Kobe Bryant era um homem de negócios (Reprodução/ESPN)

Era próximo das 17 horas do domingo (26) quando recebi a mensagem: “você viu o Kobe? Não sei se é verdade, mas o UOL já confirmou”. Era meu irmão, que, assim como eu, acompanha atento a NBA desde a infância. Ele e toda uma multidão ao redor do globo estavam chocados com a precoce morte do eterno ala-armador dos Los Angeles Lakers, Kobe Bryant, aos 41 anos.

Mais do que seu inquestionável trabalho dentro de quadra, o atleta investiu em diferentes frentes de negócio e emprestou seu rosto para a publicidade. O astro mantinha contratos com Nike, Body Armor e Turkish Airlines. Para esta última empresa, inclusive, chegou a protagonizar uma série de filmes espirituosos ao lado do argentino Lionel Messi, em 2012. Ao longo de sua trajetória, Bryant recebeu patrocínio de Coca-Cola, Adidas, McDonald’s e Nutella.

Em 2003, após se envolver em um escândalo onde foi acusado de estupro – o processo terminou com um polêmico acordo entre as partes -, o jogador perdeu patrocínios e teve de reestruturar sua imagem diante dos parceiros e do público. Nesse contexto, criou o alter ego The Black Mamba para separar a vida dentro e fora das quadras. A medida é vista por alguns como uma criativa solução de gestão de crise.

Dez anos depois fundou, ao lado do empresário Jeff Stibel, a Bryant Stibel, um fundo de investimentos para empresas com foco em tecnologia, mídia e dados. A carteira de clientes da empresa acumula nomes como Dell, Alibaba e Epic Games, criadora do fenômeno Fortnite. Também investiu na Mamba Sports Academy, onde era proprietário de equipes poliesportivas e atuava como treinador do time de basquete.

Como se não bastasse marcar 81 pontos em apenas um jogo e anotar 60 em sua partida de despedida – aos 38 anos -, Bryant levou o Oscar de Melhor Curta por Dear Basketball, onde declara seu amor ao esporte. O filme foi uma realização da Granity Studios, empresa própria de criação de conteúdo multimídia. A companhia atua ainda na produção de programas de TV, rádio, podcasts e livros.

Para Ricardo Bulgarelli, comentarista dos canais ESPN, o que o tornava único era sua obsessão por ser o melhor em tudo que fazia. Segundo o jornalista, ele também soube trabalhar sua imagem. “Em 1996, Kobe chega à NBA e é o começo da internet, ele aproveita muito isso. […] Nesses 20 anos [de carreira] ele conseguiu utilizar as mídias sociais para lançamento de tênis, comerciais, tudo foi a favor dele.”

Até por isso, Bulgarelli destaca que a influência de Bryant para os atletas da NBA, e também da liga brasileira (NBB), ultrapassa o campo esportivo. “Hoje o cara assina um contrato com a Nike e tem a oportunidade de escolher um tênis. Pode jogar com o do Jordan, do Kevin Durant, do LeBron, mas escolhe o do Kobe porque tem ele como referência”, aponta.

Desde a notícia do acidente, fãs lançaram uma petição online para mudar o logotipo da NBA. A iniciativa já conta com mais de dois milhões de assinaturas. Atualmente, quem ilustra a marca da liga é o também ex-Lakers Jerry West, que atuou pela franquia entre os anos 1960 e 1970. Bulgarelli aponta que esta não é a primeira vez que se fala em mudanças no símbolo da liga.

“Tudo tem de modernizar. Os logos das equipes mudam com o passar dos anos, as franquias mudam de cidade, cor de uniforme, acontece, é um negócio. Sou a favor de botar o Kobe porque ele é de uma geração nova, que consome”, defende. Ainda que haja discordância por parte do público pelo fato de West estar vivo, Bulgarelli acredita que a liga vá prestar algum tipo de homenagem ao Mamba. “Pode ser uma logomarca para o jogo das estrelas, o troféu de MVP desta partida levar o nome dele, algo pode ser feito”, diz.

Além da legião de fãs e amigos, o atleta e empresário deixa a mulher, Vanessa, e três filhas. O acidente, que tirou a vida do dono das camisas 8 e 24 vitimou outras oito pessoas, incluindo sua filha Gianna Bryant.