Esse é um projeto de comunidades

É com uma equipe de apenas 21 pessoas e 32 milhões de usuários que a novata Bluesky atiça concorrentes já estabelecidos no mundo das redes sociais e a curiosidade das pessoas. Com abertura de Hugh Forrest, copresidente e diretor de programação do South by Southwest (SXSW), a sesão ‘The future of social with Jay Graber, Bluesky CEO’ foi mediada por Mike Masnick, fundador e editor do blog Techdirt, no Austin Convention Center, na tarde desta segunda (10), durante a 39ª edição do festival de inovação realizado entre os dias 7 e 15 de março, em Austin, no Texas (EUA).

Forrest define a Bluesky como um negócio que chegou para oxigenar o ambiente tóxico que tomou conta das plataformas. O sistema baseado em protocolos sociais descentralizados e em códigos abertos foram alguns dos diferenciais sublinhados por Jay, que começou a sua carreira como ativista digital. “Temos jornalistas, cientistas, desenvolvedores e pessoas interessadas em experimentar novas formas de conexão”, ressalta.

O desafio é construir a rede que as pessoas esperam e escalar o modelo. “Precisamos repensar o que estamos fazendo”, alerta Jay, a CEO da rede, que nasceu do Twitter, mas atua de forma independente. “Tudo mudou muito. Ainda bem que somos independentes”, comenta. Lançado em 2006, o Twitter foi comprado por Elon Musk, dono da Tesla, Starlink e SpaceX, em 2022 e renomeado para X no ano seguinte. O homem mais rico do mundo está cada vez mais embrenhado nas esferas de poder da Casa Branca.

Hugh Forrest, copresidente e diretor de programação do South by Southwest: ambiente tóxico (Reprodução)

“A nossa moderação ocorre em multicamadas, o que nos permite incorporar serviços desenvolvidos por comunidades. A nossa estratégia está voltada para que as pessoas continuem utilizando o app”, explica Jay. A Bluesky deve manter o uso de timelines e interfaces já criadas. A empresa se organiza também como uma corporação de utilidade pública. Além de lucro, a missão é abrir protocolos para conversas. “O protocolo aberto cria camadas que preservam componentes centrais, mas permitem mudanças conforme as preferências das pessoas”, garante Jay.

A executiva reconhece a dificuldade da migração para outra rede. “Você tem de recomeçar do zero, reconstruir sua base de seguidores, seu histórico de postagens, e uma nova identidade. Por que não recomeçar na Blue Sky”, sugere Jay.

A alternativa apresentada pela Blue Sky oferta uma experiência customizada, com dois feeds padrão, um para o algoritmo e outro cronológico, com um marketplace que traz mais de 50 mil campos para escolha. “Se você não vê o que quer, pode criar um campo. Pode manter o controle dos seus dados e seu nome de domínio”, explica Jay.

A preocupação com dados é latente. Jay ressalta a necessidade de transparência e responsabilidade. “O protocolo do app faz com que os dados fiquem públicos, mas realmente queremos respeitar como os usuários querem que seus dados sejam utilizados”, assegura.

Jay Graber, CEO da Bluesky: espaço customizado (Reprodução)

Manter o modelo de negócios alinhado aos interesses dos usuários é um dos princípios preservados para que o negócio tenha valor e atinja escala. Um serviço de assinatura deve ser lançado a fim de impulsionar crescimento e gerar valor. O desenvolvimento de serviços é outro pilar de expansão. Esse direcionamento reafirma a montagem de uma rede aberta, que caracteriza a Bluesky. “Na medida em que o ecossistema cresce, oferecemos vários serviços que as pessoas poderão utilizar”, observa Jay.

A Bluesky montou um espaço social personalizável. Se a pessoa não gosta, pode customizar com ferramentas elaboradas por desenvolvedores, e cada vez mais adaptáveis às necessidades de comunidades específicas. A empresa busca atender a todos, mas com interfaces abertas, permite que as pessoas achem soluções para seus desafios individuais. “Essa é a melhor maneira de promover inovação e é o tipo de concorrência que move o mercado. Estamos promovendo mudanças que outras empresas nunca fizeram”, pontua.

“Na história da tecnologia, há várias empresas que nasceram e morreram. Hoje, pessoas buscam alternativas a ambientes tóxicos, opções capazes de dar mais controle. Estamos promovendo um novo paradigma que dá para as pessoas a habilidade de implementar ideias antes inacessíveis. Quem já testou a Bluesky já percebeu isso”, afirma Jay.

Ela convida as pessoas a baixar o app, procurar campos de interesse e acessar a lista de contas recomendadas. Para desenvolvedores, a recomendação é criar algo, do serviço mais simples ao mais complexo. Entre comunidades, ela sugere interatividade e envolvimento. “Ajude a moldar a cultura postando ou elaborando um serviço de moderação”, acrescenta. Já os criadores de conteúdo devem começar publicando seus conteúdos e apostar em parcerias com o time da Bluesky. “Esse é um projeto de comunidades, que dá controle para as pessoas sobre as próprias experiências”, conclui.