Um simples “ok Google”, sem sequer tocar no teclado, em qualquer um de seus dispositivos conectados, já pode ser o suficiente para que a empresa de tecnologia americana comece a saber mais sobre você, suas predileções e comportamentos online. Para o marketing, o cenário dá margem a um rastreamento quase completo do consumidor, excetuando apenas o universo offline. Nos últimos dias, no entanto, uma matéria da Bloomberg revelou um suposto “acordo secreto” entre Google e Mastercard para rastrear também os pagamentos físicos realizados com cartão de crédito nos Estados Unidos.

A parceria seria atribuída a ferramenta “Store Sales Measurement”, que foi lançada em 2017. Na ocasião, por meio de um comunicado e sem nomear seus parceiros, o Google anunciou que o serviço tinha acesso a “70% de todas as transações com cartões de débito e crédito no país”.

Com o assunto ganhando os holofotes da mídia, volta à tona a discussão sobre a privacidade de dados das pessoas. Procurado para falar sobre a questão, o Google no Brasil reproduziu o posicionamento global, explicando que construiu uma nova tecnologia de criptografia que não permite que a empresa e os parceiros vejam as informações de identificação de um usuário. “Não temos acesso a nenhum dado pessoal de nossos parceiros de cartões de débito e crédito, e também não compartilhamos informações pessoais com nossos parceiros”, afirma o texto.

Já a Mastercard afirmou que a premissa do que foi relatado na Bloomberg é falsa e, que da maneira como a rede opera, não se permite conhecer os itens individuais que um consumidor compra em qualquer carrinho de compras, físico ou digital. “Nenhuma transação individual ou dados pessoais são fornecidos. Isso atende às expectativas de privacidade dos consumidores e comerciantes em todo o mundo. Ao processar uma transação, vemos o nome do varejista e o valor total da compra do consumidor, mas não temos acesso aos itens específicos que foram adquiridos”, afirmou a empresa, também por meio de um comunicado.

Insights para campanhas

A companhia também relatou como compartilha insights para que seus parceiros melhorem seu desempenho em termos de comunicação e vendas. “Nosso serviço de métricas de mídia fornece aos comerciantes e seus prestadores de serviços uma medida da eficácia das campanhas publicitárias. Os comerciantes nos dão informações sobre suas campanhas publicitárias, como as datas de início e término, e a Mastercard fornece a eles uma avaliação das tendências de gastos dentro daquele período”, afirma a operadora de crédito.

A empresa diz ainda que nesta troca de informações não há nenhum dado individualizado que possa ferir a privacidade de seus clientes. “Fornecemos aos comerciantes e seus provedores de serviços apenas as tendências baseadas em dados consolidados e anônimos, como o ticket médio e os volumes de vendas dos comerciantes. Não damos insights que rastreiem ou avaliem a eficácia do anúncio em relação a consumidores individuais”, complementa a companhia.

Análise de cenário

Na visão de Ariane Maia, diretora da A²BI, empresa de gestão e análise de dados, aparentemente as empresas não estão ferindo as regras do GDPR, a já famosa Lei Geral de Proteção de Dados. “Não vejo tais ações como uma forma de burlar ou ferir a GDPR. Com a análise apenas comportamental de consumo, e utilização genérica de dados, sem a identificação da pessoa, e o uso de seus dados pessoais, a ferramenta é válida”, argumenta.

Para ela, a repercussão em torno do assunto é algo natural dentro de um contexto que ainda deve e precisa evoluir na relação entre marcas e pessoas. “As grandes empresas largam na frente com novas ferramentas, mas o mercado como um todo começa a discutir mais a fundo a questão do uso de informações. Vamos começar a entrar em um entendimento melhor sobre a análise de dados. É um momento de adaptação. Tudo que aparece vamos nos questionar se está certo ou não, mas estamos no início de uma discussão”, finaliza.