nacional de Jornais (ANJ) realizou nesta quinta-feira (4), na ESPM Tech, em São Paulo, a entrega do Prêmio ANJ de Liberdade de Imprensa 2025 ao Instituto Palavra Aberta. O evento marcou os 15 anos de atuação da organização em iniciativas de educação midiática, integridade da informação e defesa da liberdade de expressão.

A programação também celebrou 13 jornais centenários associados à entidade e reuniu executivos de grandes redações para discutir os impactos da inteligência artificial no jornalismo.

Francisco Mesquita Neto, vice-presidente responsável pelo Comitê de Liberdade de Expressão da ANJ, destacou o papel do Instituto diante das transformações no ambiente informacional. Segundo ele, o Palavra Aberta “defende de forma incansável algo essencial para qualquer sociedade que deseja permanecer livre e avançar: as liberdades de imprensa, de expressão, o direito de anunciar, o acesso à informação e ao conhecimento, e, sobretudo, a participação crítica e consultiva em um ambiente online”.

A vice-presidente da ANJ e superintendente da Folha de S.Paulo, Judith Brito, que participou da criação do Palavra Aberta, lembrou o contexto em que o Instituto foi concebido. “Discutimos muito a questão da liberdade ou das liberdades. Não era só a liberdade de imprensa, a liberdade de expressão, a liberdade de opinião e a liberdade de anunciar”, afirmou.

Representando o instituto premiado, Patricia Blanco, presidente do Instituto Palavra Aberta, destacou em seu discurso a trajetória e o caráter coletivo do trabalho. “É uma alegria imensa receber esse prêmio em nome do Palavra Aberta e da minha equipe fantástica”, afirmou. Ela ressaltou o significado do reconhecimento. “Fiquei impactada com o tamanho dessa homenagem para um instituto que ainda tem 15 anos.” Patricia destacou que o mérito é compartilhado com os profissionais, conselheiros e organizações que contribuíram ao longo da história. “Esse prêmio não é só meu, esse prêmio é do Palavra Aberta.”

Marcelo Rech, presidente-executivo da ANJ; Francisco Mesquita Neto, vice-presidente responsável pelo Comitê de Liberdade de Expressão da ANJ e Patricia Blanco, presidente do Instituto Palavra Aberta | Imagem: Alê Oliveira

Homenagem aos jornais centenários

A homenagem aos jornais centenários foi conduzida pelo presidente-executivo da ANJ, Marcelo Rech. Para ele, a longevidade desses veículos reflete a construção contínua de credibilidade. “Para o jornal chegar a 100 anos, passar de 100 anos, é o reconhecimento de que aquele patrimônio — um ativo lastreado em confiança e credibilidade — não só foi validado pela comunidade, como também se torna uma alavanca fundamental para o futuro”, afirmou.

Entre os veículos homenageados estão O Estado de S.Paulo (150 anos), A Tribuna (131), Correio do Povo (130), ACidade On (120), Jornal do Commercio Manaus (121), Cruzeiro do Sul (122), Gazeta do Povo (106), Jornal do Commercio Recife (106), Folha de S.Paulo (104), A Notícia (102), O Globo (100), A Tarde (113) e Monitor Mercantil (113).

AJN celebrou 13 veículos centenários durante evento | Imagem: Alê Oliveira

Debate sobre IA encerra a programação

O evento contou ainda com o painel 'IA e o futuro do jornalismo', moderado por Marta Gleich, diretora-executiva de jornalismo e esportes do Grupo RBS, com participação de Alan Gripp, diretor de redação de O Globo; Eurípedes Alcântara, diretor de jornalismo de O Estado de S. Paulo; Sergio Dávila, diretor de redação da Folha de S. Paulo e Patricia Blanco.

Gripp destacou que a adoção de IA nas redações depende de diretrizes sólidas. “Jamais dispensar a supervisão jornalística na adoção de ferramentas de inteligência artificial. Isso é uma cláusula pétrea”, afirmou. Ele observou que o valor da tecnologia cresce quando conectada ao acervo editorial. “A gente busca unir essa força da inteligência artificial generativa com a credibilidade que construímos.”

Marta Gleich (Grupo RBS), Alan Gripp (O Globo), Eurípedes Alcântara (O Estado de S. Paulo), Sergio Dávila (Folha de S. Paulo) e Patricia Blanco (Instituto Palavra Aberta) | Imagem: Alê Oliveira

Para Dávila, a Folha adota uma postura de “entusiasmo crítico”. “A inteligência artificial olha para trás, de hoje para trás. O papel do jornalista também é esse em alguns casos, mas também é olhar para o que está ocorrendo lá fora nesse momento. Isso a IA não capta”, disse. Ele também alertou para o cenário eleitoral de 2026: “Com a inteligência artificial, a fake news ganha um estado da arte.”

Eurípedes Alcântara reforçou que a empregabilidade dependerá do domínio das ferramentas. “Quem usar melhor terá empregabilidade”, disse ao citar o uso interno de IA no Estadão. Segundo ele, novas funções já surgem nas redações, e profissionais precisarão dedicar tempo às etapas mais analíticas do processo jornalístico.

Patricia, ao comentar a formação de novos usuários, destacou a importância do repertório crítico. “A pergunta que você faz é extremamente importante, mas a resposta é muito mais. Se você não tiver repertório para analisar se aquilo é correto ou não, você vai dar uma informação errada.”