Marianna Souza faz um balanço de 2025 e fala também sobre o desafio do mercado em ter concorrências mais transparentes
CEO da Apro (Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais) e da FilmBrazil, Marianna Souza faz na entrevista a seguir um balanço de 2025 e fala sobre a realização do Whext, que ocorreu na segunda-feira (8), no Masp, em São Paulo. A executiva afirma que não foi um dos melhores anos para a produção audiovisual brasileira diante de desafios crescentes como o uso de IA, a concorrência com as produções in-house nas agências e a informalidade do mercado, com o surgimento das “microprodutoras”. Ao mesmo tempo, destaca a potência do audiovisual brasileiro, que mostra sua força no mercado internacional. Para ela, a liberdade criativa, junto com a autenticidade, “é o que vai fazer a diferença nesse tempo em que as ideias estão cada vez mais parecidas, meio homogeneizadas”.
2025
Foi um ano desafiador, porque a gente teve uma presença mais ativa das produtoras in-house, dentro dos grupos e nas concorrências. Eu acho que isso mudou a dinâmica do jogo. A gente teve, bem ou mal, o início de produções 100% produzidas com IA, que também mudaram um pouco a dinâmica do jogo. Mas, em compensação, tivemos a entrada de investimento das plataformas de streaming, enfim, de todas as possibilidades de entretenimento que as produtoras acabaram se debruçando e abrindo outras frentes. Então, em resumo, não foi o melhor ano de todos, certamente não. Mas eu acho que foi um ano com saldo positivo e a expectativa é que, em 2026, a gente tenha um ano melhor. Estamos avançando na aprovação do marco regulatório do streaming no Congresso, por exemplo. Tivemos uma vitória importante, aprovando a redação do deputado Luizinho no plenário geral da Câmara e a expectativa é entrar em 2026 com esse projeto aprovado (no Senado), o que vai injetar um dinheiro novo no mercado. E é um ano de Copa. Tradicionalmente, em anos de Copa e Olimpíadas, o mercado tem um volume maior de produções circulando.
Desafios
Falando dos desafios da produção audiovisual nacional, eu acho que o primeiro grande desafio é a aprovação do marco regulatório do streaming. Eu acredito que esse realmente será um divisor de águas se a gente conseguir entrar em 2026 com essa lei aprovada. Então, eu acho que esse é o primeiro ponto. O segundo ponto é a questão da IA, que obviamente a gente ainda está entendendo qual vai ser o impacto disso nas produções. O mercado tende a achar que vai ser uma ferramenta importante para as produtoras, mas ao mesmo tempo as produtoras que souberem utilizar vão sair na frente. As produtoras que certamente não utilizarem vão ficar para trás. A qualificação das nossas produtoras é um desafio interno também da Apro. E, obviamente, todas essas questões relacionadas à concorrência com produtoras in-house nas agências.

Transparência
O desafio é conseguir ter concorrências mais transparentes, mais éticas, respeitando questões e padrões mínimos de transparência, para garantir que o processo seja justo, com informações igualitárias para todas as partes envolvidas. Um grande desafio de mercado também é evoluir em políticas de atração de produções internacionais. A gente vê outros países com políticas superagressivas. E o Brasil tem iniciativas pontuais no Rio, em São Paulo, mas, de fato, a gente precisa de uma política nacional bem agressiva para conseguir atrair mais produções para o país. Entrar no mapa de verdade, que eu acho ser um ponto importantíssimo para conseguir alçar voos mais longos, quando a gente fala de produção internacional aqui.
Potência Audiovisual
Por outro lado, o mercado brasileiro é muito sólido e consistente. A gente tem toda uma estrutura, vamos dizer assim, organizacional, muito bem construída, do ponto de vista técnico. Temos uma equipe técnica extremamente qualificada, tanto é que muitos hoje trabalham fora. É comum a gente ver diretores de fotografia, diretores de arte e montadores trabalhando em outros mercados, como Estados Unidos e Reino Unido, que são extremamente exigentes. A gente vê hoje a presença de profissionais brasileiros nesses mercados, o que comprova que a nossa equipe realmente está num nível de qualificação muito alto e, acho, com bons projetos rolando. Não só na publicidade, mas no entretenimento também. Vamos lembrar que foi o ano que o Brasil trouxe o primeiro Oscar (com ‘Ainda estou aqui’) e o Globo de Ouro de atriz para a Fernanda Torres. Então, acredito que a gente vive hoje um momento de mercado muito bom, muito positivo, e o mundo reconhece a potência do audiovisual brasileiro. Eu acho que agora o desafio é conseguir manter essa onda, continuar surfando essa onda. Agora, temos o filme ‘O agente secreto’, com Wagner Moura, com tantas críticas positivas, além de séries feitas no Brasil ganhando primeiro lugar em audiência. A gente acredita que tem muito potencial.
Leia a íntegra da matéria na edição impressa de 8 de dezembro.