Entre as medidas estão a exigência de uma aprovação formal de executivos da marca e agência, além de análises que avaliarão a autenticidade do case
A organização do Cannes Lions divulgou, nesta quinta-feira (10), um conjunto de novas regras de integridade e medidas de governança para as premiações a partir de 2026.
A notícia vem poucas semanas após o Cannes Lions cassar o Grand Prix da DM9 e Consul em Creative Data. Isso porque o filme enviado à competição utilizou conteúdo manipulado por IA para simular resultados da campanha.
Após revisão, o festival irá implementar um novo framework de responsabilidade, rigor e confiança, com o objetivo de preservar a excelência criativa em um cenário cada vez mais complexo.
Para proteger a integridade da premiação e reforçar o valor cultural e comercial da criatividade autêntica, o Cannes Lions passará a exigir, a partir do próximo ano, o cumprimento de novos critérios obrigatórios por todos os trabalhos inscritos.
“O mercado está mudando em uma velocidade impressionante”, afirmou Simon Cook, CEO do LIONS. “E, assim como o restante da indústria, o Cannes Lions está se adaptando rapidamente a essa nova realidade”.
Veja os cinco pilares do novo padrão de integridade criativa do Cannes Lions
Propriedade e autoria
Todas as inscrições precisarão ter aprovação formal do principal executivo da empresa participante e de um profissional sênior do anunciante. Isso valerá para todos os materiais enviados: videocase, textos, dados e métricas. A declaração deve atestar que as informações são precisas, verificadas e representativas de fatos reais.
Veracidade das informações
Será implementado um sistema de verificação em duas fases: uma análise manual e outra conduzida por inteligência artificial. Juntas, elas avaliarão a autenticidade de todas as alegações feitas nos cases. Além disso, os jurados contarão com o suporte de especialistas independentes em dados, impacto e mensuração durante o processo de julgamento. Um AI Integrity Handbook, elaborado com base em diretrizes da OCDE, da Unesco e do Partnership on AI, definirá o que é aceitável, o que deve ser declarado e o que constitui infração.
Consequências por má conduta
O Cannes Lions poderá desclassificar qualquer trabalho em qualquer fase da premiação — até mesmo após a entrega do Leão — se for comprovada alguma distorção ou fraude. Empresas que forem identificadas como responsáveis por manipulações intencionais poderão ser banidas por até três anos. Participações futuras em júris também poderão ser revogadas.
Processo independente e imparcial
Casos mais complexos serão analisados por um novo Conselho de Integridade, composto por especialistas jurídicos, éticos e do mercado. As partes envolvidas terão direito à resposta e a recursos dentro de prazos razoáveis.
Transparência na governança
Será publicada anualmente uma Auditoria de Integridade Criativa, que detalhará os principais pontos de atenção identificados no ciclo de premiação. O objetivo é promover melhorias contínuas no sistema e garantir a credibilidade do Cannes Lions como principal benchmark criativo global.
Mensagem para o Brasil
Após anunciar as novidades, a organização decidiu direcionar um recado específico ao mercado brasileiro. Em meio às discussões sobre a credibilidade dos cases brasileiros e a responsabilidade criativa nacional, Simon Cook reforçou que o movimento não é pontual, mas uma virada estratégica para toda a indústria global.
Leia a seguir, a íntegra da nota assinada por Cook:
"Hoje fizemos um anúncio sobre a introdução dos Padrões Globais de Integridade, que definirão a responsabilidade criativa para uma nova era. Uma era definida não pelo que a criatividade pode fazer, mas por saber se os sistemas da indústria ao seu redor conseguem sustentar seu valor, verificar suas alegações e preservar sua integridade. Este é um ponto de virada. Uma evolução estratégica. Mais um momento em nossa história para avançarmos coletivamente. Um momento que redefine como o mérito criativo é validado. Que reflete o presente e estabelece o padrão para o que virá a seguir.
Queremos reforçar ao mercado brasileiro que este é um movimento global, e esperamos que toda a nossa comunidade se comprometa com ele, à medida que avançamos juntos"
DM9 e Consul: fim da parceria
O último capítulo da polêmica envolvendo o 'Efficient way to pay', da DM9 para a Consul, se deu no começo desta semana. A marca confirmou o que o mercado já dava como certo: o rompimento do contrato com a DM9.
A confusão teve início ainda durante o festival, quando Cannes recebeu um e-mail, que alertava que a peça poderia ter manipulado informações e imagens, inclusive com o uso de inteligência artificial.
O texto destacava ainda que "a campanha era praticamente desconhecida no Brasil antes de vencer em Cannes — sem cobertura, sem repercussão, sem reconhecimento entre os círculos publicitários ou de inovação no país. Esse surgimento repentino em Cannes, sem qualquer divulgação local, é profundamente suspeito".
O assunto se inflamou nas redes sociais, mas, àquela altura, Cannes já investigava a denúncia, que terminaria com a cassação do GP.

'Efficient way to pay' propunha um modelo alternativo de acesso a eletrodomésticos para famílias de baixa renda. Como uma solução para a compra à vista ou parcelada, o pagamento seria feito com o valor economizado na conta de luz.
Os consumidores testariam produtos mais eficientes e pagariam somente com base na redução mensal do consumo energético.