Cyberbullying, desafios mórbidos e comparações cruéis devastam a autoestima de jovens cada vez mais dependentes dos celulares
Morte influenciada pelas redes sociais não é prerrogativa de roteiro da Netflix. No dia 22 de dezembro de 2023, Jéssica Vitória Canedo, de 22 anos, se suicidou após sofrer cyberbullying por um relacionamento com o humorista Whindersson Nunes que nunca aconteceu. Mesmo após desmentido, redes de fofocas incendiaram a mentira agravada pelo quadro de depressão da jovem. Aos oito anos, Sarah Raíssa Pereira de Castro morreu após participar de um desafio postado como se fosse uma brincadeira. Ela inalou o gás de um desodorante em aerossol e sofreu uma parada cardiorrespiratória no último dia 13 de abril.
Na ficção, a minissérie britânica ‘Adolescência’ trata de assassinato. Jamie Miller, 13 anos, mata uma colega de classe, Katie, que o humilhava diante dos amigos. O escárnio tromba com o estereótipo do típico machão inconformado com a repulsa feminina. A história de Stephen Graham e Jack Thorne imita o flagelo do bullying, que atormenta estudantes perdidos por corredores de escolas tão inóspitas quanto as redes sociais.

A celeuma não é nova. Quatro olhos, boca mecânica, rolha de poço. Ofensas disfarçadas de piadas e surras em troca de favores instigam a crueldade comum a adolescentes desesperados por reafirmação. Ora pedem colo, ora querem fugir de casa. A fase de transição, instabilidades, revoltas e questionamentos já foi cantada por Renato Russo na década de 1980, quando os jovens ainda escreviam cartas e usavam fichas para telefonar dos extintos - e inofensivos - aparelhos públicos, os antigos orelhões.
“Ninguém sabe o que aconteceu. Ela se jogou da janela do quinto andar. Nada é fácil de entender”, lamenta o líder do Legião Urbana em ‘Pais e filhos’. Mas Renato Russo talvez não imaginasse o descontrole potencializado por algoritmos que hoje lucram à custa de julgamentos, mentiras e ameaças - extraem o que o ser humano tem de mais sórdido. Controlar o tempo e o conteúdo que os filhos acessam na internet empurra pais e responsáveis para um buraco que oscila entre o pavor de invadir a privacidade dos adolescentes, a vergonha de levantar tabus e a inércia diante de situações extremas.
Mas o arrependimento é certo, e bate forte. Na última cena de ‘Adolescência’, o pai de Jamie é o retrato da culpa. “Eu deveria ter feito melhor”, suplica aos prantos Eddie Miller, interpretado por Graham, coautor da obra lançada pela Netflix no dia 13 de março de 2025. “Vejo muitos pais perdidos, exaustos, tentando conciliar trabalho, autocuidado e o desafio de formar filhos num mundo que não tem botão de pausa”, observa Rafael Terra, professor de marketing digital da ESPM e escritor do livro ‘Bem-estar digital’.
Leia a matéria completa na edição do propmark de 5 de maio de 2025