O curta-metragem de animação Love Hair, patrocinado por Dove, da Unilever, que conquistou o Oscar na sua categoria no último dia 9, dá uma mostra de quanto evoluímos na aceitação do nosso visual, da nossa realidade e personalidade. Embora muitos ainda insistam em disfarçar, na real, o mundo está mais para aceitar as pessoas como elas são. E Dove não perdeu tempo nesse quesito e encampou um movimento que fez e faz muitas mulheres e homens serem do jeito que são. Isso, aliás, tira um peso gigante das costas das crespas.

Idealizado e dirigido por Matthew A. Cherry, o premiado curta conta a história de um pai jovem negro que tem de cuidar da filha, principalmente do cabelo crespo da menina, em um dia especial. A ideia é transmitir mensagem de aceitação, autoconfiança e amor. A missão não é fácil, mesmo para aqueles que estão acostumados a lidar com madeixas teimosas. Tentar deixá-las mais de acordo com os padrões de beleza estabelecidos pela sociedade branca reflete muito do preconceito que mora dentro de nós.

O marketing de Dove acertou em cheio quando decidiu ancorar sua estratégia na beleza natural. Pode ainda não ter modificado muito, mas já conseguiu alguma coisa e, com isso, elevou a autoestima de muita gente que assumiu o que é e ponto. Quem quiser aceitar é bem-vindo. Quem não, azar. Dove diz acreditar que a beleza deve ser uma fonte de confiança, não de ansiedade. “É por isso que estamos aqui para ajudar mulheres do mundo todo a desenvolverem uma relação positiva com sua aparência, ajudando-as a aumentar sua autoestima e perceber todo seu potencial”.

Segundo a Dove, ao desenvolver projeto batizado como Autoestima, fundado em 2004, teve a intenção de ajudar a próxima geração de mulheres a crescer feliz e confiante com sua aparência. Para se ter uma ideia do quanto a sociedade é estranha e encanada com a beleza e aparência, segundo uma pesquisa global da marca, apenas 4% das mulheres no mundo todo se consideram bonitas e a ansiedade com a aparência começa quando ainda são muito jovens. Conforme estudo de Dove, seis entre dez garotas ficam tão preocupadas com a aparência “que até deixam de fazer coisas no dia a dia, como nadar, praticar esportes e até mesmo dar opiniões. “Nós queremos que mulheres e garotas de todas as idades encarem a beleza como uma fonte de confiança, não de ansiedade”.

Se você é do tipo que usa expressões como “cabelo ruim” ou “cabelo crespo está na moda agora, né?”, é melhor avaliar seus conceitos, pois esses comentários beiram ao racismo e desmerecem o movimento contra o preconceito. Até o Google aponta diferenças gritantes em relação ao assunto. Por que, então, não mudar ou rever posições? Estudo realizado pelo Google BrandLab revelou que a procura por cabelos cacheados no buscador superou a procura por cabelos lisos, com um crescimento de 232% entre 2015 e 2017. Com relação aos crespos, o interesse foi ainda maior. A busca por cabelos afro aumentou 309% no mesmo período. Quando uma pessoa assume seu tipo de cabelo ou até a falta dele, não é apenas questão estética. Envolve um processo de aceitação. Pense na menina de Love Hair e no seu telhado.