Em um papo que abordou estereótipos na publicidade, igualdade de gêneros, fake news, privacidade, planos  e luto, Sheryl Sanders, COO do Facebook, conquistou a plateia do Cannes Lions em um papo com a jornalista Caroline Hyde, da Bloomberg. Naturalmente, o bate-papo caminhou para as questões mais delicadas que envolvem a plataforma, mas Sheryl saiu-se bem: admitiu os erros, disse que não pode garantir que não haverá outros no futuro e afirmou não ter saído porque acredita muito no projeto Facebook, criado para dar voz àqueles que nunca teriam voz – tornar visíveis os invisíveis. Na mesma linha de raciocínio, ela falou sobre a criptomoeda que o Facebook tem a intenção de lançar com outros parceiros, ainda sem data marcada, para promover o acesso ao sistema financeiro a pelo menos 1 bilhão de pessoas que estão fora dele.

Sobre os erros cometidos no evento “Cambridge Analytica” durante as eleições de Trump, Sheryl disse que a plataforma tem investido muito para proteger a privacidade das pessoas e que adotou  todas as regras do GDPI europeu, mesmo aquelas que não estão vigentes nos Estados Unidos, e o que precisa ser feito daqui para frente é torná-las mais claras a usuários em geral – seja pessoas ou empresas. Sheryl diz que a plataforma estabeleceu novas bases de relacionamento com Governos. 

Ela acredita que este é o momento em que novas regras serão escritas e estabelecidas para evitar problemas semelhantes aos do passado.

“Tenho tentado fazer o meu melhor e sei que tenho grandes responsabilidades. Cometi erros, de fato não nos demos conta de que as pessoas podiam espalhar notícias falsas, e temos investido milhões, trabalhando com especialistas de 28 países, para combater isso. Tiramos do ar, por dia, 1 milhão de contas falsas. E sabemos que o futuro trará ameaças que sequer foram inventadas. Estamos ávidos por regras, e sabemos que empresas como a nossa não deveriam ter de tomar tantas decisões como fazemos atualmente”, disse. 

Sobre a proposta de reduzir o poder de empresas como o Facebook, quebrando sua hegemonia, Sheryl disse que certamente empresas de tamanho semelhante na China não serão reduzidas ou divididas, e manterão seu poder dominando o mundo. 

“Entendo que as pessoas estejam preocupadas com o tamanho das empresas de tecnologia nos Estados Unidos, seja nós ou outros players. Temos grande impacto no mundo e com isso vem grande responsabilidade. Anti-trust é essencialmente sobre escolha de consumidores e benefícios para eles. Há escolha, as pessoas não são obrigadas a usar nossas plataformas. Elas escolhem fazer isso, e podem deixar de fazer quando quiserem. Em tudo o que fazemos, deixamos a escolha para as pessoas e uma das maneiras de fazer isso é possibilitar a portabilidade de dados. Hoje em dia as pessoas podem tirar todos os dados do Facebook, fazer download ou transferir para outros serviços, algo que vários de nossos concorrentes não permitem”, disse Sheryl. 

Ela afirma que um dos aprendizados das crises recentes é a necessidade de parar e questionar aquilo que deu errado. 

“Sempre que algo dá errado, sentamos, conversamos, analisamos o que deu errado. E aprendemos com isso. Não apontamos dedos, não demitimos um bode espiatório, e tenho orgulho de dizer que construimos uma cultura em que mergulhamos nos problemas e buscamos soluções. Isso não significa que não erraremos mais, mas arregaçamos as mangas e procuramos ser honestos sobre onde os problemas ocorreram”, disse. 

Ela e Mark Zuckerberg não abandonaram o barco porque, segundo ela, criaram o projeto, montaram as equipes, e têm melhores condições de corrigir os erros. 

“Me sinto responsável por ficar, e consertar.”, concluiu.