Ariel Nobre, o autor da carta, também é um dos líderes do Observatório da Diversidade na Propaganda

O Brasil é o país com o maior número de assassinatos de pessoas trans no mundo pelo 14º ano consecutivo. E essa foi uma das principais motivações para a ação “14 Cartas para 14 Líderes” criada pelo artista e ativista Ariel Nobre, que também é um dos líderes do Observatório da Diversidade na Propaganda.

Com o objetivo de sensibilizar CEOs de agências, CMOs de anunciantes e executivos de veículos e plataformas, sobre a importância de profissionais trans ocuparem a alta liderança das corporações brasileiras, Ariel escreveu à mão 14 cartas contando sobre a sua vivência na indústria da propaganda e se disponibilizando a ajudar a traçar caminhos para que a realidade dessa comunidade hoje em dia tenha novos contornos em um futuro próximo.

O projeto que tem a criação e realização de Ariel Nobre, conta com a produção audiovisual da DogsCanFly com Direção Executiva de  Thiago Balma, Direção de Cena de Pedro Furtado, produção  de Renato Angelo, com apoio Cia do TP, Filmes do Bem e Fabrika Locações, Produção Audio Pingado,  fotos do Sérgio Carvalho, estratégia de comunicação de Jef Martins da Leo Burnett TM e Silvana Inácio e interlocução de Jonas Furtado.

Abaixo o conteúdo da carta que foi enviada e os destinatários:

'Olá,

Sou Ariel, ativista e um dos líderes do Observatório da Diversidade na Propaganda. Sou homem trans, isso quer dizer que quando nasci minha família e toda a sociedade me trataram como mulher, fui criado como mulher. Mas em 2014, com 27 anos, me declarei trans. Pedi para que as pessoas me chama sem de Ariel, no masculino.

Antes disso, me procurava nas propagandas, nos filmes e nas revistas. Tudo era silêncio ou algo que eu não queria ser: pobre, feio ou violentado. Precisei de muita coragem para olhar dentro de mim e me declarar como realmente sou.

A verdade é que o Brasil não gosta de trans. Te escrevo para informar que segundo a ONG TGEU o Brasil é o país com maior número de assassinatos trans pelo 14º ano consecutivo. Me sinto injustiçado quando dizem que pessoas como eu “destroem” famílias.

O que eu mais quero é ser e ter família. Por conta disso, empresas em pleno 2023 se dizem “despreparadas” para contratação de profissionais trans. Por mais que seja verdade, nossa comunidade não pode mais esperar.

Apenas 13,9% de mulheres trans e 59% de homens trans possuem empregos formais. Me vejo lutando pela vida em uma cultura que insiste em me condenar à morte. A perspectiva de vida da comunidade trans é de 35 anos no Brasil (IBGE).

Apesar de tudo, acredito que sou digno de vida, trabalho e amor. Nós podemos (e devemos) mudar esse cenário de morte. Inclusive, programas de contratação de trainees e estagiáries são importantes, porém insuficientes.

O Brasil precisa de líderes trans. Não existem profissionais trans ocupando C-level na publicidade brasileira. Nós sabemos da desigualdade vertiginosa de oportunidades entre cis e trans.

Mas só você conhece os reais desafios da sua empresa para fazer isso acontecer. Pense sobre eles e saiba: você pode contar comigo e com o Observatório para superar cada um deles o quanto antes.

E mais, a nossa cooperação é crucial para que o Brasil não repita um recorde tão lamentável. Se investimos hoje em desenvolvimento profissional e pessoal para nossa comunidade, teremos amanhã os líderes que precisamos.

Não é regalia, é sobre o direito de ser quem se é e ainda dar um jeito de sonhar. É sobre o Brasil bater outros recordes e a publicidade brasileira ser protagonista de uma transição cultural que valorize nossas experiências.

Lembrando, a diversidade só é possível em contexto democrático.

Com esperança e coração aberto,

Ariel Nobre'