Ator e empresário, Babu Santana conta ao PROPMARK como começou a atuar e qual é a sua relação com as marcas
Alexandre da Silva Santana, conhecido como Babu Santana, é ator há 25 anos. Começou a carreira com 16 anos de idade, no grupo Nós do Morro, e desde então soma filmes como Cidade de Deus, Cidade dos Homens e Tim Maia no currículo, além de muitos outros trabalhos.
Apesar disso, foi só 2020 que a imagem — e o nome — de Babu Santana se tornou conhecida pelo grande público, com a sua participação no Big Brother Brasil 2020, a primeira edição do programa que misturou celebridades com anônimos.
Na sua trajetória, Babu bateu o recorde de paredões do programa e ficou em quarto lugar. A partir daí, agenciado pela Mynd, o ator passou a ter seu rosto estampados em diversas campanhas, como Americanas, 99Foods, Gilette, Estomazil e adotou a figura de "paizão", atribuída a ele pelo público do programa.
Atualmente, Babu atua em algumas frentes: permanece atuando e gravando suas publicidades, mas agora possui um selo musical chamado Paizão Records e se tornou diretor do grupo Nós do Morro.
Ao PROPMARK, Babu Santana conta como a sua trajetória na atuação começou, sua passagem pelo BBB 20 e sobre a sua relação com as marcas.
Como começou a sua trajetória como ator?
A minha história com a atuação começa com um desejo muito cedo, quando a minha tia Sônia me levou ao teatro e eu vi um homem dentro de uma roupa de cachorro. Eu costumo ir tão longe nessa história porque foi ali que eu tive vontade de ser ator, aos 6 ou 7 anos de idade, só a situação da minha realidade na época parecia um sonho longínquo. Até que um dia eu comecei a fazer teatro na escola, com 12 anos, e com 16 anos eu descobri o Nós do Morro e, lá eu entendi o que era ser um artista. Fiquei lá por 16 anos e conheci o cinema, tive contato com o mercado de trabalho. Minha história com a atuação começa lá no começo da minha vida e eu acho que não conseguiria ser feliz fazendo outra coisa.
Nessa época, já existia uma relação sua com as marcas e empresas?
Não. Essa coisa com as marcas e com as empresas, de publicidade, é uma coisa totalmente nova na minha vida, totalmente pós-BBB. Essa foi a principal porta que o programa me abriu. Antes disso, eu só tinha feito um comercial que até hoje eu não sei se eu fui editado ou não. Em 25 anos de carreira, antes do BBB, eu só tinha feito um vídeo publicitário. Eu acho também que as questões dos padrões da publicidade pesam mais ainda, né? Como eu nunca tive esse perfil publicitário, no período pré-BBB, a minha experiência com isso era quase zero.
O Big Brother Brasil 2020 mudou a sua vida? Você esperava que teria tanta repercussão?
Mudou e é muito louco isso. Eu era tipo uma barraquinha ali que vendia alguma coisa interessante, mas ninguém me via por que eu estava ali no escurinho. O BBB abriu um horizonte para mim e as pessoas começaram a me enxergar como esse indivíduo que pode vender. O BBB me deu credibilidade. Eu não mudei de perfil, continuo sendo a mesma pessoa, mas a credibilidade e essa identificação das pessoas comigo foi muito lindo. É lógico que muitas pessoas gostam do meu trabalho, como o do Tim Maia, mas eu estava vestido de um personagem. O grande diferencial do BBB foi que as pessoas começaram a me enxergar como pessoa e eu fui ganhando credibilidade. Acho que a principal transformação foi que as pessoas começaram a acreditar em mim, não só como artista, mas como ser humano.
Quais eram os seus planos para o pós programa? Como você imaginava que seria a sua participação?
Nem nos meus melhores sonhos eu poderia prever o que aconteceu comigo. Eu era muito inocente. A minha estratégia era ficar duas semanas, até para não ser o primeiro a sair, e aproveitar toda a onda que o BBB promove. Eu tenho uma banda e pensei muito, inclusive, em virar a minha carreira para a música uma vez que o BBB me desse essa notoriedade, mas quando eu cheguei ali, comecei a me confrontar com uma série de coisas que eu confrontava na vida e eu falei que não iria abaixar a minha cabeça. Quando eu me confrontei com a amarguras que eu tinha aqui fora, eu não podia deixar o Brasil ver tudo o que estava acontecendo e não dar uma resposta a altura. Eu foquei nessa questão porque eu percebi que era o cara mais velho dali, de repente um dos que tinham uma origem mais humilde e eu queria demonstrar a questão de ser pai, de ser um homem preto, ser artista e aproveitar aquele holofote que estava em cima de mim para transmitir os meus pensamentos para o mundo. Que bom que as pessoas abraçaram. É claro que ter um milhão e meio a mais na conta ia ser maravilhoso, mas como artista, pensador e comunicador, eu acho que ninguém poderia me dar um prêmio maior do que o que eu ganhei com a minha participação no programa.
Qual foi a primeira campanha publicitária que você fez pós-BBB?
Eu acho que foi a Americanas. Mas eu fui – e continuo sendo – embaixador da Gilette, fiz campanha para 99 Food, mas também trabalhei para a concorrência, Estomazil... Mas, no pós-BBB, o pessoal da Mynd falou que quando eles soltaram o meu portfólio, quase todas as marcas queriam trabalhar comigo. Eu arrisco a dizer que já trabalhei com mais de 30 marcas. Foi impressionante. A credibilidade me credenciou para que várias marcas quisessem associar o seu nome à minha imagem e isso me deixa muito feliz.
Como começou a sua relação com a Mynd? Eles que recebem as propostas das marcas e passam para você?
Eu sou agenciado da Mynd hoje e fico muito feliz com isso porque eles têm a Preta Gil como sócia, que é uma amiga que eu já conhecia antes do BBB. Foi ela que me convenceu a virar influenciador, se não fosse por ela eu não teria topado. Todo mundo foi muito receptivo comigo e muito paciente. Eu descobri que a Mynd tem uma equipe composta por pessoas pretas, eu posso dizer que são a maioria lá dentro, isso me encantou e fez abraçar a agência. Estamos indo para o terceiro ano de parceria, muito feliz e com muito trabalho.
O que você leva em consideração na hora de fechar um trabalho com alguma marca ou empresa?
Sobretudo, os valores dessa empresa. Eu me preocupo muito que ela seja uma empresa comprometida com questões como o antirracismo, com anti-homofobia, que seja uma empresa que tenha uma filosofia bacana para que eu possa associar a minha imagem a ela, porque essa é uma questão que o público vai cobrar de mim. Como a equipe que me atende na Mynd é composta, em maioria, por pessoas pretas, LGBTQIAP+ e tudo mais, eu creio que tenho um olhar eclético sobre tudo isso e tenho a confiança de que eles não vão me associar com marcas que estejam fora dessas diretrizes.
Quando você faz uma campanha, você participa da produção dela
Ativamente. Volta e meia a minha casa vira um estúdio de gravação e isso tem sido legal, porque eu vou entendendo as novas linguagens e implementando as linguagens que eu aprendi com cinema, por exemplo. Então, às vezes, a gente faz uma coisa diferenciada, tenta fazer uma coisa bem editada, sabe? Tentamos trazer um diferencial.
Conforme as coisas foram acontecendo para mim, eu investi e hoje temos um estúdio para fazer campanhas. Eu realizei um sonho como empreendedor. Eu estou aprendendo a empreender e captar uma equipe. Eu não tinha esse hábito da rede social, mas como isso se tornou um negócio, eu aprendi a ter prazer no manejo das redes e, como eu sou um quarentão e não sei mexer em tudo, eu tenho uma equipe de pessoas novinhas para me ajudar.
Você atua em várias frentes. Canta, atua, faz campanhas, tem o próprio selo musical... Como você divide o seu tempo entre os trabalhos?
Eu acabo juntando tudo. Por exemplo, quando a gente tem alguma coisa de narração, eu faço no estúdio da Paizão Records, então, se a gente está fazendo uma música, eu peço para fazerem uma pausa para eu conseguir gravar. Do lado do estúdio de áudio, tem um estúdio de fotografia, onde eu já junto o cinema, a parte de ensaiar... Então quando eu preciso fazer um teste, eu faço lá. Hoje, eu sou diretor do Nós do Morro, então eu tento trazer toda essa implementação que eu tenho na minha empresa para a instituição. Eu junto tudo em uma coisa só, todas as minhas equipes são interligadas.
De todos os trabalhos que você já fez, qual você mais gosta?
Eu estou gostando muito do trabalho com a Gilette. Meu filho está fazendo 18 anos e está começando a ter essa rotina de se barbear, então é legal juntar isso com uma ação de marketing, até para as pessoas se identificarem com a marca. Eu estou fazendo um filme e não podia mexer a barba, por conta da continuidade, então eu liguei para a equipe da Gilette e perguntei se eu podia fazer a barba do meu filho na campanha.
A da 99Foods também é muito legal, porque eles me propuseram uma coisa de ser "o sensato" e isso é legal, eu acho até uma ironia do destino. Estou gostando muito de fazer.
Tem alguma marca que você gostaria de fazer campanha?
Eu vou muito na memória emotiva. Eu até fiz para a Amstel, mas eu queria fazer para as outras marcas de cerveja porque são os comerciais que mais ficam na minha cabeça, e tem alguns que eu acho super chique, que até o Gil do Vigor fez, que são as campanhas de banco. E tem uma marca que eu sou muito fã e ainda não tenho no currículo, que é a Adidas.
Como você se enxerga como marca?
Eu ainda estou compondo isso, mas eu me enxergo com seriedade, resiliência e confiança. Também me vejo com uma linguagem de humor, além de ser um cara com experiência de cinema e que está sempre comprometido com a coisa da imagem, som e visual. Eu investiria em mim.
Qual é a melhor definição para a marca Babu Santana?
Paizão, porque eu levei isso a sério. Eu tinha um amigo, que era o Mr. Catra que era o paizão na época, né? E eu falava que paizão era só o Catra. Mas, no meu caso, o paizão é no sentido mais bonito da palavra, de acolhimento. Tem todo um contexto histórico da ausência masculina na criação das gerações, mas eu tive sorte de ter dois homens na minha vida, que foram o meu avô e o meu pai. Meu pai foi melhor que o meu avô, eu vou ser melhor que o meu pai e espero que o meu filho seja melhor que eu.
Quais são os seus planos para os próximos anos?
Eu quero associar o Nós do Morro ao Babu Santana e que lá a gente consiga promover esse fenômeno que é o mercado da publicidade. Eu gostaria que esse mercado enxergasse o Nós do Morro como uma potente marca para promover as marcas. Quero muito tentar fazer o que aconteceu comigo com o Nós do Morro e quero que a Paizão Records renda o que eu planejei para ela. E, claro, seguir atuando porque se eu parar de atuar, eu adoeço. É o que eu amo fazer.