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Já ocorreu mais de uma vez. Em uma reunião, as pessoas começam a falar sobre tênis ou maratona e, quando conto que faço BMX, elas olham para mim com expressões de… “Whatafuck?”

Bom, a história começa nos anos 1980. Dos 11 aos 17 anos, fui piloto de BMX. O que começou como um passeio despretensioso acabou como algo quase profissional. Fui patrocinado pela Caloi – que chegou a pagar minha escola – e ao longo dos anos ganhei Campeonato Paulista, Copa Brasil e até o Campeonato Pan-Americano.

Mas o que isso tem a ver com propaganda? Marketing? Não era para ser um texto sobre inspiração?
Para início de conversa, tenho certeza de que, se não fosse o BMX, eu não teria conquistado o que tenho em propaganda. Para mim, o BMX foi uma base tão importante quantos os estudos. Uma universidade sobre objetivo, foco e esforço, e um MBA em coragem. (Talvez isso até explique por que um dia eu larguei um emprego confortável para abrir uma agência).

Há dois anos, mais de 25 anos após ter deixado as pistas, encontrei um amigo daquela época. Depois de todas as piadas sobre carecas e barrigas, ele me contou que continuava correndo até hoje, em uma categoria para veteranos acima de 40 anos. Minha primeira reação foi uma negativa, afinal 25 anos sem fazer nenhum esporte já seria um obstáculo maior do que qualquer um que eu pudesse encontrar em uma pista.
Mas o fato – para resumir a história – é que, um mês após esse encontro, eu já estava novamente em cima de uma bicicleta.

O BMX é um esporte olímpico de explosão em pistas de 400 metros com obstáculos e curvas. Largam oito pilotos em um gate eletrônico e a primeira reta é uma descida onde se pode atingir até 60 km/h. No meio dessa descida têm os obstáculos, os “doubles”, que são duas rampas grandes, uma de lançamento e outra de recepção: o ideal é que se pule de uma para a outra para manter e até aumentar a velocidade. A primeira curva é de asfalto, também para aumentar a velocidade. E a sequência são retas com outras variações de “doubles” e obstáculos como os “rollers”, sequência de rampas onde não se pedala e apenas se controla a bicicleta com os braços para passar com a roda de trás. Uma bateria de pista inteira dura mais ou menos 30 segundos.

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Assim como na propaganda, no BMX um dia você é o pombo e no outro a estátua. São muitas variáveis e só o que você realmente controla é o seu talento – alguém pode cair do seu lado, alguém pode cair na sua frente, ou não: tudo pode dar certo e aqueles seus 30 segundos serem um sucesso.

Desde que voltei a correr, minha relação com o trabalho mudou para muito melhor. Uma mudança que vai muito além da endorfina que entra no corpo e me faz produzir mais. Uma mudança psicológica. Quando você deposita todas as suas expectativas em uma única atividade, tende a valorizar em excesso tudo o que acontece nela. Mas se você também tem outra coisa à qual se dedica e é desafiado por ela, os sentimentos são melhor equilibrados e os desapontamentos diluídos.

Graças ao BMX, onde os outros veem obstáculos, eu vejo “doubles”: aqueles que você tem de pular de um para o outro tentando aumentar sua velocidade. Já fraturei duas costelas, duas clavículas, um ombro e um dedo da mão. Foram vários tombos, mas me recuperei de todos – coisa que ainda é difícil para muitos de meus colegas em propaganda.

De longe, é a coisa que mais me inspira hoje. E, por isso, termino esse texto com um convite a você: encontre o seu BMX. Pode ser qualquer coisa: um esporte que você já fez um dia, a banda que você já teve ou algo que você descubra agora. Não precisa ser o BMX, é claro. Embora eu tenha lá em casa um capacete sobrando.

Alexandre Peralta é fundador, sócio e diretor de criação da agência Peralta