Em 2020, a produção audiovisual enfrenta seu maior desafio. Com a pandemia da Covid-19, as filmagens ganharam novos métodos de produção. Pensando nisso, Cannes Lions transmitiu um encontro com alguns dos diretores de grandes clássicos da publicidade para questionar: “Como campanhas vencedoras de Cannes seriam reproduzidas atualmente?”.

O bate-papo foi mediado por Veronica Beach, cofundadora e sócia da The Poolhouse e contou com a presença de, entre outros nomes, Ridley Scott, diretor do clássico filme “1984”, feito para a Apple.

Ridley Scott (Reprodução/Youtube)

“Fazer uma peça de publicidade que não mostrava ou descrevia o produto e tudo que dizia aparecia no fim: 1984 não seria como ‘1984’. É genial”, afirmou. Ao ser questionado se utilizaria efeitos especiais numa refilmagem, Scott disse que não e explicou alguns efeitos práticos da versão original, como a pintura que dava a perspectiva de um tubo de vidro acima do solo.

Outro clássico relembrado na live foi o filme “Evolution”, dirigido por Yael Staav. Segundo a diretora, este seria relativamente fácil de refazer em tempos de pandemia. “Tirando o pessoal de maquiagem e cabelo. Suponho que poderia ser manipulado como um tutorial de maquiagem”, explicou complementando que a maioria dos filtros utilizados no comercial estão disponíveis nos dias de hoje em aplicativos como Instagram. A peça foi assinada pela Ogilvy Toronto.

Outro case clássico de Dove comentado no encontro foi “Retratos da Real Beleza”, dirigido por John X Carey. Para o diretor, o desafio de fazer nos dias de hoje seria na configuração do elenco em cena. “Elas entravam neste espaço sem saber quem era o homem por trás da cortina, quem as estava desenhando e isso as provocava”, disse. Entrevistar pessoas em casa, segundo o diretor, enquanto elas estão filmando a si mesmas, as coloca numa zona de conforto. Para Carey, o que realmente torna “Retratos” tão marcante é que os criativos chegaram a uma ideia tão boa que funcionava em diversos formatos, do vídeo ao print. A campanha, vale lembrar, foi assinada pela Ogilvy Brasil.

Henry-Alex Rubin dirigiu alguns clássicos de Burger King que possuem algo em comum: captam reações reais das pessoas. “Nossa sociedade depende da interação humana e a maioria de nossos anúncios também, certo? Você ainda pode fazer trabalhos de câmera escondida hoje em dia, basta fazê-lo de uma maneira mais rígida”, disse. O diretor brincou: “Você pode ter pessoas feitas em CGI perto umas das outras”.

O sueco Adam Berg, diretor de “Carousel”, da Philips, deu uma perspectiva diferente durante o bate-papo, já que a Suécia optou por não adotar a quarentena. “Aqui ainda seria feito. Teríamos que reutilizar os figurantes para fazer as cenas, utilizá-las em ciclos. Colocaríamos máscaras em todos pra poder utilizar mais de uma vez. Funcionaria muito bem”, reflete.

Malik Vitthal, diretor de The Talk, da P&G, também participou. Para ele, a campanha seria perfeitamente executável hoje em dia, apenas com algumas mudanças feitas, como a quantidade de figurantes e algumas cenas específicas. “Poderíamos refazer, só teríamos que reescrevê-lo”.

Lauren Greenfield, diretora do clássico “Like A Girl”, da Always, disse que muitas coisas seriam semelhantes se o comercial fosse feito no mundo pandêmico. “Porque, de certa forma, acho que o que estávamos olhando era o que estava escondido à vista de todos e acho que a revelação seria tão relevante hoje quanto era na época”, relatou. A Covid-19, segundo a diretora, apenas tornaria a produção mais segura. Perguntada se o filme poderia ser feito via Zoom, Lauren diz que a ferramenta permitiria um tipo diferente de intimidade com o elenco que, talvez, não fosse tão palpável como na versão original.