Vaga foi retirada dois dias após a publicação sob a alegação de ser 'discriminatória'

Plataforma onde companhias costumam divulgar as suas políticas de diversidade e os ganhos obtidos com times provenientes de diferentes contextos, o LinkedIn entrou no centro de uma polêmica desde que apagou um post de vaga que priorizava a contratação de negros e indígenas.

A postagem, publicada pelo Laut (Centro de Análise da Liberdade e Autoritarismo), tinha por objetivo divulgar uma posição de coordenação do setor administrativo e financeiro e fazia parte das ações afirmativas do centro de pesquisa. O post foi retirado dois dias após a publicação sob a alegação de ser 'discriminatório'.

Com a divulgação da história pela Folha de S.Paulo, o caso ganhou repercussão. Entre os profissionais do mercado, Ian Black, CEO da New Vegas, e Ken Fujioka, co-fundador e partner da Ada Strategy, puxaram o coro contra a plataforma.

“O LinkedIn é uma empresa que se posiciona institucionalmente CONTRA políticas afirmativas voltadas para grupos historicamente minorizados e oprimidos, como pessoas negras, trans ou indígena. Este é o post”, escreveu Black no próprio LinkedIn.

Fujioka lembrou que já teve post com vaga destinada a mulheres negras, pessoas trans ou outro grupo minorizado que, segundo ele, foi derrubado pela rede. E que, mesmo diante de episódios semelhantes já  avaliados pela justiça brasileira, a plataforma corporativa informou que esse tipo de postagem não era permitido.

“De nada adianta uma empresa dizer que é inclusiva e pela diversidade se, na hora do "vamos ver", age como alguém que não estudou nem entendeu nada sobre a necessidade de políticas afirmativas”, afirmou em post.

A polêmica foi reforçada com o pedido de explicação pelo Procon-SP nesta quarta (23). O órgão cobrou informações como a política de exclusão e a comunicação da plataforma com as empresas anunciantes.

Entidades e anunciantes pedem explicação
O LinkedIn, até o momento, não se pronunciou sobre o assunto.  Enquanto isso, o caso continua ganhando repercussão. Diversas entidades começaram a divulgar cartas cobrando um posicionamento da rede e adoção de medidas pró-diversidade – entre elas, a Iniciativa Empresarial pela Igualdade, o Observatório da Diversidade na Propaganda,  o Movimento Mulher 360, a Coalização Empresarial Para Equidade Racial e de Gênero, Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, Instituto Ethos e a Rede Empresarial de Inclusão Social.

O Observatório da Diversidade na Propaganda, por exemplo, afirmou que reconhece o racismo estrutural como processo histórico discriminatório e promove ações afirmativas para combatê-lo. “Deixamos o convite ao LinkedIn para também se posicionar aliado à Diversidade, Equidade e Inclusão e rever suas políticas anti-segregação na plataforma, bem como as práticas adequadas para implementá-las”, escreveu.

Entre as marcas, a Natura &Co assinou um documento  chamado  "Manifesto empresarial em defesa da ação afirmativa", material  que pede que a plataforma mude de maneira pública e urgente a sua política de publicações, de forma a garantir que as empresas possam desenvolver as suas ações afirmativas nos processos seletivos usando a plataforma. A própria anunciante já teve post de vagas com recorte de diversidade étnica derrubado pelo LinkedIn.  

O Movimento Mulher 360 lembrou que o LinkedIn deveria seguir as normas internacionais, como a Convenção 111 da OIT, citou em seu comunicado. "Não se trata, portanto, de uma questão local, onde a Constituição Brasileira e a legislação em geral garantem a realização de ações afirmativas, como o anúncio de vagas dirigidas a segmentos da população comprovadamente em situação de exclusão, desigualdades e desvantagens, como é o caso da população negra, pessoas com deficiência, mulheres, pessoas com mais de 45 anos, pessoas LGBTI+, indígenas, entre outras".