Há exatos cinco meses, grande parte do mundo hibernou. Diante do isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus, muitos de nós fomos obrigados a “entrar na caverna” e aguardar até que o perigo do lado de fora finalmente possa ir embora. Mas, diferentemente do Mito da Caverna, de Platão, onde os prisioneiros no lado dentro estavam atados pela corrente da ignorância, o nosso contato com o interior nos abriu a possibilidade de algum conhecimento. Afinal, estávamos atados à ignorância da vida acelerada de antes, totalmente autocentrada e sem condições de ver a verdadeira realidade que nos cerca.

E numa inesperada janela de oportunidade que se abriu não só para cidadãos comuns, mas também para as mais diversas organizações e poder público, todos se viram frente a frente com a luz da verdadeira face da desigualdade brasileira, onde 50% da população vivem em média com menos de R$ 700 por mês (dados da oXfam) e os 10% mais pobres com menos de R$ 1 por dia.

E, como num passe de mágica, milhares de organizações e pessoas começaram uma grande marcha de solidariedade. Até o fim de junho, mais de R$ 5,6 bilhões já tinham sido doados para 400 mil entidades diferentes. Foram toneladas de alimentos, máscaras, insumos e até serviços. Uma onda gigante, capaz de dar inveja até mesmo a Nazaré. Essa onda, é claro, deve deixar muita gente pelo caminho, mas certamente vai empurrar mais empresas para uma nova fase, um novo estágio de vida empresarial.

Uma pesquisa realizada pela Kantar do Barômetro Global da Covid-19 revelou que, para 86% dos respondentes, as marcas devem falar sobre como poderão ser úteis na crise. É uma informação contundente sobre o que a sociedade espera do papel das empresas. É também um novo contexto onde a contribuição e impacto das organizações serão tão consumidos quanto seus produtos.

Uma sociedade justa deve ser construída a partir da força de empresas com propósito, com visão renovada de lucro e valor. O caminho passa por beneficiar o entorno, colocar as pessoas no centro das decisões, reduzir o impacto negativo, abraçar causas, fazer marketing de causas e para causas. O propósito, apesar de estar muito na moda, é uma ferramenta de autoconhecimento da empresa. Ao revelar-se, ele funciona como um guia para a organização tomar suas decisões estratégicas, realizar suas contratações e incorporar suas causas no centro de seus modelos de negócio.

Na era da sociedade 5.0, não há mais espaço para estratégias e branding que não seja pela via da verdadeira contribuição, onde todos ganham: empresas, consumidores e sociedade. Essa sociedade está a serviço do ser-humano e de sua sustentabilidade nesse planeta.

Com o objetivo de refletir sobre esse novo contexto e unir empresas e causas, Instituto Ayrton Senna, Ipsos, ESPM e Cause irão realizar o 4º Fórum de Marketing Relacionado à Causa, nos dias 16 e 17 de setembro. O evento, totalmente gratuito e online, terá participações de especialistas do Brasil e do exterior, além de cases inspiradores para essa mudança. Já é o quarto ano seguido desse debate, o que só reforça essa tendência positiva para a nova era de empresas conscientes quanto a seu papel transformador num mundo em constante mudança.

Fabiana Fragiácomo, gerente-executiva de Comunicação e MKT do Instituto Ayrton Senna.