E, por assim ser, foi anunciada a contagem regressiva, meses atrás, de uma brincadeira de gosto discutível, que causou tremendo frisson quando de seu lançamento, que formou fila nas primeiras semanas e morreu à mingua. No mês de novembro de 2016, uma notícia tomou conta de todos os editoriais de culinária no mundo.

Nascia na França, Paris, o O’Naturel – o primeiro restaurante do mundo onde os seus clientes só poderiam fazer suas refeições pelados. Isso mesmo, nus. Como assim, mostrando a bunda, balançando o pinto, chacoalhando os peitos? Perfeitamente! Passados os primeiros meses o negócio bombava… Mais nas redes sociais e na internet…

Do que na realidade. Muito rapidamente os frequentadores descobriam que não era tão fácil como imaginavam comer peladão. Que a bunda doía, que quando a comida caía no colo demandava um banho de emergência, sem contar outros detalhes e acontecimentos menos dignos e constrangedores… Para dar fim à bobagem, Mike e Stephane Saada deram um último jantar para os principais clientes. Antes da sobremesa todos se vestiram, e deram por encerrada a aventura. Devido a pedidos dos que gostariam de se despedir da maluquice, decidiram esticar a data de fechamento mais um mês. E, em fevereiro do ano passado, fim.

Meses depois, ao comentarem a decisão os dois disseram: “Vamos nos lembrar dos momentos bons, das pessoas incríveis e de tudo o que compartilharam conosco por muitos anos…”. E teremos ótimas e divertidas histórias para contar… como do dia que um homem desastrado derrubou o balde de gelo no colo de sua mulher… Ou da mulher que provocou queimadura de terceiro grau no pinto do seu vizinho de mesa ao lado ao derrubar a sopa de lentilhas… O ritual era o seguinte. As pessoas chegavam, tinham um armário com a chave para deixar as roupas, e recebiam exclusivamente para vestirem… Um par de chinelos; e ainda a temperatura do restaurante era rigorosamente controlada para que os clientes não sentissem frio. Se algum de vocês, queridos amigos, alimentou planos de dar um pulinho a Paris nos próximos meses, e pretendia experimentar o O’Naturel, esqueçam. Ele fechou no dia 28 de fevereiro do ano passado.

Uma refeição custava, em média, R$ 200 por pessoa.

Assim, vá a Paris e aproveite para ótimos queijos e vinhos, sentado nas mesinhas de um dos legendários e históricos bares e ou cafés. Como um Les Deux Magots, frequentado por Paul Verlaine, Gide, Simone de Beauvoir, Sartre, Picasso, Joyce, Brecht… Claro, com a vantagem de comer vestido. Não conheço forma melhor de comer que não seja de roupas. De preferência confortáveis, que nos permitam concentrar todo o tempo nos prazeres de uma refeição memorável. Definitivamente, comer pelado, talvez tirando Jane e Tarzan, e nudistas em geral, continua sendo um saco.

Assim e muitas vezes, mesmo negócios de nicho, por menos público que precisem, além da proposta principal, têm de corresponder em todas as demais expectativas que pessoas vestidas ou peladas têm, por exemplo, de e sobre restaurantes. E, aparentemente, o forte do O’Naturel era exclusivamente a possibilidade de comer-se sem roupa. O restaurante em termos de decoração era básico, e a comida convencional.

E aí vai-se uma vez, experimenta-se, e, não se retorna nunca mais. No marketing esse comportamento é classicamente conhecido como Síndrome da Experimentação.

Recorrentemente presente, e, grande preocupação, de todo novo produto por ocasião do lançamento. A curva ascendente e promissora do início das vendas, logo após o lançamento, é, na maioria das vezes e exclusivamente, de pessoas que estão experimentando. E, assim, quando o último experimentar… Fim. E foi o que ocorreu com o O’Naturel.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)