A Propague foi fundada na década de 1960 em Santa Catarina, isto quer dizer que já nasci dentro da agência onde, sem nem me dar conta, fui apresentada à maior inspiração e paixão do meu trabalho: a arte. Enquanto esperava meu pai depois da escola para ir almoçar em casa, corria até a criação para bisbilhotar as gavetas mais fantásticas da face da Terra. Embaixo da mesa de luz, tudo era dividido e organizado: cartolinas e papéis coloridos, canetinhas com pontas grossas, finas, decalque de letras, réguas, cola, tinta, a Disneylândia para uma criança de seis anos.

Naquela época ainda não tínhamos computadores. Meu avô, toda vez que ia na criação, falava para o meu pai: abre o olho com aqueles meninos, eles passam o dia vendo livros e revistas. Sempre amamos livros de arte, mas, naquela época, eram nos catálogos da Getty Images que os “meninos” ficavam procurando a foto certa para o layout, depois de ilustrá-los para mostrar ao cliente. Eram livros e livros de fotos, separados por temas.

Falando em fotografias, as que eu via penduradas no varal do quarto escuro eram mágicas pra mim: a luz vermelha, a revelação naquelas bandejas, sem falar que, sem dúvida, era o melhor e mais emocionante esconderijo para uma criança. Lembro-me do Peixoto (nosso diretor de arte) na mesa de desenho, ilustrando os layouts, onde sempre, com paciência e muito carinho, dividia cartolinas, lápis, canetas e compassos comigo. Acho que, muitas vezes, para se livrar e conseguir trabalhar, me dava vários presentes e eu saía de lá feliz da vida.

Aqui, sem dúvida, sempre foi um lugar de inspiração. O que não descobri na agência foi pacientemente me ensinado em casa. Minha mãe sempre teve alma de artista, talentosa, criativa, livre de “pré” conceitos. As aulas de pinturas, os amigos artistas e as obras dos artistas catarinenses que tínhamos nas paredes de casa. Rodrigo e Martinho de Haro, Eli Heil, Juarez Machado, Mayer Filho, Elke Hering e  Vera Sabino, entre outros, sempre foram ressaltados e admirados.

Na adolescência, começamos a viajar para a Europa. Meus pais sempre acharam importante nos mostrar o mundo. Nós aprendíamos juntos as histórias, os artistas, as guerras. Era só chegar em um museu que meu pai tirava um Guia Michelin do bolso e nos contava tudo o que veríamos ali, antes mesmo de entrarmos. Tinham dias que eu e minha irmã ficávamos pensando em como sumir com aquele guia, porque eram tantos museus e igrejas por dia que ficávamos exaustas, afinal éramos duas adolescentes.

Patrícia Gomes: arte criativa (Divulgação)

Quando tive de decidir minha faculdade, queria vir para SP fazer publicidade. Ao falar para o meu pai sobre a minha ideia com a certeza de total apoio, recebi um sonoro NÃO! E a resposta: minha filha, criatividade a gente tem ou a gente não tem, é um dom. Já gestão conseguimos aprender, para ter uma agência é sem dúvida o mais importante. Depois disso, alguns anos depois, me formei em administração na UFSC.

Mas a arte sempre fez parte do que me completa. Fiz cursos de desenho, de pintura, de história da moda, história da arte e de artes contemporâneas para mídias digitais. Em escolas como a Panamericana e a EBAC. Hoje viajo para conhecer projetos, instalações, museus e artistas. Na quarentena, minhas pesquisas na arte digital me mostraram uma nova oportunidade para eventos digitais. No trabalho, arte é o início de todas as pesquisas, amamos uma instalação de marca, uma imersão que faça a comunicação ser sentida, absorvida, tocada. Acreditamos que são estas experiências que marcam. E quanto mais talentos envolverem, quanto mais colaborativo for, melhor fica. Estamos em uma nova era, onde as pessoas não querem mais propaganda, querem empresas que tenham propósito, sentido e também produtos.

Gosto de dizer que seguimos a filosofia da escola Bauhaus, aqueles sonhadores que colocaram arte, design e beleza em tudo, pois não existiam barreiras nas diferentes formas de expressão artística. Agora, com a tecnologia, abrimos um portal para novas e incríveis experiências, que podemos usar no digital ou no presencial.

E para fechar, leve os seus filhos a museus. A linguagem da arte é reflexo da sociedade e inspiração infinita através de pessoas geniais.

* Patricia Costa é sócia e diretora da Propague