Já andamos mais perto do fogo. O fogo mudou para melhor a vida dos humanos, há mais de um milhão de anos, e o chamado “controle do fogo” nos colocou muitos passos adiante na escala evolutiva. O mesmo fogo que antes apenas destruía e assustava passou a ser “dominado”: passou a esquentar, cozinhar alimentos, iluminar o caminho ou o lar, espantar predadores. E também destruir. Os seres humanos aprenderam cedo a “técnica da queimada”: queimar grandes áreas de florestas densas e bosques impenetráveis para criar campos abertos onde pudessem caçar, por exemplo. Isso transformou a ecologia de diversas partes do mundo. No livro Sapiens, o escritor Yuval Noah Harari afirma que a terceira onda de extinção na Terra que a atividade industrial vem causando, se conecta com tempos bem anteriores à revolução industrial, quando o homo sapiens já era o recordista, entre todos os organismos, em levar espécies de plantas e animais importantes à extinção. “Temos a honra duvidosa de ser a espécie mais mortífera nos anais da biologia”, diz Harari, lembrando aos mais esquecidos o quanto erradicamos espécies de animais e plantas da terra, desde o início dos tempos.

Carregamos conosco a condecoração de assassinos em série da ecologia, mas imagino que, até certo momento na história, o ser humano não tinha consciência do que estava, de fato, fazendo. Sequer tinha a dimensão das consequências da destruição que promovia. Hoje, temos. Temos informações, imagens, estudos, medições e provas. E, curiosamente, seguimos resolvendo questões com queimadas e fazendo escolhas que lembram o tempo em que sabíamos muito pouco. Infelizmente o equilíbrio entre evolução/desenvolvimento X preservação/sustentabilidade incorporou aspectos políticos. No Brasil, hoje, e em diversos outros países, posicionar-se em favor da preservação do meio ambiente é também ser contra o desenvolvimento, ou o capitalismo. É defender ideias quase subversivas. Este me parece ser o verdadeiro desafio da humanidade. E Harari não é otimista: ele diz, no epílogo de seu livro, intitulado O animal que se tornou um Deus, que hoje os humanos parecem mais irresponsáveis do que nunca. E a irresponsabilidade está aí, escancarada, diariamente. De posse das informações e conhecendo as consequências, agimos, sem prestar contas a ninguém. Claro, não vamos viver para sempre. Que as próximas gerações se virem com as consequências dos nossos erros.

Acredito que o desafio evolutivo é encontrar, hoje, uma nova definição para aquilo que historicamente foi considerado “desenvolvimento”, “progresso” e “evolução”. Porque, dependendo daquilo que se considera desenvolvimento, há chance de um real equilíbrio com a ideia de preservação. Usar sem destruir. Entra aí o poder das grandes marcas, as que vão sobreviver aos homens que hoje cuidam delas. E dos profissionais de marketing, comunicação e branding cujo trabalho é, justamente, fortalecê-las e fazê-las sobreviver à passagem do tempo, eventualmente ressignificando e atualizando valores. Quantas marcas estão aí, hoje, que não só sobreviveram aos seus criadores, como têm a intenção de se manter fortes, na linha do tempo? Pensar pela perspectiva de quem não vai morrer, e sofrerá as consequências dos atos realizados hoje, daqui a 50 ou 100 anos, é um exercício fundamental. E que todas as empresas e marcas (e seres humanos, claro) devem fazer. Inspiro-me no Dia da Amazônia, na próxima quinta-feira (5) para pensar que ir, além de eventuais posicionamentos políticos, torna-se, cada vez mais, questão de sobrevivência. E imensa a oportunidade para marcas como a Natura, por exemplo, de espalhar ideias e valores sobre a importância do real equilíbrio entre desenvolvimento e preservação da nossa casa. Porque ele é possível. Mas colocá-lo em prática e defendê-lo é um ato de coragem. É se arriscar. No Brasil, é viver perto do fogo. Em tudo o que ele representa, simbolicamente, de purificador e regenerador.