Conceito visa a promoção do bem-estar e a motivação dos funcionários em busca de um maior equilíbrio entre vida pessoal e profissional
Um novo modelo de relações do trabalho vem sendo adotado por empresas no Brasil. Conhecido como gestão da felicidade, seu objetivo é melhorar cada vez mais o ambiente profissional, valorizando o bem-estar e a motivação dos funcionários, numa aposta para evitar afastamentos, reduzir turnover e melhorar a produtividade. Entre as estratégias, destaque para a promoção do equilíbrio entre vida pessoal e profissional, permitindo que as pessoas tenham mais tempo e condições para cuidar de si e de suas famílias.
“O conceito de gestão da felicidade está totalmente conectado ao modelo de gestão estratégica de pessoas, pois visa a oferecer uma experiência respeitosa e diferenciada para os empregados, employee experience, em troca da qualidade de suas realizações e do compromisso com o desempenho combinado. Neste caso, os papéis e responsabilidades precisam estar muito claros para o empregado, com alinhamentos contínuos, para que o empregado se envolva e se engaje com o combinado e com a empresa. Não se pode oferecer felicidade para as pessoas, pode-se oferecer um ambiente adequado e seguro de trabalho, com processos e sistemas que permitam às pessoas saberem claramente o que se espera delas, utilizarem seus talentos, se desenvolverem e trabalharem com qualidade e com bom desempenho, tendo uma remuneração adequada a suas entregas,” explica Edna Bedani, professora da área de liderança e carreira da ESPM.
As transformações no mundo corporativo dos últimos anos, com a revolução digital ocorrendo quase em paralelo ao enfrentamento da pandemia, obrigaram a mudanças radicais nas relações profissionais com a chegada do home office e, em seguida, do trabalho híbrido. Edna situa que em todo tipo de empresas, as mudanças potencializaram a competitividade e, consequentemente, a pressão por entregas e resultados para efetivos, com o menor custo possível. “Vivemos há algum tempo mudanças exponenciais no mundo em todos os sentidos e a pandemia potencializou o volume e a velocidade das mudanças, principalmente no mundo dos negócios e do trabalho. Para isso, precisam ter pessoas talentosas e engajadas com o propósito e desafios da empresa. As empresas precisam ter um modelo de gestão estratégica de pessoas focado na jornada dos empregados com qualidade e respeito, oferecendo valorização e bem-estar ao trabalhador. Este é o caminho para estabelecer um contrato psicológico saudável e produtivo.”
A gestão da felicidade surge também como uma reação à síndrome de Burnout ou síndrome do Esgotamento Profissional, um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade. A principal causa da doença é justamente o excesso de trabalho. Nos últimos anos, vêm crescendo os casos de Burnout entre profissionais das mais diversas áreas.
Pode-se classificar a gestão da felicidade como uma política de ESG, ou seja, parte de um conjunto de padrões e boas práticas que visa a definir se uma empresa é socialmente consciente, sustentável e corretamente gerenciada.
A sigla, em inglês, reúne os três pilares desse movimento: Environmental (meio ambiente); Social; e Governance (Governança). Eles são utilizados como critérios para entender se uma empresa possui sustentabilidade empresarial, ampliando a perspectiva de análise do negócio para além das métricas financeiras. “Podemos considerar que (o novo conceito) se encaixa na gestão ESG quando consideramos que pessoas respeitadas e valorizadas trabalharão com qualidade e oferecerão às empresas parcerias para entregar produtos com qualidade, com cuidado e sem impacto ambiental, com respeito a pessoas e comunidades internas e externas, respeitando e zelando pela governança corporativa, para não colocar em risco as regras e a reputação da empresa”, diz Edna.
Diretoria da felicidade
O Grupo Heineken, desde meados de 2022, tem avaliado a felicidade de seus funcionários. Recentemente, a cervejaria criou a diretoria de felicidade, área responsável por acompanhar e agir para aumentar o sentimento de bem-estar de seus 14 mil colaboradores espalhados pelo Brasil. A iniciativa representa um novo pilar estratégico da companhia para sustentar o crescimento previsto nos próximos anos, em linha com os investimentos recém-anunciados no país.
Responsável por trazer essa agenda para o centro do negócio, Mauricio Giamellaro, presidente do Grupo Heineken, explica que a nova diretoria consolida os aprendizados de uma jornada que começou há cerca de um ano com o objetivo de entender como a empresa poderia cuidar do colaborador de forma integral, passando pelos sentimentos e emoções com o que acontece dentro e fora do trabalho. “Após uma fase importante de aprimoramento, conseguimos disseminar a jornada da felicidade para 100% da nossa empresa, principalmente para nossa liderança. Esse pilar está totalmente alinhado à nossa cultura de respeito e cuidado, começando pelas nossas pessoas, que são as responsáveis por construir a história da Heineken no presente e no futuro. Acreditamos que gente feliz brinda mais e é isso que nos motiva a trabalhar por um ambiente cada vez melhor e mais saudável para o nosso time”, destaca.
A diretoria de felicidade do Grupo Heineken é formada por profissionais de recursos humanos e de Saúde, como psicólogos e médicos que visam ao cuidado tanto de saúde física como mental. “Para as pessoas estarem bem no trabalho precisam se sentir bem com a vida para além dele, e vice-versa. A jornada da felicidade é sempre individual, mas o entorno pode, sim, fazer uma grande diferença. Estamos engajados em inspirar uma vida melhor para as nossas pessoas e, consequentemente, para o nosso negócio”, complementa Raquel Zagui, vice-presidente de pessoas da cervejaria, que agora comanda a nova área.
Leia a matéria completa na edição do dia 24 de julho de 2023