Vídeos toscos e cheios de erros, incompreensíveis, quase non-sense são fenômenos de audiência no YouTube e chamam a atenção para uma realidade incontestável: nada mais é óbvio ou previsível e os especialistas em identificar cultura e tendências na plataforma como Kevin Allocca, hoje se preocupam em identificar valores escondidos, com potenciais que quase ninguém é capaz de enxergar de cara.  Ficou difícil dividir os vídeos em tipos ou  categorias, pois tudo se mistura um pouco. Will Smith faz um tipo de vlogging, enquanto Rihanna faz tutoriais de maquiagem e o ator Jack Black virou um gamer que faz vídeos hilariantes.

“A maior parte do conteúdo que se produz no YouTube hoje não se encaixa em definições tradicionais: as pessoas constroem conteúdo que fala de suas personalidades e identidades, distanciando-se de categorizações que em outros tempos nos foram tão familiares. Há toda uma geração de jovens dispostos a abandonar todos os conceitos que aprendemos a aceitar em termos de entretenimento.”, destacou. 

E dentro deste universo tão impressionante repleto de perspectivas muito pessoais em que cada um faz o que deseja fazer sem se preocupar com rótulo algum,  há duas tendências interessantes apontadas por Alloca. A primeira delas se chama Anti-Premium Imperfection. Trata-se na verdade, de um jeito de fazer vídeos tosco, cheio de erros, de uma autenticidade desconsertante, e que tem feito muito sucesso em audiência. 

“É um tipo de contra-cultura, que se choca com os vídeos super perfeitos e elaborados que vemos normalmente.  Há inclusive artistas que produzem material intencionalmente nesta linha como Bill Wurtz, que faz muito sucesso na internet. Seus vídeos têm milhões de visualizações, um deles de 20 minutos ultrapassou 60 milhões de visualizações”, ele diz. 

https://youtube.com/watch?v=eNxMkZcySKs%26nbsp%3B

Emma Chamberlain é outro exemplo desta tendência:

Outra tendência é o chamado “Conteúdo sem contexto imediato”.  São vídeos sem qualquer sentido, em que as pessoas fazem coisas estranhas e esperam que alguém goste ou curta por algum motivo.  Por sinal, vídeos conceitualmente sofisticados acabam gerando uma sucessão de vídeos a respeito deles, como ocorreu com This is America, de Childish Gambino. Lançamentos de filmes e outros temas populares costuma gerar milhões de vídeos explicativos e interpretativos.

“Pelo menos metade da audiência americana assiste vídeos que explicam outros conteúdos e vídeos. Vivemos uma linha tênue entre experiências pessoais e coletivas”, disse Alloca. 

O especialista comentou ainda, dentro desta tendência de conteúdo popular que não se encaixa necessariamente em conceitos pré-concebidos o ASMR, vídeos de pessoas que fazem sons e barulhos para relaxar, por exemplo, até mesmo dormir. Ou se filmam comendo ou limpando a casa, como uma forma de ter companhia ou algum tipo de incentivo para realizar aquelas tarefas.