Bruno Maletta, sócio da ConsumotecaA publicidade é uma área dinâmica e muitas vezes o próprio mercado não consegue refletir profundamente com consciência sobre as mudanças no conceito das campanhas. Entretanto, Bruno Maletta, sócio da Consumoteca, boutique de conhecimento especializada no consumidor brasileiro que realiza levantamento de dados a partir de análises antropológicas, mostra que os tempos estão mudando, principalmente na relação da propaganda com a mulher. Para o especialista, o segmento de automóveis, historicamente considerado “machista”, é um exemplo claro disso e ele chama atenção para cinco fatos:

1- O Salão de Automóveis, que é um evento superimportante em São Paulo está olhando a mulher de um jeito diferente. Em 2010, a Volkswagen fez um espaço para mulheres em parceria com a Risqué. O espaço era um salão de beleza. O que isso tem a ver com automóveis? Nada. Era um espaço para as esposas esperarem seus maridos.

Já na última edição, em 2014, o espaço mulher da companhia era totalmente diferente. A marca criou palestras e vídeos que relacionavam as tendências de moda com os automóveis. A área de criação da marca mostrava como usava tendências para aplicar nos novos modelos e criar soluções para os problemas cotidianos das mulheres com os automóveis. Além disso, criou um teste (como os testes de revistas que atraem o público feminino) e para cada estilo de mulher associavam com um modelo, explicando os motivos. O stand da VW foi eleito o melhor do salão.

Dá para sentir a diferença de tratamento de 2010 para 2014?

2- Muitas vezes, as mulheres não querem um produto para mulher (rotulado). Porém, a comunicação voltada para elas é importante. De uns anos para cá, os comerciais de carro mudaram para ter mulheres dirigindo. A FIAT já fez um comercial em que a mulher dava o carro para o homem (comercial do Idea) e dizia que o carro era espaçoso para ele levar as crianças para a escola, refletindo a mudança e igualdade dos papeis. Esse comercial é de 2011.

No mesmo ano, a FIAT internacional fez um filme para o mesmo modelo com George Clonney se interessando por uma mulher dona do Idea. Cada vez mais, mulheres estão presentes em comerciais de automóvel.

3- Mais recentemente, no Dia Internacional das Mulheres, a Chevrolet fez uma campanha bem interessante também. A revisão programada Chevrolet é um serviço que eles sempre associam com o público feminino, pois é uma demanda grande de quem teoricamente entende menos de manutenção do carro.

Veja o filme da campanha e entenda:

https://www.youtube.com/watch?v=GXKa1Cja2mQ

4- Outro exemplo bem interessante é o projeto “De Carona com Elas”, da Petrobras. Eles produzem conteúdo para as mulheres sobre manutenção, cuidados, direção, entre outros pontos de interesse. O canal tem quase 500 mil fãs com uma comunicação direta para o público feminino. Acredito que este seja o exemplo mais marcante.

Confira a fanpage do projeto aqui.

5- Para finalizar um exemplo negativo. Algumas seguradoras lançaram seguros segmentados (mulheres, senior e jovem), mas mostram que desconhecem o cliente. A ideia de um produto segmentado é ótima se levasse em consideração os diferentes usos do veículo e as principais dificuldades de cada público.

Porém, pegando o seguro para mulheres, os benefícios exclusivos são descontos na cadeirinha infantil e em academias. Muito pouco para um produto segmentado. Não leva em consideração nada do próprio uso do veículo como o tempo, a dificuldade de manutenção, a maior falta de tempo, entre outras coisas.

Entenda melhor aqui.