Relatório ‘Generative Realities’ aponta tensão entre aceleração tecnológica e busca por reconexão humana

A Dentsu Creative lançou o relatório de tendências 2026, ‘Generative Realities’, que analisa as forças culturais e comerciais que vêm moldando o comportamento do consumidor em diferentes mercados. O estudo revela um cenário que, ao mesmo tempo em que cresce a adoção da inteligência artificial no cotidiano, aumenta o cansaço em relação à mediação constante da tecnologia e aos efeitos da vida digital.

De acordo com a pesquisa global conduzida pela Dentsu com 4.500 consumidores em sete países (Estados Unidos, Reino Unido, Índia, Espanha, Brasil, China e Japão), 53% das pessoas já utilizam IA em suas vidas pessoais, índice que chega a 70% entre a geração Z. Em contrapartida, 55% afirmam estar cansados de algoritmos que recomendam conteúdos semelhantes, e 50% dizem tentar reduzir o tempo de tela.

Desenvolvido sob a liderança de Pats McDonald, chief strategy officer global da Dentsu Creative, o relatório foi estruturado em cinco macrotemas, cada um apoiado por três sub-tendências, com o objetivo de identificar o que é emergente, relevante e duradouro para marcas e negócios.

O primeiro eixo, ‘Escape Velocity’, aponta o uso crescente da fantasia, do entretenimento e de narrativas de conforto como resposta às pressões da vida contemporânea. A pesquisa indica que 70% dos consumidores consideram a vida moderna estressante a ponto de sentirem necessidade de escapar, o que ajuda a explicar o avanço de fandoms, colecionáveis e estéticas associadas ao “fofo”.

Em ‘Electric Dreams’, o estudo aborda a relação cada vez mais íntima entre pessoas e tecnologias baseadas em IA. Segundo os dados, 32% dos entrevistados afirmam que, em alguns momentos, sentem que a IA os entende melhor do que amigos ou familiares, enquanto 51% recorrem a essas ferramentas para perguntas que antes fariam a pessoas próximas. Ao mesmo tempo, surgem preocupações éticas em torno de conteúdos massificados e de criadores virtuais hiper-realistas.

Já Trad Lives evidencia um movimento de reconexão com a natureza, a vida comunitária e valores tradicionais. Globalmente, 75% dos consumidores dizem sentir-se atraídos a passar mais tempo ao ar livre, e 64% afirmam interesse por modos de vida associados à tradição, em um contexto que combina práticas analógicas e uso estratégico da tecnologia.

O quarto tema, ‘Alone Together’, trata da busca por novas formas de socialização em resposta ao aumento da solidão. O levantamento mostra que 63% dos consumidores passam muito tempo sozinhos, enquanto 50% demonstram interesse em formatos alternativos de convivência, percentual que chega a 58% entre a geração Z.

Por fim, ‘Analog Futures’ destaca a rejeição à uniformidade algorítmica e à exaustão digital. O interesse por dispositivos com funcionalidades básicas, estética analógica e processos artesanais aparece como reação à hiperconectividade. Segundo o estudo, 40% dos entrevistados concordam que o ambiente online é tão estressante que tentam se desconectar o máximo possível, índice que sobe para 45% entre os mais jovens.

“Estamos vendo surgir um novo equilíbrio entre aceleração e desaceleração. As pessoas desejam tanto o hiper-real quanto o artesanal, o digital e o profundamente humano. É nessa tensão que reside a oportunidade para as marcas em 2026. Em meio a fricções conflitantes, fandoms diversos que antes permaneciam invisíveis vieram à tona. Com talentos criativos diversos e apaixonados em várias áreas, venceremos o algoritmo”, afirma Yasu Sasaki, global chief creative officer da dentsu.

Na avaliação de Marília Gallindo, diretora de estratégia da Dentsu Brasil, muitas dessas transformações já se refletem de forma concreta no consumo. “Não à toa, muitas dessas tendências já aparecem de forma concreta nos feeds, na rotina e no consumo — a ponto de objetos simples, como as canetas Bobbie Goods, estarem à frente do iPhone na lista de presentes mais desejados para esse Natal”.

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