No mês de janeiro, Ingvar Kamprad partiu. No ano em que eu nasci, 1943, Ingvar fundava a sua Ikea. Sueco, começou vendendo fósforos aos cinco anos de idade, aos dez era uma espécie de biciseller, visitando as casas de sua vizinhança, na sua pequena bicicleta, para vender o que quer que precisassem, desde decoração de Natal, passando por peixes, e, também, lápis, borrachas e cadernos, entre outros… Nas brisas da juventude flertou com o nazismo e se arrependeu amargamente: “O maior erro de toda a minha vida”. E onde foi buscar sua marca? Em quatro palavras: seu nome, I – Ingvar; sobrenome, K – Kamprad; pequena vila onde nasceu, E – Elmtaryd; e fazenda onde cresceu, A – Agunnaryd. Ikea!

Consciente da energia empreendedora de seu filho, o pai de Ingvar deu o dinheiro necessário e suficiente para uma primeira loja. Desde o início batizada de Ikea. Vendia pequenas peças para decoração: vasos, objetos, porta-retratos, porta-lápis… Em 1956, sua Ikea encorpa e Ingvar revoluciona: passa a vender móveis contemporâneos e despojados, que seus clientes – jovens de espírito – montavam em suas casas. Claro, por preços mais acessíveis. Homem duro, pegava pesado, respeitado como empresário inovador, mas detestado pelo gênio. Em 1973, não suportando mais as pressões e constrangimentos, muda a Ikea para Dinamarca.

Poucos anos antes de passar o comando de sua empresa para seu filho, Mathias, era assediado, algumas vezes a cada dia, por instituições financeiras que pretendiam tornar a Ikea uma empresa de capital aberto. Um dia, ele disse: “A partir de hoje não recebo mais ninguém. Esse tal de mercado de capitais não é uma opção para a Ikea. Minha visão e planos são sempre de longo prazo. Não quero ver a Ikea dependente do humor das instituições financeiras”. Quando se fala da tal de vida simples é sobre Ingvar que estamos nos referindo. Sempre trabalhou em ambiente compartilhado, não tinha nem mesmo uma mesa exclusivamente para ele, vestia-se de forma descontraída e simples, com roupas compradas em brechó, e dirigia um Volvo velho.

Hoje, a Ikea é uma rede de 300 lojas, em 49 países, com receita anual superior a 30 bilhões de euros, preparando-se para chegar ao Brasil, finalmente! Antes de morrer, no sábado, 27 de janeiro de 2018, Ingvar viu muito de seus ensinamentos serem disseminados pelo mundo e adotados por infinitas organizações:

1 – “Só os que estão dormindo é que não cometem erros”.

2 – “Gostaria muito de ter um espaço só para mim. Mas como não posso oferecer o mesmo para todos os meus funcionários vou trabalhar junto com eles até o fim”.

3 – “O que é bom para um cliente será bom para nós, ainda que no longo prazo”.

4 – “Errar é um privilégio das pessoas ativas e verdadeiras. Permanecer negando os erros, uma característica das pessoas medíocres e negativas”.

5 – “A palavra impossível está definitivamente excluída dos dicionários da Ikea”.

6 – “Dez minutos não se resumem a uma sexta parte do salário que as pessoas ganham por hora. São dez minutos seus que não devem ser desperdiçados em coisas sem sentido”.

7 – “Ganhei o suficiente para poder viajar sempre em primeira classe. Mas antes de me decidir sempre me pergunto se meus funcionários e todos os meus clientes poderiam se dar a esse luxo”.

8 – “Não existe uma liderança de qualidade se não é capaz de oferecer ótimos exemplos o tempo todo”.

9 – “Antes de tomar o veneno de sentir-me realizado recorro ao antídoto de como posso fazer melhor”.

10 – “Não tenho medo de chegar aos 80. Ainda tenho muito a fazer. Não tenho tempo para morrer agora”.

E assim foi. Despediu-se aos 91. Gênio.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)

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