Diversos veículos do estado precisaram se adaptar frente à tragédia

Jornais do Rio Grande do Sul precisaram se adaptar devido à maior enchente já registrada no estado. Os veículos ampliaram as coberturas, reforçaram as edições digitais e liberaram os paywalls.

A Associação Nacional de Jornais (AJN) relatou que diversos veículos do estado estão com dificuldades para impressão e entrega das versões físicas, como o Diário Popular, de Pelotas. "Não estamos imprimindo desde o dia 6, quando o parque gráfico da RBS foi obrigado a paralisar seus serviços", diz o diretor-executivo da empresa, Régis Martin Nogueira. "Temos muitas regiões alagadas aqui em Pelotas, na Zona Sul, em função da cheia da Lagoa dos Patos. A gente não teria acesso para fazer a entrega dos jornais", acrescenta.

O Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, relatou prejuízos, já que a central de impressão roda outros 25 periódicos da fronteira oeste, da zona sul e região central do estado. "Para imprimir jornais a outras cidades são necessários não só equipamentos e estrutura de funcionamento, mas também uma logística de entrega muito especial para garantir a colocação do jornal de manhã cedo nas respectivas cidades", explica Eladio Dios Vieira da Cunha, diretor do Jornal do Povo. O jornal continua a ser impresso com circulação normal até durarem os estoques de papel, chapas e tintas. "Estávamos ilhados até sexta-feira (10). Agora abriu uma rota para Porto Alegre, mas a viagem aumenta dos 196 quilômetros normais para 550 quilômetros", complementa o executivo.

A Gazeta do Sul, de Santa Cruz do Sul, por causa da geografia, encontrou um caminho alternativo. "Continuamos imprimindo o nosso diário e outros de cidades com acesso à nossa. Passamos ainda a imprimir, temporariamente, jornais que não estão conseguindo rodar na RBS, em Porto Alegre, como é o caso do Diário de Santa Maria", afirma André Luís Jungblut, diretor-presidente do jornal. A Gazeta do Sul vem sendo distribuída normalmente na cidade, mas encontra problemas para circulação no interior do município.

O grupo A Hora, de Lajeado, no Vale do Taquari, foi fortemente atingido pelas cheias. "Estamos há 15 dias sem imprimir o nosso diário, A Hora, que vai para 48 cidades do Vale do Taquari, e algumas até de fora dessa área, porque nós não temos possibilidade logística de entrega em mais de 50% dos locais", diz Adair Weiss, diretor-executivo da empresa. De acordo com o executivo, outra preocupação é com os colaboradores do jornal. "Nós temos o problema dos nossos entregadores, eles não podem entrar em ruas cheias de lama, é um perigo muito grande e, por isso, nós preferimos fazer a edição apenas online até o presente momento".

Enquanto a retomada da impressão e distribuição do jornal não é possível, o grupo A Hora tem fortalecido a programação da rádio (102.9) e do portal online, porém mesmo assim enfrenta dificuldades. "Nós ficamos 12 dias sem energia elétrica, funcionando com geradores próprios para manter a emissora de rádio no ar e nossas unidades produtivas para o portal", explica Weiss.

A redação do jornal também está se esforçando para manter a população informada. "Tivemos colegas que perderam suas casas, que dormiram na casa de amigos e abrigos. Em meio a tanto caos mantivemos a serenidade e prestamos todos os serviços possíveis. Em alguns momentos viramos uma extensão da defesa civil, pois nada pode ser mais importante para nós do que recuperar a vida e a esperança da nossa gente", lamenta o jornalista.

O Jornal do Comércio, em Porto Alegre, não teve as instalações inundadas e, por isso, conseguiu manter a circulação da edição impressa todos os dias. Paralelamente, foi montada uma força-tarefa entre as editorias para fazer a cobertura em tempo real para o portal, além da liberação do acesso a todos os conteúdos sobre as enchentes para não assinantes. "Com engajamento de toda redação – que assim como a população de Porto Alegre não está imune às adversidades dessa enchente histórica -, estamos conseguindo checar a veracidade de muitas informações que estão circulando, além de garantir prestação de serviço sobre o abastecimento de água, por exemplo, informação de utilidade pública e conteúdos mais aprofundados e analíticos", afirma Guilherme Kolling, editor-chefe do diário.

Na cidade de Porto Alegre, os jornais mais atingidos são Zero Hora e Correio do Povo, segundo a AJN. Os veículos tiveram os parques gráficos inundados e as redações precisaram evacuar. O Grupo Sinos, de Novo Hamburgo, está à disposição para imprimir exemplares de Zero Hora e do Pioneiro, de Caxias do Sul, enquanto o parque gráfico da RBS continuar fora de operação.