Uma das mais graves doenças que acometem a sociedade brasileira, de uma forma geral, é a mania, ou cultura, de tentar resolver tudo na Justiça. Conclusão, a Justiça não resolve absolutamente nada, mas encontra no acúmulo de demandas razões e motivos para justificar aumentos de quadros, criações de mais varas, contratações de mais funcionários, mais vagas para juízes e, acima de tudo, mais serviços para os milhões de advogados que inundam nosso país. Um país onde o principal tribunal da Justiça, além das supostas violações à Constituição, julga ladrões de galinha e briga de galo. E tem 1.261 funcionários, 396 estagiários, 959 terceirizados… 222 funcionários para cada um dos 11 ministros… E dentre os terceirizados, 85 secretárias, 85 bombeiros, 27 garçons, 58 motoristas…

Dizem que têm algumas coisas que só existem no Brasil, tipo jabuticaba, o que, claro, não é verdade. Existe jabuticaba em outros lugares… Mas, o surto de advogados que se abateu sobre a sociedade brasileira nos últimos 50 anos, essa é uma verdade absoluta e definitiva. Em nosso país existem 1.406 faculdades de direito. Na soma de todos os demais países do mundo, 1.200. O Brasil sozinho tem quase 20% a mais de faculdades de direito do que todo o restante do mundo somado! Caminhamos aceleradamente para o número de 1,2 milhão de advogados. Nenhum outro país chega próximo. E que projetados nos levarão a 2 milhões de advogados no ano de 2032. Assim, como os advogados têm de comer, passam o tempo estimulando todos a brigar na Justiça… Conclusão, a situação é tão dramática que vem constrangendo e incomodando os verdadeiros profissionais da Justiça. Um dos melhores piores exemplos do que acontece no Brasil, além da judicialização em quase tudo, especialmente na saúde, é no setor aéreo. É tão grotesca e pornográfica, que até a OAB Rio, constrangida, decidiu se mexer, caracterizar o problema, identificar as causas e tentar punir os irresponsáveis. De cada 100 voos, por exemplo, que neste momento, e enquanto você lê este comentário, cruzam os céus do Brasil, oito deles não terminam com o desembarque e turbinas apagadas. Seguem na Justiça! Esses são os dados oficiais da OAB Rio. E, claro, ações essas totalmente estimuladas por escritórios de advocacia que se especializaram em atiçar os consumidores contra as empresas aéreas. Os tais advogados e escritórios de portão de desembarque… Falando em nome das empresas, Eduardo Sanovicz, presidente da Abear – Associação Brasileira de Empresas Aéreas – detalhou o caos em que vivemos: “No Brasil, 85% dos voos saem no horário. Nos Estados Unidos, por exemplo, esse índice é de 82%. No entanto, e no Brasil, em 2018, foram ajuizados 64 mil processos contra as empresas aéreas. Em 2019, esse número superou os 110 mil. Já nos Estados Unidos, o número é 800 vezes menor que no Brasil…”. Conclusão, no Brasil, além de todos os desafios que as empresas aéreas enfrentam em todo o mundo, o que torna esse business o mais arriscado de todos, ainda temos o tóxico aditivo da judicialização.

E quem paga essa conta… Claro, os passageiros, já que não existe mágica na economia, nos negócios e na vida. A judicialização hoje é parte importante do preço das passagens em nosso país. E agora, então, com o retorno das empresas aéreas do território do low cost, as que cobram mais barato e na passagem só está incluída a viagem, tudo o mais tem de ser pago à parte – por isso, low cost –, milhares de novas ações na Justiça de pessoas indignadas porque tiveram de pagar pelas bagagens, comida, marcação de lugares e tudo o mais. Claro, insufladas por advogados que precisam descolar uma grana para o jantar… Quando tudo voltar à normalidade, quando os aviões retomarem os voos regulares, e superada a pandemia, restará o vírus da judicialização. Sem nenhuma vacina à vista. E assim seguimos nós, num processo simplesmente patético e absurdo, pagando os bilhetes mais caros do mundo, para garantir a janta dos 2 milhões de advogados que teremos em 2032…

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)