Tecnologia chinesa lançou, nesta semana, seu primeiro modelo de inteligência artificial

A inteligência artificial DeepSeek se tornou um dos tópicos mais comentados do setor de tecnologia durante esta semana. A startup chinesa, fundada em dezembro de 2023 por Liang Wenfeng, movimentou o mercado ao lançar seu primeiro modelo de IA.

Com um desempenho competitivo e um custo de desenvolvimento inferior ao de suas rivais americanas, a DeepSeek está sendo apontada como uma grande ameaça às gigantes de tecnologia como OpenAI, Microsoft e Meta.

Impacto no mercado

A DeepSeek surgiu como um braço de pesquisa da High-Flyer, um fundo quantitativo de US$ 8 bilhões, com o objetivo de desenvolver modelos de IA altamente eficientes e acessíveis. Seu carro-chefe, o modelo DeepSeek-R1, tem sido comparado a soluções da OpenAI e da Meta, mas se destaca por ter sido treinado com um orçamento estimado em US$ 6 milhões, inferior aos mais de US$ 60 milhões necessários para desenvolver o Llama 3.1, da Meta.

O rápido crescimento da DeepSeek gerou reações imediatas. Seu assistente de IA se tornou o aplicativo mais bem avaliado na App Store dos Estados Unidos, ultrapassando o ChatGPT. Ele também está entre os aplicativos mais baixados no Brasil. Ao mesmo tempo, as ações de empresas como Nvidia, Microsoft e Meta foram afetadas pela notícia de que um concorrente de baixo custo poderia alterar a dinâmica do mercado de IA.

Em meio à repercussão, a DeepSeek fez lançamento do artigo “Incentivando a capacidade de raciocínio em LLMs por meio do aprendizado por reforço”, que acirrou ainda mais o debate. O estudo revelou que a DeepSeek conseguiu alcançar um desempenho equiparável ao de modelos de ponta utilizando chips considerados de segunda linha.

“O DeepSeek, mais do que um modelo potente, é a prova de uma mudança de pensamento. Enquanto o Vale do Silício investiu bilhões de dólares, seus criadores chegaram a um resultado competitivo com apenas US$ 5 milhões. Sem acesso aos chips mais poderosos da Nvidia, foram obrigados a pensar diferente, a questionar o status quo e enxergar novos ângulos. Mais do que um avanço tecnológico, isso representa uma mudança cultural, onde fazer as perguntas certas se torna mais valioso do que simplesmente encontrar respostas”, analisa Vitor Elman, copresidente da Cappuccino e membro do Comitê de Inteligência Artificial da IAB Brasil.

Disputa com OpenAI

A OpenAI afirmou ao Financial Times que há indícios de que a startup chinesa teria utilizado dados do ChatGPT para treinar seu próprio modelo. A Microsoft e a OpenAI iniciaram uma investigação para apurar um possível vazamento de dados, alegando que informações sensíveis foram acessadas sem autorização por um grupo ligado à DeepSeek.

O governo dos Estados Unidos também entrou no debate David Sacks, líder de IA e criptomoedas da Casa Branca, declarou à Fox News que há “evidências substanciais” de que a DeepSeek pode ter se apropriado indevidamente de propriedade intelectual americana.

Donald Trump também entrou na conversa e declarou que o avanço tecnológico chinês é uma ameaça à competitividade americana e que as empresas dos EUA precisam “competir para vencer”.

Desafios regulatórios

Os desafios da DeepSeek se espalham pelo mundo. A crescente popularidade da IA também chamou a atenção de reguladores europeus. Nesta quarta-feira (29), a Itália determinou a remoção do aplicativo das lojas virtuais Google Play e App Store, alegando preocupações com a privacidade dos usuários. A startup tem 20 dias para fornecer esclarecimentos sobre como armazena e gerencia dados.

O que esperar?

A proposta da DeepSeek de democratizar a IA através de soluções de código aberto e baixo custo tem gerado otimismo. Elman conta que ao democratizar o acesso ao modelo, o DeepSeek permite que mais pessoas participem ativamente desse processo, tornando a construção da IA mais diversa, justa e menos suscetível a vieses nos códigos que a estruturam.

“Além disso, seu custo reduzido de investimento e menor consumo de energia o tornam uma opção mais sustentável para todos. Eu vejo apenas benefícios nesse movimento. O verdadeiro risco para o mercado de IA não está na abertura, mas no monopólio do controle, como aconteceu com a internet — e cujas consequências sentimos até hoje”, conclui o profissional.

Para Cristóvão Wanderley, sócio-diretor da Stratlab, especialista em tecnologia, inovação e dados e participante do programa LinkedIn Creators, o DeepSeek se destaca pela promessa de democratizar a IA, mas não deve substituir nenhuma outra tecnologia.

"Sua proposta de ser mais barato e de código aberto lembra, para muitos, a chegada do Linux à indústria da tecnologia, que trouxe uma alternativa ao software proprietário e revolucionou segmentos específicos, mas, no entanto, não substituiu os grandes sistemas operacionais comerciais. O mesmo pode acontecer com o DeepSeek. Precisamos ainda confirmar, na prática, a escalabilidade e a confiança em uma ferramenta nova", explica.