Luis Antonio Paulino, idealizador da implementação do primeiro Instituto Confúcio do Brasil, está na conexão Ásia desta semana

Idealizador da implementação do primeiro Instituto Confúcio do Brasil, inaugurado em 2008, o professor Luis Antonio Paulino foi pioneiro ao enxergar a dimensão estratégica que a China teria para o país no século 21. Hoje, à frente de uma rede presente em todo o território nacional, responsável pelo ensino da língua e divulgação da cultura chinesa, ele defende o estudo do mandarim como ferramenta essencial. E isso de forma acadêmica e profissional, especialmente para quem atua em um ambiente cada vez mais integrado ao eixo Brasil-China, como especialistas em propaganda e marketing.

O senhor está há muitos anos à frente do Instituto Confúcio na Unesp, criado por meio de um convênio entre a Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) e a Universidade de Hubei, com o apoio da Fundação de Educação Internacional Chinesa. Poderia contar um pouco da sua trajetória e o que o motivou a dedicar-se ao ensino da língua chinesa no Brasil?
Eu sou professor da Unesp há 20 anos. Leciono disciplinas de economia para os alunos do curso de relações internacionais no Campus de Marília. Também trabalhei no governo federal, no Ministério da Fazenda (2003), como assessor do ministro da Fazenda; na Presidência da República (2004-2005), como secretário-executivo do Ministério de Coordenação Política e Relações Institucionais; e no Ministério do Esporte (2012-2014), como chefe da assessoria do gabinete do ministro. Logo que cheguei à Unesp, em 2006, propus ao reitor à época, professor Marcos Macari, a criação do Instituto Confúcio na Unesp. O que me motivou à época a tomar essa iniciativa foi, além do fato de já ter relações com a China, em decorrência de ter visitado o país por ocasião da primeira visita do presidente Lula à China, em 2004, foi a percepção que eu tinha, já àquela época, da importância que a China teria para o mundo e o Brasil no século 21. Formar uma nova geração de acadêmicos e profissionais que conhecessem melhor a China, inclusive sua língua e cultura, sempre me pareceu uma necessidade estratégica para o nosso país.

Luis Antonio Paulino, idealizador da implementação do primeiro Instituto Confúcio do Brasil | Imagem: Divulgação

A unidade do Instituto Confúcio da Unesp foi a primeira do Brasil. Hoje, qual é o mapa de presença do Instituto no país e como funciona a articulação entre as diferentes unidades?
Hoje, existem 14 Institutos Confúcio funcionando no Brasil, todos em parceria com importantes universidades brasileiras e chinesas, em diferentes estados da Federação. Atualmente, temos Institutos Confúcio funcionando em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Brasília, Mato Grosso, Goiás, Bahia, Pernambuco, Ceará, Pará, Maranhão e Amazonas. A articulação entre eles se dá por meio da Rede Brasileira de Institutos Confúcio, criada no ano passado, cuja presidência, no período 2025/2026, está sendo exercida pelo Instituto Confúcio na Unesp.

Quantas pessoas já estudaram no Instituto Confúcio na Unesp desde a sua fundação?
Em nosso Instituto já registramos mais de 40 mil matriculados ao longo de todos os anos.

De que forma o Instituto Confúcio equilibra o ensino da língua, do básico ao avançado, com aspectos culturais, eventos e intercâmbios que promovem uma compreensão mais ampla da China?
Língua e cultura são duas faces da mesma moeda. Não há cultura sem comunicação e, portanto, sem a linguagem; a própria língua é a expressão máxima de qualquer cultura. Sem a língua, não existiriam a literatura, a poesia, o cinema, a publicidade e, obviamente, nem o Estado nacional, nem leis e instituições. Não há, portanto, como ensinar uma língua desconsiderando seu contexto cultural, tampouco compreender profundamente a cultura sem o conhecimento do principal veículo pelo qual ela se manifesta: a língua. Por essa razão, desde os níveis iniciais até os mais avançados, sempre procuramos situar o ensino da língua no contexto cultural mais amplo em que ela se insere.

Como você vê a importância do estudo do mandarim no atual cenário de negócios global, especialmente para profissionais de comunicação e inovação que atuam com mercados asiáticos?
Dada a crescente importância da China no mundo atual, compreender a língua chinesa deixou de ser, há muito tempo, mera curiosidade intelectual para se tornar uma necessidade estratégica de qualquer país. Como será possível para qualquer país do mundo, inclusive o Brasil, se relacionar com a segunda maior potência econômica do mundo, maior exportador mundial de manufaturas, maior importador mundial de commodities agrícolas e minerais, líder mundial na maioria das tecnologias relacionadas à Quarta Revolução Industrial, inclusive inteligência artificial, sem dispor de uma burocracia, de um corpo de líderes empresariais, jornalistas, comunicadores, pesquisadores e acadêmicos que tenham conhecimento da língua chinesa? No plano individual, qualquer profissional que deseje ter uma trajetória de sucesso em sua carreira deveria considerar seriamente a possibilidade de aprender a língua chinesa.

Leia a íntegra da matéria na edição impressa de 22 de dezembro.