Depois de 98 anos se sustentando como um produto impresso, a Gazeta do Povo rompeu os laços com as páginas standard para se tornar um jornal digital. O título paranaense do GRPCOM (Grupo Paranaense de Comunicação) investiu R$ 23 milhões em tecnologia para mudar o paradigma em sua produção jornalística. 

A partir do dia 1º de junho, a publicação de notícias será totalmente realizada nas plataformas móveis. Para essa transformação, explica Guilherme Pereira, presidente do GRPCOM, o grupo adotou o conceito mobile first e num modelo econômico baseado em assinaturas, não mais em publicidade. “Antes, 70% da receita vinha da publicidade e 30% da assinatura. Invertemos isso com base em pesquisas que fizemos sobre o subscriptions first. A proporção de pessoas, no mundo, dispostas a pagar por notícia ainda é pequena. No entanto, se nós conseguirmos que 3% dos paranaenses (aproximadamente 300 mil pessoas) assinem, já conseguimos viabilizar o novo formato”, explica Pereira.

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O inventário do site estará focado, principalmente, em branded content e em mídia programática. A Gazeta do Povo é o quinto maior jornal do Brasil, segundo o ComScore. O crescimento, afirma Pereira, foi de 90% nos últimos dois anos. Ainda existe, entretanto, a possibilidade de avançar dentro do Paraná, por se tratar de uma publicação muito forte em Curitiba e com menor penetração em outras cidades do estado. “Nós acreditamos que é preciso ter excelência de conteúdo e de tecnologia para fazer a digitalização. O papel se tornou secundário porque queríamos ver o futuro. Além disso, estamos usando a geolocalização para personalizar a entrega de conteúdo”, esclarece o executivo do GRPCOM.

A transição de um jornal tradicional tem sido realizada com algumas estratégias. Os assinantes estão sendo informados das mudanças e migrando seus contratos para a versão digital, que inclui uma edição semanal impressa aos sábados com assuntos aprofundados, além das revistas mensais Haus e Bom Gourmet. “Uma colunista foi convidada para responder, pessoalmente, às dúvidas enviadas pelos leitores. Além disso, estamos dando um curso gratuito para os leitores mais velhos que desejam se digitalizar. Queremos promover a inclusão social e digital com esse novo projeto”, explica Pereira.

À frente do projeto editorial, o diretor de redação Leonardo Mendes Jr. destaca as mudanças não só no formato, mas também nos conteúdos publicados. “Os jornalistas ganharam ferramentas para produzir não só textos, mas fotos, vídeos e lives, além de poder sair da redação e voltar para rua, perto de onde as coisas acontecem”.
O projeto faz um caminho inverso na sua concepção tecnológica. Ser mobile first significa que a plataforma é criada para a navegação mobile e se adapta ao desktop. Essas mudanças já estão valendo desde o dia 1º de maio.

Jornalismo Impresso

Mônica Rodrigues Costa, professora da Faap, analisa essas mudanças ressaltando que, independentemente da crise do jornalismo impresso, é preciso que esse formato continue existindo.

“A solução que daremos para isso ainda não foi encontrada, mas a sociedade precisa trabalhar para manter as duas formas, impressa e digital. Essa discussão precisa ser feita porque seria perder um gênero e um formato jornalístico”, explica Mônica.

A vida digital não tem volta, no entanto é necessário focar na credibilidade do conteúdo. “Essa mesma juventude que faz o digital ter força precisa encontrar um destino para o jornal impresso, porque é respeito por uma indústria que precisa manter jornalistas no mercado de trabalho”, afirma a professora.

A mobilidade do jornalismo, segundo Mônica, precisa ser completa. “A mobilidade tem de ser realizada de fato, não só na plataforma, mas na atitude do jornalista. A eficiência da publicação móvel dá maior liberdade à imprensa e oferece mais conteúdo aos leitores, que não passa mais pelo gatekeeping por falta de espaço, por exemplo”.