Estudos da Nuvemshop com a Opinion Box e da Cadastra com a Similarweb apontam mudanças simultâneas no comportamento
O avanço do e-commerce no Brasil acontece em paralelo à transformação da busca digital, impulsionada pela adoção crescente de ferramentas de IA generativa. É o que indicam dois estudos recentes: o relatório ‘E-Consumidor 2026’, da Nuvemshop em parceria com o Opinion Box, e a pesquisa ‘O Futuro da Busca’, desenvolvida pela Cadastra e pela Similarweb.
Segundo a Nuvemshop, o país registrou crescimento de mais de 27% no número de consumidores online no 1º trimestre de 2025 em comparação com o mesmo período do ano anterior. A expansão convive com um comportamento mais criterioso: 4 em cada 10 consumidores relatam cansaço diante do excesso de informações e ofertas — fenômeno identificado no estudo como “neofobia”. Esse movimento tem levado parte do público a priorizar ambientes de compra considerados mais familiares e previsíveis.
Ao mesmo tempo, a forma como os produtos são descobertos e avaliados muda rapidamente. A análise da Cadastra/Similarweb mostra que o ChatGPT domina 99% do mercado de IA generativa no Brasil, com 310,67 milhões de acessos em agosto de 2025, alta de 124% em um ano.
O país já é o terceiro maior em tráfego global para ferramentas desse tipo, atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia. Entre janeiro de 2023 e agosto de 2025, o ChatGPT enviou mais de 6,1 milhões de visitas de referência aos dez maiores e-commerces brasileiros.
Essa expansão deu fundação ao GEO (Generative Engine Optimization), disciplina que amplia o SEO tradicional. A visibilidade passa a depender não apenas do ranqueamento em buscadores, mas da frequência com que conteúdo e marcas são citados por modelos de linguagem. Nesse cenário, indicadores como taxa de cliques perdem relevância para métricas como densidade de menções e referrals.
A mudança também altera o padrão das consultas. Segundo a Cadastra, buscas feitas em ferramentas de IA são, em média, cinco vezes mais longas que as tradicionais — 23 palavras por prompt — e geram sessões superiores a sete minutos. A tendência de compressão da jornada aparece em novos recursos como o ‘Instant Checkout’, que permite finalizar compras sem sair da plataforma, já disponível nos Estados Unidos.
Convergências nas análises
As duas pesquisas convergem ao indicar que, diante de um ambiente mais complexo, o consumidor busca segurança e previsibilidade. O ‘E-Consumidor 2026’ mostra que 69% sentem mais confiança na originalidade de produtos vendidos em lojas virtuais das próprias marcas.
Além disso, mais da metade afirma preferir comprar diretamente nesses sites quando preço e prazo de entrega são iguais aos dos marketplaces. A taxa de recompra também é mais alta no canal direto: 46,5%, ante 30% nos marketplaces.
As barreiras continuam concentradas em logística e experiência. Fretes altos (57%), prazos longos (35%), desconhecimento da loja (22%) e poluição visual (19%) aparecem entre os principais fatores de desistência. Já os benefícios mais valorizados incluem frete grátis (67,5%), pontos de fidelidade (33%) e descontos cumulativos (32,5%).
O uso de IA reflete ainda particularidades por setor. Segundo a Cadastra, categorias como beleza e moda apresentam alto volume de buscas relacionadas a sustentabilidade, estoque e disponibilidade; farmácias concentram consultas sobre comparação de preços; e viagens mobilizam rotinas cotidianas nos apps de transporte e planejamento.
O perfil dos usuários também é marcado pela participação dos mais jovens: 60% dos usuários do ChatGPT no Brasil têm entre 18 e 34 anos.
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