Sistema de estados sobrepostos pode substituir a lógica binária utilizada na computação clássica
A humanidade nem entendeu direito o potencial de impacto da inteligência artificial, e já encara outra faceta tecnológica pronta para abarcar no planeta. Ou em mundos paralelos? A nova aventura vem da física quântica, área da ciência que estuda o comportamento de partículas extremamente pequenas, com potencial para impulsionar avanços expressivos na tecnologia, medicina, biologia, no ramo de energia, entre outras.
O universo quântico retratado na ficção da saga de ‘Homem-Formiga’, da Marvel, está bem longe. Mas a realidade flerta com a mudança do sistema binário clássico da computação, o bit ou a menor parcela de informação processada por um computador, para o quantum bit ou qbit, operado conforme os princípios da mecânica quântica para combinar dois estados sobrepostos.
A velocidade de processamento de informações é muito mais veloz e deve dar uma guinada nas estratégias data-driven das marcas pela sua gigantesca capacidade para cálculos e a resolução de questões complexas.
“Computadores quânticos são capazes de resolver problemas impossíveis de serem solucionados pela inteligência artificial”, diz Charina Chou, chief operating officer no Google Quantum AI, projeto de desenvolvimento de computadores quânticos em escala, que apresentou o painel ‘Quantum computing—The what, why, and when’, mediado por Reed Albergotti, fundador e editor de tecnologia da Semafor, onde realiza uma ampla cobertura do universo da tecnologia.
A conversa ocorreu na manhã desta quarta-feira (12), durante a 39ª edição do South by Southwest (SXSW), festival de inovação realizado entre os dias 7 e 15 de março, em Austin, no Texas (EUA).

Com 105 qubits, o Willow, computador quântico do Google lançado em dezembro, solucionou em apenas cinco minutos uma questão que tomaria dez septilhões de anos para supercomputadores. O teste de desempenho foi realizado no benchkmark de amostragem de circuito aleatório (RCS, na sigla em inglês), que traça comparativos com os computadores convencionais. Já a Microsoft acaba de anunciar o chip quântico Majorana I.
Charina lembra que a própria natureza tem a sua origem na mecânica quântica. “Ela está na corrente elétrica do coração, nos átomos e moléculas, árvores e flores, nas células do nosso corpo, e reações químicas acontecem por dentro, moldando o que vemos. Temos pessoas estudando essa linguagem complexa dos elétrons e átomos. Há avanços, mas não conseguimos calcular exatamente das propriedades da maioria das moléculas do universo. A habilidade de utilizar um computador quântico para escalar a mecânica quântica será um divisor ”, explica a PhD em nanotecnologia.
Segundo Charina, há diferentes abordagens sendo pesquisadas, e ainda não há dados para que a inteligência artificial possa aprender. “É crítico que os estudos continuem, que o investimento em ciência aumente. China e Europa apresentam papel importante na colaboração com países interessados em pensar na engenharia, na força de trabalho , em componentes e condutores”, alerta.
Para além dos cálculos, as pesquisas navegam por diversas áreas. Da medicina à fusão nuclear, o desafio é descobrir aplicações úteis, que devem chegar dentro de aproximadamente cinco anos. “O estimulante de ser um cientista é investigar alternativas que não sabemos”, comenta Charina. Ela recomenda que as pessoas se informem e se atentem ao que dizem os especialistas para evitar desinformação. “Segurança e transparência no desenvolvimento são fundamentais em tempos de códigos abertos”, ressalta.
As oportunidades estão postas também para os jovens, que experimentarão novas possibilidades dentro de cerca de 10 anos. Estimular o estudo da matemática, ciência é essencial para formar profissionais capazes de aprender e conhecer implementações para a solução de problemas futuros.
“Não sei se quem já diz usar a computação quântica para resolver problemas realmente está realmente recebendo respostas úteis”, alerta. Segundo Charina, há no momento uma conjunção de forças de big techs, como Amazon, na direção de correções quânticas, um dos principais desafios da computação quântica. O desenvolvimento de chips e hardwares capazes de suportar os computadores quânticos é outro ponto de atenção, ao lado de algoritmos que consigam definir quais as melhores aplicações.
“Particularmente, trabalhar com soluções para o tratamento do câncer é a minha opção favorita”, revela Charina. As pesquisas exploram também o potencial da computação quântica na otimização de processos, “mas as aplicações ainda não são claras”.