A economia criativa tem mais potencial para se desenvolver em comparação à convencional

Celso Athayde nasceu na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. Sofreu as agruras das ruas e experimentou a vivência da favela. Da escola da vida, tirou lições sobre sobrevivência, hoje reconhecidas e premiadas no mundo do empreendedorismo social. O CEO da Favela Holding, que abriga mais de 20 empresas, comemora a receptividade das marcas na Expo Favela, realizado entre os dias 15 e 17 de abril, no World Trade Center (WTC), em São Paulo, certo de outros eventos voltarão a ocupar espaços para promover negócios.

Potencial
Na Expo Favela, a gente divulgou a pesquisa Um País Chamado Favela. Os dados mostraram que 76% dos moradores de favelas têm, tiveram ou pretendem ter um negócio próprio; 50% se consideram empreendedores; 41% têm negócio próprio; e 57% abriram o próprio negócio por falta de alternativas de renda. Muitos querem investir, mas não sabem como. Venho trabalhando há anos para mostrar que não somos carência, e sim potência. Prova disso, foi o que vivemos no WTC, com mais de 30 mil pessoas circulando pela Expo Favela. Tivemos mais de 20 mil inscritos e 350 foram selecionados para ter oportunidade de negócio e conversar com mais de 300 representantes de fundos de investimento.

Luta
Sempre digo que o empreendedor da favela é empresário por sobrevivência. Vende o almoço para comer na janta. Se o negócio não está dando certo, rapidamente ele muda a sua área de atuação e faz seu empreendimento funcionar.

Movimentação
Estima-se que os moradores de favela movimentam R$180,9 bilhões em renda própria ao ano. As favelas movimentam uma massa de renda maior que 21 dos 27 estados brasileiros. O Brasil tem 17 milhões de pessoas vivendo em favelas. Se formassem um estado, seria o quarto maior do país.

Preparo
A capacitação vem no dia a dia, o empreendedor da favela não estudou em grandes escolas, frequentou faculdades renomadas. A vivência vem da necessidade de fazer com que seu negócio funcione e leve o sustento para sua família.

Celso Athayde, CEO da Favela Holding: falta investimento para aceleração de negócios (Douglas Jacó/ Divulgação/ Favela Holding)

Entrave
Que o brasileiro é empreendedor por natureza isso a maioria das pessoas já sabe. Só no estado de São Paulo são 46,6 milhões de pessoas. E acredito que a maioria delas, de forma direta ou indireta, têm alguma relação com o empreendedorismo. Dito isso, a economia criativa tem muito mais potencial para se desenvolver em comparação à economia convencional. O seu grande impeditivo é a falta de investimento para aceleração do negócio. Por isso, venho trabalhando para fazer essa conexão entre empreendedores da favela e investidores do asfalto.

Marcas
Algumas já aprenderam a se comunicar. Um ponto a ser destacado: a confiança tende a ser maior dentro da própria comunidade. 88% dos moradores de favela confiam mais em um influenciador da própria comunidade que em um famoso.

Presença
Na Expo Favela, comprovamos que boa parte das marcas olha para favela como: Vivo, Gol Linhas Aéreas, Nubank, Oliveira Foundation, Grupo Carrefour Brasil, Sesi, iFood, Global Data Bank, Mondelez International, Favela Vai Voando, Ultragaz, Ambev, Facily, entre outras.

Canais
Temos muitas mídias e influenciadores. Destaco o Jornal Empoderado, Notícia Preta, Agência Mural, entre outras. A prestação de serviço é o que funciona. A favela é ligada em questões práticas. Os empreendedores buscam melhorar o que não está funcionando dentro da favela como: delivery e entrega de contas de consumo. Coisas básicas, que fazem diferença na vida dos moradores.

Verdade
Existem empresas que, de fato, auxiliam com projetos gratuitos de educação financeira, empreendedorismo, capacitação, recolocação profissional e doação de alimentos. No último dia 30 de abril, foi iniciada a doação da Cufa Vale-Gás, uma parceria da Central Única das Favelas (Cufa) com a Petrobras. A iniciativa faz parte do programa de acesso ao gás de cozinha da Petrobras junto a instituições sem fins lucrativos e prevê a doação de auxílios, beneficiando mais de quatro milhões de pessoas em todo o Brasil, direta e indiretamente.