Desde que o Flamengo anunciou Antonio Tabet para a vice-presidência de comunicações, há quase dois anos, uma mudança expressiva no posicionamento do clube começou a ser trilhada. Hoje, o rubro-negro soma 60 patrocinadores e apoiadores, quase dobrando o faturamento no período. Foram R$ 408 milhões em 2016, segundo a Análise Econômico-Financeira dos Clubes de Futebol Brasileiros 2017, do Itaú BBA. Para Daniel Orlean, vice-presidente de marketing do time,
as conquistas são fruto do novo posicionamento do clube, de se apresentar como plataforma de marketing para anunciantes. Veja a seguir os principais trechos desta entrevista.

Marçal Neto/Divulgação

Diversificação

Os clubes de futebol são muito acostumados com a mídia televisiva, patrocínio de camisa e venda de jogador. Quando entrei no Flamengo, há pouco mais de um ano, foi feito um planejamento estratégico no qual identificamos quais eram as frentes que poderíamos trabalhar melhor. E havia um potencial muito forte de ir além da camisa. A gente se posiciona como plataforma estratégica de marketing e engajamento e não apenas como uma mídia. Quando uma marca for lançar seu produto no Brasil, o Flamengo quer ser a primeira opção nessa estratégia. A gente não vai oferecer só a marca estampada, mas engajamento e nossa força em redes sociais.

Transmídia

Hoje a área de comunicações do Flamengo tem trabalhado o clube quase que em tempo real. Quando a gente coloca um conteúdo no digital, estamos atendendo aquela pessoa que não pode comprar um pay-per-view ou ver o clube no estádio, mas acompanha o time do jeito que pode. Com isso, conseguimos transformar o clube em plataforma transmídia de maneira muito profissional.

Real Time

Temos contratos ativos de direitos de transmissão dos jogos do Brasileiro e do Carioca. Mas, por outro lado, a gente tem experimentado a transmissão dos jogos da base e do feminino pelas redes sociais. Nosso Twitter, quando a gente transmite essas partidas, sempre bomba, o torcedor vibra, comenta. Reage muito bem. Tivemos um crescimento grande na FlaTV com as transmissões ao vivo. A partir de 2019, a gente vai poder fazer transmissões internacionais por streaming. Estamos experimentando como o público reage, mas, hoje, grande parte da nossa receita vem dos direitos de transmissão dos grandes campeonatos e não dá para abrir mão disso. O valor equivale a um terço da receita, é bastante representativo e demonstra o grande valor que a TV hoje tem com os conteúdos ao vivo.

Além do Óbvio

Hoje a gente já rentabiliza toda a nossa presença digital. Se eventualmente o patrocinador não aparecer na camisa, ele vai aparecer num vídeo ou os próprios jogadores podem promover o produto. As marcas podem estar presentes no centro de treinamento e nos vestiários também. Nosso maior ídolo, o Zico, já participou de um evento em conjunto com a Uber, por exemplo. As pessoas que pedissem o UberFla iriam para uma sessão de autógrafos e fotografias com o Zico. Trabalhamos essa rentabilização de forma intensa.

e-Sports

A gente está há pelo menos um ano pensando, em parceria com a Cursor, uma estratégia para o Flamengo ter um time de e-Sports. Ainda há alguns detalhes, mas já foi aprovado pelo nosso conselho, e o próximo passo é fazer o lançamento oficial e montar o time selecionando atletas conhecidos ou desconhecidos do mercado. Dentro desse processo de pesquisa, a gente identificou quais modalidades estavam crescendo, quais mais geravam audiência e engajavam os jovens e o League of Legends mostrou-se como o principal dentro dessa análise, não só pelo ponto de movimentação financeira como crescimento no Brasil, então decidimos começar por aí.

Lojas 

O Flamengo não é um clube regional. Somos líderes em 24 dos 27 estados quando há transmissão de jogos. A gente só perde no Paraná, São Paulo e Rio Grande do Sul. Temos público no Brasil inteiro, daí nosso interesse na construção de uma rede de lojas forte, não só no estado do Rio, mas no Brasil inteiro. Além disso, ampliar a rede de escolinhas, que há até pouco tempo era trabalhada de forma orgânica dentro do clube, mas não necessariamente dentro da gestão que uma franquia exige, então estamos reformulando.

Patrocínios

Diversificar já é a nossa realidade. Nós já temos mais de R$ 100 milhões em patrocínios. Desses, de R$ 25 milhões a R$ 30 milhões são da Caixa Econômica Federal, patrocinador máster, mas temos outras fontes. A Ambev, no movimento Por um futebol melhor; tivemos a Uber, que acabou recentemente o contrato e estamos discutindo renovação; o iFood… Enfim, patrocinadores que não aparecem necessariamente na camisa, mas em outras mídias. A gente trabalha consistentemente nisso porque, no caso de um revés, de uma mudança política, não ficamos reféns ou na mão de apenas um patrocinador.

Torcedor

O Flamengo é um clube que a gente chama de top ao pop. Somos líderes em todas as classes sociais. No Rio, somos 51% dos cariocas e flumineses e representamos quase 25% do restante do país. A nossa preocupação de tornar o clube forte é para que a gente possa atender a todas as classes sociais e perfis de torcedores.