Os últimos 60 anos representam um avanço histórico sem precedentes na igualdade entre homens e mulheres. Apesar das grandes diferenças que ainda persistem, ao considerar os séculos de sociedade patriarcal e de machismo sistêmico, as conquistas das mulheres em todas as esferas da sociedade são notáveis.

Em tempos de ampla discussão sobre diversidade e propósito das marcas, abre-se espaço para mais avanços e, principalmente, conscientização sobre a importância em eliminar diferenças que ainda existam, de forma a efetivamente promover o equilíbrio de direitos e papéis.

No mercado de trabalho a diferença de salário ainda é grande. Homens ainda ganham em média 20% a mais que mulheres, mas a diferença vem diminuindo nos últimos 7 anos, segundo dados do IBGE. Porém, com a crise provocada pela pandemia, estes ganhos podem ser perdidos, conforme estudo do FMI. As mulheres devem ser mais prejudicadas porque trabalham em setores – como varejo e turismo – que foram mais afetados pela prática de distanciamento social. Estão concentradas na informalidade, grupo mais afetado pela crise econômica atual.

Por outro lado, elas sustentam 45% dos lares brasileiros, número que aumenta a cada ano. Mulheres que são mães, esposas, donas de casa e profissionais, com 34% mais chances de terminar o ensino superior em comparação aos homens, segundo a ODCE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Outro cenário de ampla desigualdade é na liderança das empresas, onde as mulheres representam apenas 38% dos cargos gerenciais, segundo o IBGE, apesar do crescimento observado nos últimos 10 anos. Na P&G, parceira ABA, este percentual é diferente. Eleita uma das Mulheres Mais Poderosas do Brasil em 2019, Juliana Azevedo, presidente da Procter & Gamble Brasil, comentou à Forbes em entrevista que mais de 40% das mulheres estão do nível gerencial, uma das métricas de diversidade da empresa.

Sob o tema Mulheres à Frente da Inovação na Indústria e Varejo, no dia 01/07, participei de um webinar promovido pela Consumidor Moderno, juntamente com a Silvana Balbo, Diretora de Marketing do Carrefour Brasil e Diretora ABA, Patricia Pugas, Diretora Executiva de Gestão de Pessoas do Magazine Luiza (associadas ABA) e Melissa Lulio, Content Designer do Grupo Padrão.

Falamos sobre a atuação inovadora e estratégica das mulheres na gestão das grandes marcas, especialmente nesse momento desafiador. A complementaridade é essencial na condução de uma companhia. Ter visões distintas, independente do gênero, sobre um mesmo tema e situação, ajuda a encontrar caminhos que sejam mais sustentáveis no longo prazo. Na ocasião a Patricia Pugas complementou afirmando que uma boa liderança não tem a ver com gênero. Mulheres possuem características únicas, assim como os homens. Por isso, acima de tudo, uma equipe com diversidade é o que sempre traz os melhores resultados.

Por definição, a diversidade é ampla, indo muito além das discussões de gênero, condição socioeconômica ou etnia. Em 2018 a ABA, que tem como propósito a mobilização do marketing para transformar negócios e a sociedade, lançou no Brasil, de forma pioneira, o Guia para Representação Responsável de Gênero na Publicidade. Como extensão natural desse trabalho, pensando além do gênero para abranger todas as formas de diversidade, a Entidade lançou no mês maio deste ano o Guia para a Abordagem de um Profissional de Marketing para Diversidade e Inclusão. Ambos os guias estão disponíveis para download no portal da ABA.

Há de se comemorar a crescente quantidade de lideranças femininas nas empresas, mas é fundamental gerar impacto na sociedade com a discussão acerca da desigualdade, para que as próximas gerações de homens e mulheres vivam em uma sociedade mais justa, encontrem um ambiente corporativo mais produtivo e fiel às necessidades de consumidores e colaboradores.

Nelcina Tropardi é vice-presidente de Sustentabilidade e Assuntos Corporativos da Heineken e presidente da ABA